Por: Júlio César Anjos
Muito
funcionário público foi na onda dos petistas. Muito funcionário público, embora
tenha feito uma prova de concurso, ainda acredita na mágica de criar dinheiro
do nada. Muito funcionário público só olha para o próprio umbigo, pois, mesmo na
crise, acham/vam que não seriam apenados pelo próprio colapso da coisa pública.
Muito funcionário público não olhou para os países comunistas, em que os
servidores da ponta da pirâmide são até marajás, enquanto que a base fica à
míngua (pode ver a relação em Cuba, Coreia do Norte, e até mesmo China – que é “rica”).
Muito funcionário público caiu na armadilha nababesca da categoria. Muito funcionário
público irá chorar, por culpa própria, por causa da precarização estatutária.
E, assim como a prova feita em concurso, terão arrocho salarial, também, por meritocracia. Parabéns.
O
estatutário de base é a favor ou contra a PEC do teto? Não importa a resposta,
pois o fato é que o arrocho virá independente da opinião sobre tal emenda
constitucional. Porque o estado está quebrado. Sendo assim, a precarização
estatutária, para os funcionários da base, já é considerada certa. O que está
em jogo, agora, é se dará para fazer esse ardil por meio legal, ou se o próprio
setor “lutará” contra as medidas, com o resultado sendo mais crise, maior dificuldade
para o caixa estatal cobrir rombos, diante tanto desiquilíbrio entre direitos e
deveres. O arrocho virá por lei ou por quebradeira. A escolha é do servidor. Só
saiba que, por quebradeira, receberão por precatório o suposto salário elevado
(precatório é o pior título que existe).
Diz-se
que a Petrobras tem 700 (setecentos) advogados na empresa. A quantidade é tão
grande que não cabe nem mesmo num auditório de médio porte. E mesmo com esse
batalhão, não houve um rábula sequer a ver a corrupção do PT e peitar toda a
chicana. Só foi visto o escândalo pela lava-jato, por fora, sem relação de
carreirista vendo tal ardil na principal instituição estatal do Brasil. O mesmo
acontece na maioria dos órgãos públicos Brasil afora, pois o estatutário tem
pensamento uno nesta condição, que é não se envolver em nada que seja polêmico,
brigar somente por percentual de aumento, e sempre ser ativista para trabalhar
menos. Tanto é que o funcionário público obtuso fica louco de faceiro em ver a
própria repartição cheia de funcionário público, achando que poderá empurrar o
trabalho para os novatos e trabalhar cada vez menos, não entendendo que o
probatório de hoje será o servidor de amanhã que aumentará o empenho no caixa
do governo. Ou seja, arrochará o salário por causa do grande montante de servidor.
Sobre
o loteamento de uma lotação, desculpa entrar em primeira pessoa, para
exemplificar um ocorrido. Abram-se parênteses. Eu fui estagiário no Tecpar, na
era Requião, e vi uma aberração. Naquela época, existia um tal de Citpar, que
era uma empresa terceirizada que tinha 1/3 (um terço) de funcionários do quadro
dos estatutários da empresa de tecnologia do Paraná. Eu juro que esse 1/3 fazia
a maior parte absoluta dos trabalhos que eram para serem feitos pelos
estatutários. Ou seja, se demitisse
todos os estatutários e ficasse com os terceirizados, mais algumas
contratações, o serviço seria feito do mesmo modo, só que com desembolso de
gasto do governo bem menor. A mesma coisa ocorreu na Copel, em que, veja só,
tive que fazer prova no IEL para virar estagiário (fiquei em terceiro, sendo
que só chamavam 3 por “concurso”), e a bizarrice era que a termoelétrica de
Araucária estava desativada, mas o efetivo era de uma instituição em
funcionamento, com os terceirizados fazendo a maior parte dos serviços. Esses
dois exemplos eram terceirizações de atividade-fim, o que é tanto discutido no
congresso, em que se faz de bobinhos, ao fingirem não saberem do assunto.
Fecham-se parênteses.
Não
bastasse isso, ainda há o servidor centro do mundo. Com a crise em 2015 não
sendo afetada pela categoria naquele momento, fora visto muito funcionário
público com a mentalidade: “Te fode, sou concursado”, achando que aquele colapso
do ano passado não chegaria à categoria, pois acreditam no universo paralelo da
coisa estatal. O que o funcionário público não entende é que a crise gera
círculo vicioso. As empresas quebram, demitem funcionários, que gera menos
receita direta e indireta no caixa do estado, fazendo os governos sofrerem com
o colapso, estourando, por fim, no calote ou arrocho no funcionário público.
