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A Cultura Abarca Tudo

Por: Júlio César Anjos

O que é cultura? Em uma explicação simples de verbete, cultura é o conjunto de crenças e valores de uma sociedade. Pode ser aprimorada pelo conhecimento, passada de geração em geração pela tradição, além de poder ser mimetizada dia-a-dia pelo costume. Diante disso, pode criar arcabouços de lei pela racionalidade; e também pode ser definido como padrões irracionais apregoados por uma religião. No entanto, a cultura pode, também, ser modificada. Portanto, a Cultura abarca tudo.

Para um entendimento simples, a cultura, por exemplo, está em TODAS as matérias estudadas na escola. Na disciplina de Português, em que se estuda a “língua Portuguesa”, ensinamento passado de geração em geração, pela tradição, tal ferramenta não fora criada pelo brasileiro, mas fora herdada, passada pelos portugueses colonizadores. Na matemática, utiliza-se, veja só, os números arábicos, sendo transmitido de forma intermediária entre o ocidente europeu e o oriente médio, trazido até os povos da América do Sul. Na História, a matéria faz lembrar ao povo daquilo que fora feito de bom e de ruim no passado, registrado pela compilação dos eventos de tal povoado. Na geografia, a cultura está ao compreender as condições inseridas em um meio, para explicar o porquê de haver certas atitudes coletivas e individuais [Exemplo: Pode ficar “pelado” no Brasil, por ser tropical; mas se obriga a burca no árido do oriente médio].  Química, em que se escolhe fazer uma vacina com enfoque nos infortúnios de uma região, independente de prejuízos, ou olhando pelo aspecto materialista de mercado, em que a viabilidade é precípua [Isso responde por que a doença de Chagas ainda não tem a plena cura]. Biologia, para estudar os eventos pelo prisma do criacionismo ou evolucionismo; o que explica por que ninguém sabe o que é vitalismo. E na Filosofia, para estudar as idiossincrasias da cultura. Portanto, a cultura está em tudo.

Por isso que a cultura pode ser modificada, dando a isso o nome de desconstrutivismo. Os reformadores sociais, não podendo destruir todos os valores de uma sociedade para substituir por outra, mudam ao menos algumas situações pontuais do status quo, pelo socioconstrutivismo, a satisfazer o poderio que tais indivíduos acreditam que possuem. Não podendo, por exemplo, mudar a “língua portuguesa” pela “língua inglesa”, os reformadores modificam a estrutura, como no caso da fusão do grafema e o fonema. Neste contexto, escrever “ixcola”, ao invés do padrão “escola”, é totalmente crível pelo sotaque de determinada região, diante do lampejo de um ditador cultural. Nas outras matérias acontecem situações similares. Não podendo substituir os números arábicos, por exemplo, modifica a grade de estudo ou a estrutura de ensinamento de exatas. Na história, outro exemplo contumaz, não conseguindo apagar o que ocorrera pelos fatos, ao invés de mostrar o psicopata Guevara na pura essência, se faz revisionismo histórico, tratando o guerrilheiro argentino como “herói”. E por aí vai. Essa é a estratégia de destruição da cultura mantenedora por outra que se camufla como “progressismo”, por intermédio de instituição do saber.

Enfim, a cultura é a célula Máter da sociedade. Sendo algo plasmado e inserido no ambiente, é impossível a cultura ficar no vácuo. Ela sempre estará preenchida por algum conjunto de crenças e valores, podendo ser modificado esse arcabouço, diante de entendimento coletivo de mudança.  Caso contrário, ao defender a cultura em voga, vigente, tal condicionamento se dá pelo nome de conservadorismo. E isso deflagra que o conservador é multifacetado, pois no Brasil é Judaico-Cristão; já na Arábia Saudita é Islão. É a cultura sob a perspectiva e o conjunto de normas objetivado pela religião. Arraigado por muito tempo, tal ensino pode ser passado, além de estudos convencionais, somente por tradição. Mas o “vilão” desse sistema é o multiculturalismo, que possui poder através da política, com apoio financeiro de grupo de pressão. Porque a cultura é aquilo que a sociedade cultiva por considerar ser bom.  E cabe a comunidade em questão saber se quer manter o status quo ou modificar tudo, desde o “como escrever” até religião. Até porque em países com cultura de liberdade, dá-se o direito de expressão e escolha. Caso contrário, seria impossível fazer na cultura qualquer modificação. Nesse sentido, o Brasil, por exemplo, é liberal.

