Por: Júlio César Anjos
Todo
reformador social já foi fiscal da vida alheia; e todo fiscal da vida alheia
será um reformador social, se derem oportunidade. E é justamente nesta
dicotomia que comunistas e conservadores se digladiam de forma sem igual. Porque
é um nicho voltado à cultura, pois, basta tomar o conjunto de crenças e valores
da sociedade e se terá o domínio total. Formaliza-se, contudo, na questão de
tomar o estado através de força politica, ao inserir no povo o ideário que abarca
tudo. A luta é pelo poder total.
Diz-se
que comunista é aquele sujeito que fica muito incomodado com a arquitetura do
vizinho. Perde até o sono. Porque, para o socialista, a casa do morador ao lado
não é uma propriedade privada, mas sim uma célula social. A construção tem que
estar de acordo com a harmonia da vila. Por isso que se o comuna for somente um
fiscal da vida alheia, sem poder para mudança radical, esse ser somente ficará
rabujo, não conseguindo obter a tirania sem igual, compilada em sua cabecinha. Porém,
se o comuna obtiver poder, neste caso se tem problema por existir reformador
social. Aí, o construtivismo é o limite. Passa da esfera de simples incomodo de
opinião divergente para modificar o ser humano à imagem perfeita da crença do ditador
universal. Casas iguais, roupas iguais, vidas iguais... Mas sempre na premissa
que uns ”animais” são mais iguais do que outros. A diferença (é) sutil.
Arraigado
pela história, um “cowboy homossexual”, como aquele criado pela película: “O
segredo de Brokeback Mountain”, o casal sexual não poderia fazer travessura em
um acampamento comunista, em zonas rurais na época da revolução russa. Os
bolcheviques mandavam para o gulag sem dó. Assim como acontece pelo globo, em
que os diferentes [“sensates”] tanto na China, Na Coreia do Norte, Cuba e etc,
ao estarem em uma ditadura comunista, não podem ser “promíscuos”, pois a
cultura comuna não permite. Diante
disso, coceirinha anal é só incomodo de oxiúro, nada que seja gerado como uma
ilação à sensação diferente sexual, na vida socialista real. Tal medida não é
proibitiva por causa de pecado, mas um impedimento pelo Deus estado. É uma espécie de “inquisição racional”.
Já
o neoconservador, diante da utilização da régua moral amparada pela tradição,
mensura todo mundo, a todo instante, diante dos padrões métricos do
comportamento conservador. Quando o conserva é fiscal da vida alheia,
assemelha-se com aquela fofoqueira antiquada que existe na vila, em que sabe
tudo da vida dos outros, pois o existir desse ser é somente ir à igreja e, após
escutar o sermão do padre e/ou pastor, começa a dar “lição de moral” pela
“velha opinião formada sobre tudo”. Já,
na questão de reformador social, tal modernismo por diferenciação do
convencional geraria, com certeza, até “inquisição contemporânea”. Mas, ao
invés da obrigatoriedade de como se portar diante os semelhantes vier
coercitivamente do soberano, a imposição vem por meio de pecado, forma de viver
errante não aceito por Deus - na verdade não é por um ser superior, é pelos
humanos que criam regras e dizem que tal conjunto de normas configura-se como
vontade de Deus. E, da mesma forma, há um balizamento próximo ao do comunista,
com uma tênue diferenciação: As casas são semelhantes, roupas semelhantes,
vidas semelhantes. Troca-se apenas a
semântica da palavra “igual” pela “semelhante”. A diferença (é) sútil.
Recorrendo ao passado, na idade média, a
mulher lavar o cabelo com a água quente, segurar a crina firme e reta até a
ponta com um pente, para deixar um aspecto liso, fazer um “alisamento permanente”,
isso tudo, no fim, seria até mais pernicioso, pois a moça poderia sair na rua e
ser taxada de Bruxa. Hoje, é considerada bruxa a mulher que deixa o cabelo
emaranhado, aquela que não faz “alisamento permanente”. Portanto, os tempos
mudaram. Mas os conservas, não. Então, fica a lição: Sob o aspecto de suposta
“feitiçaria”, diante da teocracia, o ser humano poderia até ser queimado vivo.
É uma espécie de “gulag espiritual” da soberania de monarquia.
Nos
dias atuais, o pior mesmo é quando há na ponte da pirâmide o reformador social
e na base o fiscal da vida alheia. Neste cenário, há o que se chama de estado
policial. É quando o povo, preso pela consciência de um conceito totalmente
insensato, amplamente defende os posicionamentos do soberano, para manter “a
tradição”. É triste tanto pela égide conservadora quanto comunista. Dessas
situações tenebrosas, um exemplo idiossincrático mais notório, recentemente, se
dá no caso do congelamento de preços promulgado por Sarney, e os fiscais do
Sarney dedurando as empresas que elevavam preços. Como diz o ditado, “é as trevas”. Hoje,
têm-se comunistas e conservadores sedentos pela possibilidade, cada qual com a
sua estratégia, de tomar o poder e fazer a reforma social, diante de tanta
experiência em serem fiscais das vidas alheias.
Por
fim, uma coisa, também, é certa: Todo comunista chamará seus adversários
políticos de “conserva”; e todo conservador chamará os desafetos políticos de
“comuna”. Porque a loucura é igual, só
muda a polarização. Conservadores e comunistas são reformadores sociais, quando
possuem os governos “nas mãos”; ao passo que são fiscais das vidas alheias,
quando não estão no poder. Por isso a eterna luta entre a narrativa e a
ilustração.
Portanto,
não há necessidade de ser espécime somente dessas polarizações, como se não
houvesse alternativas possíveis no cenário atual. Sempre haverá a terceira via
que desagradará ambos os extremistas, em que mostrarão o alternativo como
solução. Por fim, é totalmente crível ser conservador sem ser conserva; além de
que se pode ser comunitário sem ser comuna. Diante a tudo isso, largue a mão de
ser fiscal da vida alheia, com intuito de ser reformador social, deixem as pessoas escolherem, vá viver a
vida real!
Reformador Social x Fiscal da Vida Alheia de Júlio César Anjos está licenciado com uma LicençaCreative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível emhttp://efeitoorloff.blogspot.com.br.
Comentários
Postar um comentário
Comente aqui: