Por: Júlio César Anjos
Os
movimentos de rua fizeram manifestações em várias cidades do Brasil, com
diversas exigências até mesmo excêntricas, como, por exemplo, o pedido pelo fim
do desarmamento. Pelas pautas ruins, algumas bandeiras chegam a ser até
impopulares (Reforma da Previdência), dá até para dizer que a manifestação foi de
certa forma um sucesso. Agora, o número reduzido de participantes também evidenciou
outro resultado: A massa não irá ser manobrada como manada por qualquer tipo de
pauta, como se o povo aceitasse tudo de prontidão. Essa é a principal lição
desta manifestação anêmica ocorrida neste domingo, dia 26 de março de 2017.
Muita
gente irá dizer que as manifestações foram um fracasso, diante do número
reduzido de pessoas nas manifestações. Até a paulista hoje “decepcionou”. O fato é que, pela quantidade, o protesto não
convenceu. Mas essa manifestação é só um ensaio que poderá gerar outras grandes
manifestações, pelo “efeito Doppler dos protestos” [artigo já escrito neste
blog sobre tal fenomenologia], em que criará outra instabilidade por meio de reivindicação,
diante comoção social. Então, pelo empirismo histórico, por ser a primeira
manifestação em que o PT está fora do poder, esse protesto até que foi bem
sucedido.
Agora, se
o político canalha até fricciona as mãos diante deste pseudo “fracasso” desta
manifestação, achando que segunda-feira vai fazer o que quiser para se salvar, tal corrupto pode tirar o cavalinho da chuva, pois é justamente ao contrário, mesmo com
pautas péssimas, e fazendo comparação de outros protestos vermelhos de adversários políticos, houve uma
manifestação maior hoje do que aquelas pagas com pão com mortadela. Essa
minoria que fez a manifestação é a voz rouca da maioria silenciosa, que pode
até não ter ido para o protesto, mas delega a esses players o direito de lutar
pelo povo. Para o leitor ter uma ideia, Isso [direito de lutar pelo povo] era o que o sindicato tinha
antigamente como poder de engajamento, força política que os pelegos do PT não
possuem mais [por enquanto]. Portanto, por causa de hoje, a operação lava-jato
está assegurada e até defendida por “todo mundo”.
Diante disso, a observação salutar vem sob a perspectiva da ausência de uma parcela significativa da classe média socialdemocrata.
Como o PSDB não pôde – e não quis – participar desta manifestação, a redução do
protesto se fez visível, o que mostra que as pesquisas estão certas, mesmo
colocando o Lula no topo, pois Alckmin, Serra, e Aécio sempre orbitam com 10%
de largada em pesquisa eleitoral, historicamente, o que mostra que esses 10% seja da classe
social e da bandeira política socialdemocrata – e não do político até mesmo
impopular em questão. E esse povo fez falta na manifestação de hoje. Essa
multidão, também, pelo empirismo, é maior que a direita xucra e liberal
somados. A única diferença é que é uma parcela significativa de eleitorado
chamada “maioria silenciosa”. A ausência deste grupo político foi sentido pelos
números da manifestação. Mas é uma parcela que também é favorável à Lava-Jato.
Por causa daquilo que não se vê, diante maioria silenciosa, é muito provável que o prefeito Dória venha a
ser presidente.
Outra
curiosidade, além desse racha de subdivisão entre aliados políticos, a estranheza se dá pelo
menino maluquinho de 40 anos, Rogerio Chequer, do movimento Vem Pra Rua, que enfim
descobriu tardiamente o romantismo da esquerda, ao mostrar-se cada vez mais
embebecido pela REDE e pelo PSOL. Não
obstante, é só ver a falta de pauta específica de seu grupo de pressão, além
dos seus discursos enviesados, que fazem do cineasta Padilha ficar até mesmo choroso
de tanta emoção. Quando Reinaldo Azevedo denuncia que a direita xucra está
dando poder para a volta da esquerda, é isso que o colunista da Veja quer
dizer. É bem provável que a direita esteja perdendo o Vem pra Rua, se é que já
foi da direita algum dia, por causa das mudanças esquisitas de comportamento e
de interação. É bem provável que isso fortaleça o PT.
No
mais, foi estranho também não haver um “fora Temer”, pois tal reivindicação é
natural, e haver muito “fora Aécio”, sendo que o líder tucano nem possui cargo
executivo. Além, é claro, de silêncio sepulcral contra o oligopólio da carne,
em que ninguém entendeu direito como que o povo não protestou de forma
espontânea sobre isso. Entretanto, tudo isso será cobrado lá na frente, na
eleição, quando os players tiverem que se explicar sobre tal condição. No
momento, só resta observar e anotar a malandragem de grupo de pressão. Diante
todos os cenários, os tucanos saíram, mais uma vez, pela narrativa histórica, fortalecidos
e vencedores desta manifestação “fracassada” e sem profusão.
E,
por fim, a mídia gostou desta manifestação e até está superestimando os
números, pois a elite política do lado de lá entende que dá para sequestrar
esse movimento e ainda tornar Lula presidente em 2018. Ou os leitores não
estranharam que repentinamente a mídia se interessou pelas manifestações “coxinhas”?
Vale lembrar e salientar para que fique claro que, mais uma vez, Reinaldo Azevedo
tem razão.
Portanto, essa manifestação não foi fracassada
no sentido estrito, embora tal engajamento deixou a desejar no sentido amplo,
ao menos o instrumento pode servir de solavanco de efeito Doppler para outras
manifestações. Com as pautas até mesmo impopulares, pela conjuntura atual do
país, a quantidade de pessoas nas ruas até que foi aceitável. A única
disparidade foi a ausência da classe média socialdemocrata. Rogério Chequer
mostrou-se um psolista voraz; e o “Fora Temer” e “Fora Friboi”, pautas
espontâneas ausentes nas manifestações, deixou a maioria silenciosa com a pulga
atrás da orelha. A mídia, também, começou a gostar, superestimar e divulgar as
manifestações coxinhas, pois a estratégia do lado de lá, embora difícil, é palatável
e bem real. E Que venha 2018 para que as discussões sejam postas à mesa e que
os contraditórios sejam explicados porque tem gente que tem que se explicar. A
conclusão é que foi o protesto mais ridículo de todos, infelizmente.
Efeito Doppler dos Protestos:
http://efeitoorloff.blogspot.com.br/2015/11/o-efeito-doppler-dos-protestos.html
Sobre a Manifestação 26 de Março de 2017 de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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