Por: Júlio César Anjos
Havia
uma época, em teoria, que existia o tal do “engavetador geral da república”. O
PT, eterna oposição, saia às ruas sempre gritando: “Engavetador!”, para o
representante do ministério público que deixava de exercer a função de indiciar
bandidos, por fingir que não existia certa demanda jurídica. O povo, é claro,
não entendia nada nos termos técnicos, compreendia apenas as situações de práxis
popular, traduzindo o jargão politico como a justiça acobertando ladrão de
colarinho branco. Se existiram ou não os
engavetadores, não se sabe. O que se sabe é que se fosse fato tal condição, o procurador
sempre arquivava o lote todo, dando lógica ao termo engavetador. Janot, ao
indiciar apenas Eduardo Cunha, não se mostrou um mero engavetador; mas apresentou-se
como uma espécie de Seletor do Crime. E isso é grave, tanto no sentido jurídico
quanto nas verves políticas. Janot terá que se explicar.
Janot
quebrou acordo tácito do místico “engavetador” de fingir que tal situação corruptiva
na esfera pública “não existiu”, poupando a vida política tanto dos candidatos
da situação do governo quanto da oposição. Apesar de o PT eternamente gritar
contra os desafetos políticos, dando ar de partido honesto, o que na verdade sempre
fora um grupo sujo politicamente - está aí Celso Daniel, corrupção do PT na era
FHC que não deixa mentir -, o fato é que o engavetador do passado fazia o
básico: engavetava. Arquivando o processo todo, embora uma desonestidade
tremenda, ao menos não gerava celeumas políticas, pois salvava os dois lados antagônicos
do processo de problema judicial. Janot, ao brincar com a pasta técnica do Ministério
Público, no âmbito jurídico deixa de ser acossado para ser celerado na esfera politica.
O caçador vira a caça; e a caça vira caçador.
O
povo grita: “Meu malvado favorito!”, ao destinar zelo ao político Eduardo
Cunha, representante popular que está mais sujo que pau de galinheiro, por ser
certamente corrupto, causador de dano do erário público. Todavia, quem assistiu
a animação (meu malvado favorito) sabe que é um vilão que vira herói. Por isso
que Eduardo Cunha sobrevive politicamente, pois a multidão sabe que o
presidente da câmara dos deputados não é o único parlamentar corrupto, em que
certamente o povo quer a cabeça de TODOS os políticos malogrados no crime. Janot,
ao ocultar os malfeitos dos petralhas, nada mais faz do que se tornar vilão do
processo institucional, ao cometer crimes dentro do ministério publico, ao
começar a usar o órgão para serviço da ORCRIM. Portanto: Ou o Janot arquiva o
caso Gleisi (o que já está fazendo), do Eduardo Cunha e outros, engavetando
tudo, ou gerará um desconforto sem igual.
Diante
disso, o povo quer que o Janot seja procurador de fato e abra indiciamento
contra todos os políticos que aparecem desde a lava-jato, passando pela lista
HSBC, até chegar ao caso Panama Papers, não poupando ninguém; enquanto que o
meio político só quer que o engavetador arquive processos de todo mundo,
fingindo que nada existe. Porém, o que o Janot está fazendo, de verdade, é ser
o seletor do crime, fulminando desafetos, protegendo a petralhada, e, talvez o
mais tenebroso de todos, chantageando oposicionistas para apoiarem o governo,
forçando, pela pasta ministerial, uma ditadura a favor da ORCRIM.
Quem
entende de “timming” político sabe que o Janot, não tem meses, tem alguns dias
para ou arquivar todo mundo (salvando até o malvado favorito do Cunha) ou
indiciar todos os corruptos, para não correr o risco de ser, até mesmo,
indiciado por outro procurador, no final de 2017. Imagine a situação: Temer
vira presidente, tem com isso uma divida politica com Cunha, que pagará o
débito ao colocar um procurador no ministério público que mande investigar o
Janot, com as suspeitas de: extorsão, chantagem, concussão e prevaricação.
Peculato, talvez não, mas vai que acha? Seria realmente penoso para o
procurador seletor do crime. Por isso que o certo, pelo prisma político
(repetindo: pelo prisma politico), seria Janot ser o engavetador. Todavia, se o
procurador arquivasse o caso Cunha, o PT já teria caído, pois não teria ninguém
para bater, ninguém para contestar. Enfim, pela situação criada pelo próprio
representante do Ministério Público, as coisas saíram do controle. Por isso,
Tic-Tac, o relógio está correndo, Janot. Tem até 2017 para fazer um acordão
(político), ou indiciar todo mundo para não prevaricar.
E
no sentido de narrativa e ilustração, não adianta também fulminar Lindbergh Farias como boi de piranha da corrupção, ao absolver Gleisi, e manter Cunha indiciado
por causa de azedamento político. Repetindo: O povo quer todos os corruptos
presos; enquanto que os políticos não querem ninguém. Janot achou que o cargo de
ministério público era playground dele e resolveu brincar. O problema é que na
política, a brincadeira é sem graça. O que o seletor do crime irá praticar? O
dilema é que, pra quem tanto seleciona, selecionado está. Janot, qual é a
sensação de não possuir tinta na caneta? A Dilma já sabe. É o sabor da impotência.
Portanto,
é como a jornalista Joice Hasselmann diz: Cunha é o político errado, no lugar
certo, por motivos errados, fazendo o que é certo. Já, no parecer de quem
entende política, Janot é o procurador errado (PT na lapela), no lugar errado
(não deveria ser procurador), por motivos errados (seletor do crime), fazendo o
que é errado (tanto pelo prisma político quanto moral – fulmina todos ou
ninguém). Janot tem que parar de ser o assassino de reputação dos políticos
desafetos, pois isso desequilibra o meio político, azeda o meio institucional,
desagradando todo mundo, podendo ser fulminado no futuro, em que o feitiço
poderá virar contra o feiticeiro. “Ai que saudades do engavetador”. Tic-tac,
Janot.
Obs:
Eu estou com o povo, pois eu quero que TODOS os políticos sejam indiciados,
investigados e punidos. Acabaria com o PT.
O Seletor do Crime de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível emhttp://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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