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Sobre a Manifestação 26 de Março de 2017

Por: Júlio César Anjos

Os movimentos de rua fizeram manifestações em várias cidades do Brasil, com diversas exigências até mesmo excêntricas, como, por exemplo, o pedido pelo fim do desarmamento. Pelas pautas ruins, algumas bandeiras chegam a ser até impopulares (Reforma da Previdência), dá até para dizer que a manifestação foi de certa forma um sucesso. Agora, o número reduzido de participantes também evidenciou outro resultado: A massa não irá ser manobrada como manada por qualquer tipo de pauta, como se o povo aceitasse tudo de prontidão. Essa é a principal lição desta manifestação anêmica ocorrida neste domingo, dia 26 de março de 2017.

Muita gente irá dizer que as manifestações foram um fracasso, diante do número reduzido de pessoas nas manifestações. Até a paulista hoje “decepcionou”.  O fato é que, pela quantidade, o protesto não convenceu. Mas essa manifestação é só um ensaio que poderá gerar outras grandes manifestações, pelo “efeito Doppler dos protestos” [artigo já escrito neste blog sobre tal fenomenologia], em que criará outra instabilidade por meio de reivindicação, diante comoção social. Então, pelo empirismo histórico, por ser a primeira manifestação em que o PT está fora do poder, esse protesto até que foi bem sucedido.  

Agora, se o político canalha até fricciona as mãos diante deste pseudo “fracasso” desta manifestação, achando que segunda-feira vai fazer o que quiser para se salvar, tal corrupto pode tirar o cavalinho da chuva, pois é justamente ao contrário, mesmo com pautas péssimas, e fazendo comparação de outros protestos vermelhos de adversários políticos, houve uma manifestação maior hoje do que aquelas pagas com pão com mortadela. Essa minoria que fez a manifestação é a voz rouca da maioria silenciosa, que pode até não ter ido para o protesto, mas delega a esses players o direito de lutar pelo povo. Para o leitor ter uma ideia, Isso [direito de lutar pelo povo] era o que o sindicato tinha antigamente como poder de engajamento, força política que os pelegos do PT não possuem mais [por enquanto]. Portanto, por causa de hoje, a operação lava-jato está assegurada e até defendida por “todo mundo”.

Diante disso, a observação salutar vem sob a perspectiva da ausência de uma parcela significativa da classe média socialdemocrata. Como o PSDB não pôde – e não quis – participar desta manifestação, a redução do protesto se fez visível, o que mostra que as pesquisas estão certas, mesmo colocando o Lula no topo, pois Alckmin, Serra, e Aécio sempre orbitam com 10% de largada em pesquisa eleitoral, historicamente, o que mostra que esses 10% seja da classe social e da bandeira política socialdemocrata – e não do político até mesmo impopular em questão. E esse povo fez falta na manifestação de hoje. Essa multidão, também, pelo empirismo, é maior que a direita xucra e liberal somados. A única diferença é que é uma parcela significativa de eleitorado chamada “maioria silenciosa”. A ausência deste grupo político foi sentido pelos números da manifestação. Mas é uma parcela que também é favorável à Lava-Jato. Por causa daquilo que não se vê, diante maioria silenciosa, é muito provável que o prefeito Dória venha a ser presidente.

Outra curiosidade, além desse racha de subdivisão entre aliados políticos, a estranheza se dá pelo menino maluquinho de 40 anos, Rogerio Chequer, do movimento Vem Pra Rua, que enfim descobriu tardiamente o romantismo da esquerda, ao mostrar-se cada vez mais embebecido pela REDE e pelo PSOL.  Não obstante, é só ver a falta de pauta específica de seu grupo de pressão, além dos seus discursos enviesados, que fazem do cineasta Padilha ficar até mesmo choroso de tanta emoção. Quando Reinaldo Azevedo denuncia que a direita xucra está dando poder para a volta da esquerda, é isso que o colunista da Veja quer dizer. É bem provável que a direita esteja perdendo o Vem pra Rua, se é que já foi da direita algum dia, por causa das mudanças esquisitas de comportamento e de interação. É bem provável que isso fortaleça o PT.

No mais, foi estranho também não haver um “fora Temer”, pois tal reivindicação é natural, e haver muito “fora Aécio”, sendo que o líder tucano nem possui cargo executivo. Além, é claro, de silêncio sepulcral contra o oligopólio da carne, em que ninguém entendeu direito como que o povo não protestou de forma espontânea sobre isso. Entretanto, tudo isso será cobrado lá na frente, na eleição, quando os players tiverem que se explicar sobre tal condição. No momento, só resta observar e anotar a malandragem de grupo de pressão. Diante todos os cenários, os tucanos saíram, mais uma vez, pela narrativa histórica, fortalecidos e vencedores desta manifestação “fracassada” e sem profusão.

E, por fim, a mídia gostou desta manifestação e até está superestimando os números, pois a elite política do lado de lá entende que dá para sequestrar esse movimento e ainda tornar Lula presidente em 2018. Ou os leitores não estranharam que repentinamente a mídia se interessou pelas manifestações “coxinhas”? Vale lembrar e salientar para que fique claro que, mais uma vez, Reinaldo Azevedo tem razão.    

 Portanto, essa manifestação não foi fracassada no sentido estrito, embora tal engajamento deixou a desejar no sentido amplo, ao menos o instrumento pode servir de solavanco de efeito Doppler para outras manifestações. Com as pautas até mesmo impopulares, pela conjuntura atual do país, a quantidade de pessoas nas ruas até que foi aceitável. A única disparidade foi a ausência da classe média socialdemocrata. Rogério Chequer mostrou-se um psolista voraz; e o “Fora Temer” e “Fora Friboi”, pautas espontâneas ausentes nas manifestações, deixou a maioria silenciosa com a pulga atrás da orelha. A mídia, também, começou a gostar, superestimar e divulgar as manifestações coxinhas, pois a estratégia do lado de lá, embora difícil, é palatável e bem real. E Que venha 2018 para que as discussões sejam postas à mesa e que os contraditórios sejam explicados porque tem gente que tem que se explicar. A conclusão é que foi o protesto mais ridículo de todos, infelizmente.  

   

Efeito Doppler dos Protestos:
http://efeitoorloff.blogspot.com.br/2015/11/o-efeito-doppler-dos-protestos.html


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Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.



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