Por: Júlio César Anjos
Sabe
o que mais põe medo num lugar como o Brasil? Não são gangues, nem sociedades
secretas, muito menos grupos terroristas. O que demanda terror mesmo é a
desfaçatez da elite entediada. Porque é desta classe que deriva desde normas de
conduta até o reger vivencial de um bairro chique, de uma cidade e até mesmo do
país inteiro. Desde a simples inobservância de prudência até o descontrole
total, a elite tudo pode; então, o freio deriva mais da educação familiar do
que de punição de aparato estatal. Manter a decisão do certo e errado pela
conduta individual é extremamente perigoso, dependendo do abastado em questão.
É simplesmente surreal.
O
Rei João, mais conhecido como João Sem Terra, decretou a carta magna, por
medida imposta pelos barões, e também o direito ao Habeas Corpus. Tal medida só
fora realizada porque o monarca foi tão maroto que ninguém mais o aguentou,
tendo que o rei se sujeitar a imposições sociais. Ou seja, tinha o poder
soberano, sendo mitigado porque não soube limitar os próprios direitos de ser imperador.
A mesma coisa acontece hoje, com políticos sem imunidade parlamentar indo
direto para a cadeia. Tal medida em 1ª instância só tem apoio total porque o
mensalão, outra corrupção a níveis elevados, fora inócua na mão dos magistrados
daquela época (lembrando que mesmo agora o STF está podre, pois não prende
ninguém). Então, a elite, com todos os direitos disponíveis, pelo ensinamento
histórico, uma hora perde os direitos porque nem a própria elite aguenta tanta
chicana social.
Agora,
há de convir que alguns abastados pudessem fazer crimes considerados hediondos
que ficam impunes. Diante tal assertiva, não há como negar que a elite tem
privilégio judicial. Alguns fidalgos dos dias atuais simplesmente não são
punidos pelos crimes que cometem; até pagam uma fiança para a liberação do corpo,
já que, sociopatas, não possuem a mente presa por peso de consciência. Vários
exemplos derivam desta magnitude, como os jovens que mataram queimado o mendigo
em Brasília, e os casos de atropelamentos que geraram mortes, como na situação
do caso Carly Filho e mais recentemente do Thor Batista.
Neste
último parágrafo, fica claro que o propósito de tal crime se dá por puro tédio.
No caso do mendigo queimado, os jovens da classe média alta, ao não gostarem de
ver o “parasita social” na calçada, poderiam fazer engajamento e, ao invés de
fazer esforço para queimar um ser-vivo, deveriam criar maneiras de abrigá-los
em um lugar seguro. O mesmo acontece com as mortes de trânsito mencionadas. Carly
e o Thor Batista poderiam até mesmo fechar uma rua para fazer o racha, ou até
mesmo locar o autódromo da cidade, para fazer o rally cidade adentro. Cometeram
assassinatos pelo simples fato de que podem circular na via além do limite
permitido em lei; e também porque, caso cometam algum acidente, sabem de
antemão que nada poderiam os deterem – não ficariam presos.
A
elite entediada pode cometer qualquer crime, até mesmo hediondos, que nada
afetaria o bem-estar deste seleto grupo. O problema é que isso faz o povo ficar
furioso com tal pilar social, cobrando cada vez mais o fim destas regalias,
chegando ao ponto em que há quebra de paradigma e o elitista começa a ir até
mesmo para a cadeia. Porque, se o aparato estatal não fizer isso, o povo poderá
criar até mesmo motim. A elite, sabendo disso, embora não regre os filhos para
que os tédios não sejam corriqueiros, e sabendo que o povo gosta de guilhotinar
rei, ao invés de punir o rico que comete crime, afrouxa os crimes de maneira
geral na sociedade, pois, em teoria, deixa todo mundo também ser maroto pela
lei. Isso significa dizer que a cultura da elite entediada também margeia o
caminho daquela região, espelhando os aspectos culturais basilares daquela sociedade
em questão. Por isso que o Brasil é esse boteco sem igual.
Diante
disso, que tal a elite acabar com o tédio, ao fazer melhorias na própria
região? Criar novas situações que melhorem a sociedade toda, com criações na
cultura, seja pela arte, pela arquitetura, indumentária, lazer e até mesmo
educação. A elite entediada tem tempo e dinheiro para fazer transformações,
seja pontual ou global, diante as suas capacidades de modificar um meio. Uma
elite entediada do bem, diga-se assim, faz o que é chamado de ciclo virtuoso,
reduzindo violência, desigualdade social e até mesmo melhorando o reger
vivencial de todos, pois tal soberano é livre para fazer o quer, escolhendo
fazer o bem. Já uma elite entediada do mal faz o ciclo vicioso, chegando até
mesmo ao caos social.
Portanto,
no Brasil, a degradação do país é sim causada pela elite entediada, que
direciona tal ardil para o mal, ao invés de fazer o bem. Essa elite entediada
deixará de ficar entediada, pois, o povo cansado poderá até fazer motim contra
esse abastado belicoso. Desde Maquiavel, é sabido que o rei deve ser prudente
em alguns casos, já que poderá perder a coroa; o mesmo acontece com os neo-fidalgos,
que acham que podem tudo, e por fazerem coisas do arco da velha, poderão perder
tudo, até mesmo o bem-estar comprado com dinheiro. Que a elite entediada de
hoje faça o bem. Porque fazer o bem é até mesmo inteligente para manter o
status quo, o livre arbítrio, e o bem-estar social do povo abastado de tal
país. Que a elite entediada brasileira comece a fazer o bem!

Elite Entediada de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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