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Classe Média Extremista: Em Busca do Mito Perfeito

Por: Júlio César Anjos

Lênin já evidenciara que os capitalistas venderiam a corda que seria usada para enfocá-los, mostrando o desarranjo de valores utilitaristas e morais em uma mesma concepção da classe social. Então, não há como esperar lógica diante os sentimentos de uma casta em questão, mesmo que tal medida seja insana, diante o devaneio do imaginário sobrepor ao que é considerado normal. Como existem essas distorções, e em tudo na política há radicalismo, eis que surge até mesmo a classe média extremista, que, não obstante, vive em busca do político ideal, em busca do “Mito” perfeito. Porque o Bolsonaro é o Efeito Orloff do Lula, com as situações históricas similares e síntese política até mesmo igual.

O Lula da USP era o bom selvagem de Rousseau. Era o homem que viria de baixo e tenderia a subir, para lá em cima subir quem estaria embaixo, então, assim, melhoraria o país pelo delírio tupiniquim. Só que havia um problema difícil de resolver: O Lula não se modificava de jeito nenhum. O Lula brucutu, comunista barbudo, sindicalista voraz, que fazia da preguiça um culto, deixando até Bertrand Russel com inveja com seu Magnum opus chamado “Elogio ao ócio”, não era um produto político, portanto, não ganhava eleição. Mas a classe média extremista tinha uma solução: Modificar o Lula de forma física e também psíquica, desde a filosofia até a moral. A partir do momento em que o Lula começou a medir as palavras, a vestir ternos de marca chique, usar loção de boa essência, tornando-se um homem sério e respeitável neste meio social, essa modificação física foi a primeira quebra de paradigma, em que também fez modificação filosófica, que abriu caminho para o comandante do PT obter o poder sem igual. Essa mudança física e comportamento mostrou que Lula estava suscetível também a ser até corrupto, por causa do poder total – picada de mosca azul.

Já o Bolsonaro é apoiado pela classe média extremista que acredita que a ditadura militar foi uma época boa, uma espécie de eldorado vivido e que deve ser resgatado. É o romantismo do passado que não existiu, a não ser no imaginário deste povo que hoje é até mesmo hostil. Então, Bolsonaro é o símbolo da reminiscência desta parcela da elite que outrora foi Lulista, do bom selvagem do Rousseau, mas que agora migrou para o Bolsonaro, ou bolsomito como dizem entusiastas [Lembrando que Lula, na época do falecido Orkut, também era considerado mito pelos jovens, o mesmo acontecendo hoje com o Bolsonaro, na era Instagram]. E a mesma coisa que aconteceu com o Lula, essa classe quer modificar desde já Bolsonaro para que não fale mais bobagens, se porte de maneira diferente, que não mostre a convicção, tendo que se modular de tal maneira que engane a parcela que não o vota, para manobrar politicamente e conseguir ganhar eleição. E parece que Bolsonaro quer fazer essa mudança, disfarçando-se como político ensaboado que finge estar em cima do muro em algumas indagações, pois quer vencer eleição. Bolsonaro passa do político extremista/radical para o candidato centralizado e criado por marketing. É a história se repetindo a olhos vistos. É um museu de grandes novidades.

Essa estratégia deriva de uma lógica simples: se tal político convicto, que agrada a classe radical, aceita ser modificado, tanto no aspecto físico quanto no comportamental, tal indício deflagra da possibilidade que este político venha a ser corrupto no futuro, pelas evidencias lógicas. Bolsonaro pode ser que até não seja corrupto hoje, mas ao modificar-se de forma total para ascender na política, tal assertiva sujeita a um indício de que possa até mesmo fraquejar ao querer saciar o poder. Bolsonaro, assim como fez o Lula, estaria disposto sacrificar sua convicção de vida em troca da cadeira presidencial? Fica a indagação no ar.

Os dois “mitos” também possuem algo semelhante em tática eleitoral: os dois usam da máxima Goldstein, de George Orwell. O Goldstein, no livro 1984, era um trânsfuga que estava maquinando para dar um golpe na Oceania, portanto era um supervilão. Na verdade esse tal de Goldstein era um vilão fictício, criado pela própria Oceania, para gerar medo nas pessoas, em que, pela ameaça, elas teriam mais patriotismo, ficando do lado do governo e tendo ódio do Goldstein. No caso do Lula, o vilão é o estrangeiro que quer roubar o petróleo. Então, a “Petrobrás é nossa!”. E o Bolsonaro, cria do Enéas, faz essa alegoria com o Nióbio e com o Grafeno, dando a entender que o estrangeiro está a roubar riquezas do país. Portanto, só os heróis, Lula e Bolsonaro, servem para salvar o Brasil do terrível ladrão estrangeiro, assim como só o governo da Oceania poderia salvar o seu povo do terrível Goldstein.  

Contudo, a classe media socialdemocrata é evolucionista, é felizmente maioria, e não cai no bojo da solução mágica, como se as coisas fossem fáceis, pois é uma classe instruída e trabalhadora que não cai em feitiçaria política que cria alegoria do herói-vilão. É por causa desta classe que Lula e Bolsonaro não possuem, ainda que “carismáticos”, aprovação geral da classe média, perdendo conceito de aceitação, com a Chauí também sempre dizendo: “eu odeio a classe média”. A Chauí odeia a classe média socialdemocrata evolucionista, que é maioria, pois a classe média extremista, que fabrica de forma xucra heróis à revelia, essa é até aceita no meio social de tais extremistas, tanto da direita quanto da esquerda.  É por isso que as manifestações do dia 26/03/2017 estavam vazias, pois só tinha na rua a extrema direita radical que fabrica herói à revelia.

 Portanto, a classe média extremista está em busca do Mito Perfeito. Ontem, fizeram do Lula “guerreiro do povo brasileiro” e deu no que deu. Hoje, querem fazer do Bolsonaro o “Bolsomito” como solução. A partir da concepção, os dois “carismáticos” usam da mesma tática “Goldstein” (estrangeiro quer roubar a riqueza natural), fazem do externo o vilão, em que eles são os heróis que podem salvar a pátria. Mas como a classe extremista gosta de desafio nível difícil, essa elite pega justamente o politico radical de outrora, metamorfoseia para se passar como “político normal”, para ganharem a eleição, e não obstante frustrar essa mesma classe pela decepção, para manter o looping eterno pela busca do mito perfeito. Talvez seja essa a tal da direita xucra que tanto aponta o Reinaldo Azevedo. É a classe que merece um divã.



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Classe Média Extremista: Em Busca do Mito Perfeito de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.



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