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A Navalha de Ockham Nunca Falha

Por: Júlio César Anjos

O conceito “Navalha de Ockham” é tão evidente quanto a sua própria lógica: como o nome já diz, é uma navalha, portanto serve para cortar; e Ockham é o pensador que desenvolveu a premissa de que se o estudo é simples, é bom. Ou seja, se tal pensamento é prolixo, maçante e confuso, então, deve-se comprimir (cortar) esse embasamento a tal modo a criar algo fácil, como um apontamento de compreensão. Se essa expressão não conseguiu ser definida em uma simples explicação de verbete, então essa teoria é ruim. Pois, para a navalha de Ockham, se houver duas formas de explicar um ocorrido, a mais simplista é a melhor.

Por incrível que pareça, esse argumento faz tanto sentido que os políticos populistas, ao falarem a “língua do povo”, utilizam a navalha de Ockham sem nem mesmo saberem que fazem tal artimanha no discurso, mas utilizando a ferramenta para determinado fim. O Lula é um exemplo disso, pois, para explicar ao povo situações complexas políticas, o chefe máximo do PT vem com discurso com analogias, ou seja, simplistas e até simplórias na concepção. Todo mundo entende e a informação é passada de antemão. Já no outro lado da força, há outros políticos que são requintados, diga-se assim, com fala rebuscada, mas que o povo não entende o que o gestor público quer dizer. Isso gera falha na comunicação, que gera até mesmo um político impopular. Isso é tão fato consumado, que os discursos atuais dos presidentes dos EUA são feitos com profundidade compreensível a alunos da quarta série. Diante disso, tal assertiva é a prova máxima de que a Navalha de Ockham nunca falha. 

Abram-se parênteses. O que inspirou a elaboração deste artigo foi o fato da forma rebuscada do discurso do Greca a falar sobre a construção da “Conectora 3”. Segue trechos da degravação (vídeo abaixo): “Eixo estrutural” [...] “Trinário” [...] “Pontos focais com o eixo estrutural no portão cultural”. Um monte de jargão de engenheiro que o povo não entende. Agora, se o Greca chegasse e dissesse assim: “Vou fazer canaleta e vai passar biarticulado na Bettega”, seria compreensível ao povo, fluído e seria até popular.  É a mesma informação, só que passada de maneira diferente. No primeiro caso, o povão não entende; já no segundo, o povo compreende o que o seu gestor público quer dizer. Vai essa dica valiosa, Greca, mais uma para aprender. Fecham-se parênteses.   




Esse fenômeno de simplificação não está relacionado somente à política e aos políticos, mas também aos intelectuais do século XXI. Como diz Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica”. Até o século XX, os intelectuais podiam se enganar por estarem envoltos às suas categorias, na redoma dos seus pares, fazendo do conhecimento uma masmorra de universidade. Porque antes da era da comunicação digital, o intelectual poderia dar a tal da “carteirada do doutor” e falar qualquer coisa difícil, que, pela hierarquia educacional, um instrutor teria aceitação do seu pensamento por causa desta condição. Hoje, com a informação cada vez disponibilizada de maneira mais fácil, os intelectuais tiveram que sair dos seus calabouços e agora fazem até os tais “cafés filosóficos”, explicando de forma até esmiuçada a complexidade dos teóricos da humanidade. O que leva à conclusão, hoje, pelo feeling geral, de que um pensamento muito confuso não significa sinônimo de um conhecimento profundo, mas, ao contrário, pode ser um embuste com verniz intelectual. E Essa modinha de intelectual de palco de Café Filosófico nada mais é que Navalha de Ockham ad hoc.

Diante disso, antigamente era até concebível passar batido o paradoxo de Feministas gostarem de Nietzsche, os burgueses amarem Marx, e conservadores serem até mesmo freudianos, pois o estudo não era plenamente difundido, os intelectuais repassavam a mensagem distorcida, e aconteciam estas aberrações que até agora existem no meio social. Porém, hoje, com a gama das informações, e com a navalha de Ockham sendo método utilizado para tornar simples teorias consideradas complexas, continuar com essa disfunção só traz uma conclusão: Ou sujeito é fetichista ou masoquista, não cabendo racionalmente o fato da pessoa sequer ser considerada uma pessoa normal.

Portanto, agora não dá mais para esconder a ideologia confusa pela pregação obtusa, diante embuste de teoria geral. A Navalha de Ockam virou a ferramenta ideal para tornar o conhecimento mais fácil, gostoso e aplicável para todos, sendo que a fluidez, a simplicidade e a concisão tornaram-se aspectos considerados bons, métodos considerados ideais ao intelecto e ao conhecimento. Enfim, a Navalha de Ockham nunca falha.





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A Navalha de Ockham Nunca Falha de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.



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