Cultura se abastece pela influência. E os pensadores podem sim fazer a modificação da cultura de uma nação. Por isso que os integralistas, por exemplo, ao quererem abandonar o pensamento colonial, criaram uma nova forma de reger, com a bandeira chamada “semana da arte moderna de 22”, para propor mudanças radicais na consciência do brasileiro, em que se inoculava a perspectiva de que o cidadão podia ir além do que era concebido naquele dado instante. Atualmente, o marxismo cultural possui adeptos e resistências perante os avanços das bandeiras progressistas. Feliz ou infelizmente, a luta tanto para manter ou mudar a cultura é eterna. Pois, de tempo-em-tempo, as pessoas ficam satisfeitas com o status quo; porém, algumas mudanças, até mesmo pela evolução, obrigam a ter que ao menos se fazer algumas adaptações mundanas, dando razão a Karl Marx, quando fez o estudo sobre o materialismo. Mudando a tecnologia, muda a pessoa, então Karl Marx tinha razão na interação da cultura de uma nação pela simples modificação da tecnologia inserida no meio. O exemplo notório de desdobramento desta concepção se dá, por exemplo, na Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, em que a tecnologia domina o ser humano, portanto, muda a sua cultura.

No campo da psicologia, Jung detalhara a modificação da natureza quebrando paradigmas de aldeias e tribos em geral. Se o soar do vento, ao mexer as folhas da árvore, dedicava uma transcendência espiritual, o desmatamento provou-se que nada há de sobrenatural, pois, sem árvores, não há o espectro irracional (não se escuta os soares da mata fechada, portanto não há nada a se assustar).  E na religião, após o capitalismo triunfar ao dar liberdade ao individuo, tal situação criou uma desconexão entre o homem atarefado no dia-a-dia e o ser espiritual e dependente de asilo religioso, por isso que o catolicismo, até hoje, não gosta do capitalismo. São poucos exemplos de variados outros que explicam que a mudança do meio faz gerar a mudança cultural. Portanto, cultura não é clausula pétrea; se as pessoas quiserem, ela pode mudar.

No aspecto jurídico, em teoria, tal mecanismo deveria funcionar para normatizar a cultura pela burocracia. Desde o código de Hamurabi até os dias atuais, muitas das leis são feitas diante o entendimento idiossincrático de determinada região, por isso que a justiça deveria ser a defensora dos códigos acordados pelo povoado, sendo protetora de uma constituição. O problema, ou a solução, vai depender do prisma enxergado, é que a justiça pode ser utilizada como arma para fazer reformas sociais, a fim de normatizar códigos que nas simples discussões entre as aldeias nunca se conseguiria passar. Se achando acima dos demais, os magistrados que se confundem a deuses dos dias atuais, acreditam que possuem o poder místico da lei, em que se deparam na certeza daquilo que por convicções acreditam estarem certos (ou mudam a lei por mera corrupção), passando por cima da vontade popular. O que é chamado de ativismo jurídico para modificação cultural.

