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Lei dos Migrantes – A Corrida de Oklahoma 1889

Por: Júlio César Anjos 

Em 1845, os EUA tomam a fração de terra chamada Texas dos Mexicanos, criando uma nova área anexada ao país. Em 1860, estoura a guerra civil americana, entre o norte e o sul, havendo muitas baixas de homens neste conflito, enfraquecendo a defesa de fronteira nacional. Então, em 1889, para criar um ato forçoso de aumento populacional perto das fronteiras, a fim de evitar a perda do território para índios e Mexicanos, os reais donos do local – chegaram primeiro na região-, os EUA decide fazer algo excêntrico, inovador, chamado de: “Oklahoma Land Rush of 1889” (A corrida de posse de terras de Oklahoma de 1889). A medida deu tão certo que os EUA, no período entreguerras, “estendeu” o direito e fez da Califórnia o maior reduto do cinema, a região mais multicultural do mundo chamada Hollywood.

Só o fato de qualquer um poder correr no “Oklahoma Land Rush of 1889”, com exceção dos índios e dos Mexicanos, para integrar a região e fazer deste espaço uma limítrofe de defesa de fronteira, apenas isso já desmonta a tese de que a migração é ruim, seja ela nacional ou internacional (lembrando que nos EUA cada estado é considerado um país), pois, se [o migrante] é algo repulsivo, então o certo é devolver os EUA para os índios e o Texas para os Mexicanos. Esta estratégia de povoar a região para obter o controle do local é o tal conhecido e dito: “integra ou entrega”, pois, terra abandonada, à revelia, um dia será ocupada, seja na paz ou na guerra, por qualquer motivo que seja. Se o leitor não acredita nisso, saiba que se o Brasil não fizer integração na Amazônia, o país perderá essa terra logo-logo para qualquer força estranha que apareça. Então, quem é contra deve sair do conforto e ir para o mato mostrar toda a defesa de soberania nacional. Ou deve aceitar que migrantes virem cidadãos brasileiros e façam isso pelo país, antes que seja tarde demais.      

Entretanto, o ponto focal desta corrida maluca realizada em Oklahoma deriva de que qualquer um, qualquer um mesmo, podia correr nesta competição, vencer a corrida, e declarar-se dono da terra, podendo desfrutá-la da melhor maneira possível. Ou seja, africanos, chineses, Tchecos (ver fonte no fim do texto), irlandeses, entre outros, podiam correr, obter a terra e depois viver no novo país que deu direito a prosperarem.  Agora, imagina um Bolsonaro naquela época, por exemplo, babando de ódio no microfone, ao dizer que tal assertiva estaria a dar mais leis aos estrangeiros do que aos “cidadãos”, negando a realidade de que os cidadãos de hoje foram os migrantes de ontem.

Neste sentido, imagina se nesta época em que a corrida foi realizada tivesse um profeta do apocalipse que dissesse a todos que haveria um deslocamento de gente bandida do mundo para esta região, querendo impedir este aumento forçoso populacional estrategicamente desenhado pela inteligência americana, porque consideraria todo “forasteiro” vilão? Certamente os EUA não seriam a potência que são hoje. Os profetas do apocalipse ignoram as barreiras culturais, como língua, comida, adaptação, toda essa concepção que faz com que essa barreira evite que haja justamente essa migração desenfreada, quanto mais essa lógica de “todo migrante é bandido”, pois, como se sabe, o bandido é bandido por causa de facilidades, não quer ser vilão no matagal.

Diante disso, para visualizar esta ocasião específica há um filme que conta alegoricamente como foi essa corrida de Oklahoma, chamado: Um Sonho Distante, 1992 (Far and Away). O filme em si é bem ruim porque o roteiro é sofrível, embora Tom Cruise e Nicole Kidman conduzam bem a trama, pelo menos a película mostra dois jovens irlandeses migrantes que vão para os EUA para conseguirem um pedaço de terra, exatamente por saber da existência desta corrida de Oklahoma.  Existe também um vídeo no youtube (no fim do texto), em preto e branco, que mostra o pedaço deste acontecimento histórico que, além de ser uma curiosidade, é exemplo positivo que migração, seja ela nacional ou internacional, dá certo.

Por fim, a corrida de Oklahoma faz lembrar outro episódio curioso e engraçado em Curitiba. Certo tempo atrás havia um fazendeiro francês em Curitiba que tinha uma vaca chamada Cherry. Certo dia, essa vaca sumiu. O fazendeiro, coitado, que muito amava a vaquinha, saiu correndo por Curitiba toda atrás da tal da “Baca Cherry”. Baca Cherry, aqui, Baca Cherry acolá, a história pegou e hoje é o nome do bairro em que o francês morou chamado de Bacacheri – Bairro em que a vlogueira Kéfera Buchmann reside/residiu. A “corrida de Curitiba” do passado, similar a “corrida de Oklahoma”, fez a páscoa de Curitiba, ontem (16/04/17), ser festiva, com os parques da Polônia, Ucrânia e Itália cheia de pessoas alegres, comemorando a migração dos povos à cidade. Isso é a mostra material que migração é união de povos e não desunião, como querem os profetas da destruição.

Portanto, a migração não é uma ferramenta de vilania para que os maldosos do mundo utilizem como arma de terrorismo, como insinuam os “profetas do apocalipse”. A miscigenação tem a sua beleza de inclusão, em que é possível sim haver pequenas hostes de conciliação. Negar isso é negar o sucesso de Curitiba e todo o seu “multiculturalismo” de uma cultura só: a brasileira. E acreditar que mesmo com toda a gama de informação histórica, com tanto “case de sucesso”, ainda há pessoas que não querem a integração porque um louco do islã se explode como terrorista. É muita ignorância e preconceito em um baluarte xenófobo só. É triste o fato, mas para algumas cabeças fechadas, a Corrida de Oklahoma seria impensável nos dias atuais, pois algum xenófobo chauvinista anularia a lei de migração, como a sugerida no Brasil, pelo senador Aloysio Nunes. 



Obs: A extrema-direita continuará com o argumento de que todo migrante é vilão, usando só do sentimentalismo como embasamento crítico, para segregar ainda mais o país.

Obs2: Como eu disse em outro texto, a lei da migração não tem nada de impopular. Impopular é o preconceito do xenófobo chauvinista.

Fontes:



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Lei dos Migrantes – A Corrida de Oklahoma 1889 de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.



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