Aquele tal do “te fode, sou concursado” é coisa de imbecil, que não entende a dinâmica
econômica de um país, tão obtuso que se começa a até mesmo desconfiar se tal
servidor passou mesmo em uma prova ou comprou um gabarito pra virar nababo do
artigo 41. Ver o seu vizinho empregado e feliz não é só bom pelo lado
espiritual como também racional, em que tudo fica em ciclo virtuoso, com a dinâmica
econômica sadia e funcionário público recebendo bônus, além de ter o salário em
dia. Há muito concursado, que, por passar em uma prova, acha que a sociedade
tem que o servir, ao invés de servirem, achando que o rabo abana o cachorro. O “te
fode, sou funcionário público” não cola mais. E isso está fazendo o concursado
deixar de virar vaca sagrada e intocável.
Diante
tal mudança, os estatutários se dividirão entre “liberais” e engajados, se
quiserem salvar a situação. Os “liberais” são aqueles que entendem que a dinâmica
econômica tem que voltar a funcionar, para que se faça o circulo virtuoso, a
poderem voltar a lutar por aumentos reais de salários, além de não perderem os
direitos adquiridos. Já os engajados acham que podem, pelo aparato estatal,
fazer as mudanças e gerar avanços pelo estado. Só que o engajado é hipócrita,
pois fala em funcionar a dinâmica governamental, mas em contrapartida não faz
esforço para mudar a situação. Por isso que é mais racional ser estatutário “liberal”.
A escolha é somente essa. Ou são esses dois grupos, ou será instalado o
comunismo com castas de funcionários públicos. Pois, na Venezuela até tem
serviços exclusivos para funcionários públicos, diante a crise do país, mas é
só para a ponta da pirâmide, sendo que a base sofre à mingua junto com o povão.
Desta
forma, por frequentar festa estranha com gente esquisita, o funcionário público
como um todo está deixando de ser vaca sagrada e intocável [por isso que
escrevo esse texto crítico]. Já que até uns tempos a sociedade respeitava o
concursado por achar que eram “os melhores profissionais”, pelo escrutínio de
concursado, sendo que isso virou pó, pois os próprios estatutários se
sabotaram. É a precarização estatutária que virá ou por PEC ou sem PEC, sendo
que pela PEC ainda dá para salvar alguma coisa, desde que se libere a economia.
O Brasil tem tanto funcionário público, seja municipal, estadual ou federal,
que é fácil encontrá-los na rua, acotovelando-se entre as camadas de
funcionalismo, diante a grande quantidade de parasita social em exercício. Tal
cenário dá a impressão que o brasileiro está no livro 1984 de George Orwell, de
tanto funcionário público existente no país.
A
única casta estatutária que merece respeito hoje, por trabalhar muito e ganhar
pouco, pelo risco de periculosidade e salubridade, é a do policial militar. Só
esta categoria, hoje, merece respeito da população, pois as outras profissões
estão deixando a desejar. Até mesmo de médicos (sejam cubanos ou não) e
professores estão deixando de serem vacas sagradas, porque marcharam junto com
sindicatos, ONG’s e grupos políticos animais irracionais. É aquela lógica:
Muito direito faz perder o direito.
Por
fim há também um vídeo circulando na internet, que não vale nem incorporar no
blog, em que se faz arte cênica contra a PEC 241, dizendo que a emenda acabará
com direitos e coisas grátis para o povo. Agora, a pergunta: Hoje, sem PEC, os
serviços são bons? Pelo empirismo, a resposta é: não. Quer dizer, então, que se
o povo for contra a PEC, todos os serviços serão bons? É isso? É fácil colar
uma fita na boca e rasgar uma cartolina com palavras de efeito. Difícil é
trazer qualidade no serviço público, que já é um orçamento extremamente caro.
Os políticos são corruptos, mas tem muito funcionário público também que “não
entende” o que está acontecendo porque é módico não entender.
Portanto,
não importa se terá PEC ou não, o fato é que a precarização estatutária, pelo
menos até a economia voltar funcionar, acontecerá. Não é questão de escolha,
pois não há escolha quando se destrói a própria categoria, ao frequentar festa
estranha com gente esquisita. Não importa se o funcionário, também, está contra
o prefeito, o governador e até o presidente, pois o problema é de fechamento de
conta. Simples assim. Porque a não aprovação da PEC é status quo. E o status
quo fará gerar mais crise ainda. Ao passo que, se aprovar a PEC do teto, e não
liberar a economia, isso gerará o sistema de castas no funcionalismo público,
em que a base fica à mingua, enquanto que a ponta da pirâmide é marajá. Isso
ocorre com muita frequência em regime comunista. Por isso que não dá mais,
também, para colocar o capitalista no tronco e escravizar ainda mais o povo com
impostos. A mudança do estatutário, agora, terá que ser na mentalidade. De ver o todo e deixar de enxergar o próprio
umbigo. Quem avisa amigo é.
______________
No
momento que finalizo esse texto, fico sabendo que o Richa, governador do
Paraná, cumprirá a política salarial do estado. Num momento de crise como essa,
é de dar os parabéns. Agora, sejam façanhudos, servidores do Paraná, coloquem
um petralha – ou da turma de lá - no poder em 2018, para arrochar ou nem pagar
salário. É que eu quero rir um pouco.

Precarização Estatutária de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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