Nos mercados, tanto na economia doméstica quanto na internacional, se a cultura de um país for arraigada, influencia desde a fabricação de um produto até quem poderá fazer a compra de tal objeto a ser vendido. Isso gera mazelas, quiproquós, além de animosidades devido à falta de melhoramento econômico, gerando, por sua vez, atrasos sociais. Por sua vez, na teoria [o Brasil é exceção desta regra], se a cultura é mais flexível, a economia tende a ser mais livre. E as “picuinhas” culturais, dependendo da situação, podem gerar até guerras. Como no caso das Cruzadas que, além de ser causada por conflitos religiosos, a razão era também em função da expansão de mercados.

No campo das “artes” [que significa habilidade de criar algo], cita-se: Música, pintura, moda, arquitetura, literatura, entre outros, é somente um espelho daquilo que é aceito pelos os outros empreendimentos que cimentam a cultura, como as disciplinas aprendidas em sala de aula, além de aspectos religiosos [permissivos ou não], legais, tradicionais e costumeiras da sociedade em questão. "Não sabendo" os conjuntos de crenças e valores da sociedade, órgãos estatais se organizam para criar departamentos, como o dito “Ministério da Cultura”. Na verdade, com esse pensamento de fusão entre política e “artista”, o que se cristaliza, na verdade, é o Ministério do Entretenimento. O que vira arma para aventureiros, para fazer o progressismo, diante desconstrução de uma "anticultura". Na contracultura, por exemplo, mulher se veste como homem e vice-versa; a pintura perde apoio de tradição cristã ou grega para virar o desconstrutivsmo de afresco: “quadrado negro: formula nula”; a música funk “bananense” que faz apologia à pedofilia e crimes em geral; Prédios em formato H do “minha casa, minha vida”, que são retângulos de concreto sem vida; e a Literatura inexiste, com apagão existencial.  Aí fica a pergunta retórica: É isso, esse entretenimento vazio, que se chama de cultura nacional? “Ministério da Cultura”, eles disseram. 

Na culinária, desde a era paleolítica, em que o sistema era predatório e, por isso, tinha que ser nômade para poder sobreviver, até a era neolítica que derivou conceito de filosofia econômica da fisiocracia, em que a riqueza estava, tão somente, atrelada naquilo que era retirada como renda da terra; tal modificação histórica fez com que hoje muitas sociedades possam até mesmo escolher viver uma vida que melhor queira, podendo escolher o que se possa comer. Portanto, devido à mudança do modo de se alimentar ir de encontro aos preceitos de mudanças culturais, com amparo do avanço da tecnologia, também neste sentido, mudou o reger vivencial das pessoas pelo paladar.

E na política, não há necessidade de ser prolixo para embasar que o político, na esfera democrática, é o reflexo cultural de um povoado. E na esfera religiosa, o regime governamental pode ser inserido desde monarquia até mesmo califado. O regime pode até mesmo ser anárquico, fugindo da esfera de crença religiosa. Pois, em tribos primitivas, a cultura de indígenas não era guiada por normas de “Deus”, mas regrado pelo convívio entre os pares e o “transcendental” da natureza.  Portanto, a “política” que vai desde a tribo mais primitiva até à comunidade mais avançada atual, o certo é que o político é reflexo de aceite da sociedade em geral.

Enfim, mesmo que ninguém force a mudança da cultura, as próprias mudanças tecnológicas e sociais, de tempo-em-tempo, naturalmente modificariam o conjunto de crenças e valores de uma sociedade. Porque é do ser racional criar “melhorias”, a fim de tornar mais prazível o reger vivencial. E isso traz dilemas entre a cultura retrograda e a que emerge pelo novo. Esse conflito dá arcabouço para reformador social tomar o posto, e criar a "perfeição" comunitária planificada em uma planilha de computador. Escolher o que se quer como cultura, seja mimetizando tradição e costume ou copiando a cultura de outra nação, o escrutínio sempre será do povo. No final, mesmo com influencias, ataques de grupos de pressão, propaganda e manipulação, se o povo gosta de alguns aspectos sociais, essa cultura será preservada independente do achaque, da provocação, da tentativa forçada de modificação. A cultura é o povo. A cultura abarca tudo.




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