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Verás que um Filho teu Foge à Luta

Por: Júlio César Anjos

O brasileiro nunca foi de fato um povo beligerante porque nunca teve “oportunidade”. Embora o escritor/historiador Laurentino Gomes tente criar em seus livros (1808, 1822 e 1889) um aspecto de combates na linha de tempo da história nacional, o fato é que não houve conflitos em aspectos globais, somente convulsões em momentos pontuais, nada que se compare, por exemplo, à guerra civil espanhola ou americana (secessão). Diante de tal fato, “Verás que um filho teu foge à luta”. Portanto, só resta saber se a evasão pusilânime de combate se dá pela elite ou pelo povão.

Em números absolutos, o Brasil é hoje o país com a maior quantidade de homicídios do globo terrestre. Ou seja, é a nação que mais mata no mundo, superando até mesmo índices de guerras. Sendo assim, para um desavisado qualquer, a matança recorrente no território nacional seria a prova fatídica de que o brasileiro é um povo “guerreiro”. Nada mais falso, pois o compatriota não luta – por hora - por valores (uma bandeira, uma crença, um bem-estar social), mas cria querelas diante de tão somente transgressão de regras inócuas, diante de um estado falido, que possui um governo que ainda incentiva o ódio nas camadas populares.  É o empirismo de Sodoma e Gomorra. Qualquer país jogado à revelia como o Brasil teria explosão de violência geral, não configurando, assim, como um povo “guerreiro” que luta por algo a mais.

Enfim, tirando as convulsões pontuais: Tamoios, Farroupilha, Contestado, Equador (Pernambuco), entre outros, o fato é que o Brasil nunca teve uma luta armada que contaminasse toda a limítrofe territorial. As conflagrações são como se fossem acupunturas de desastres. Por isso que, hoje em dia, não se pode contingenciar a guerra ao tráfico à guerra civil, embora tais condições sejam bem parecidas. Porém, um povo assassino também não pode ser considerado 100% (cem por cento) pacato. Diante disso, houve muito no Brasil aquilo que pode ser chamado de transição, em que, toda vez que soou o alarme de um problema de comoção, a elite fez aquilo a ser caracterizado na política como ”travessia”. A elite sempre teve surtos de Agorafobia.

O Brasil teve 7 matrizes político-econômicas desde o seu descobrimento até os dias atuais: 1) Brasil Colônia; 2) Brasil Império Português; 3) Brasil Império; 4) Brasil República (Coronelista); 5) Brasil Ditatorial; 6) Brasil Militarista; 7) Brasil “Democrático”. Ao olhar essas transições, que são chamadas eufemisticamente de “travessias”, as conclusões são: que não houve expansões de conflitos (sempre existiram quiproquós pontuais); a elite sempre “entregou o bastão” ao ver o despertar de uma possível luta armada em curso (impedindo que o povo os guilhotinassem), ao aceitar as mudanças graduais conforme o tempo passava; e tal situação gera incógnita sobre se o brasileiro entraria numa guerra civil, caso a elite não fizesse modificação solicitada pela população, ou se o povo se conformaria com o “status quo”, diante de um governo opressor e arredio. É a dúvida que persiste até hoje.

Do período do Brasil colônia – de exploração – pouco ou nada se acrescenta, apenas que o Brasil era o hospedeiro do parasita império português.  A mudança, porém, de colônia para extensão de império português (com a vinda da coroa em 1808) já se dá pela covardia da elite portuguesa, em que se utilizou da mesma estratégia russa, que foi a de fugir de Napoleão para poder sobreviver. Ou seja, Dom João VI é um “cagão”. Já na “Independência do Brasil”, a situação foi semelhante, pois já havia grande comoção sobre as questões liberais, na qual a elite da época viu os ocorridos desde a revolução francesa, passando pela liberdade americana, até chegar à vizinhança dos “libertadores da América”, tendo Bolívar como agregador geral da “revolução”, em que tal condição soou o alerta diante dos “déspotas esclarecidos” da realeza portuguesa, que não tiveram outra escolha a não ser dar a “Independência” para o Brasil. E na mudança entre o Brasil monarquia para a República, a situação é semelhante, pois o povo já estava embebecido pelas ideias da República – é só constatar no livro Esaú e Jacó, de Machado de Assis -, em que os marechais “tomaram o poder” sem dificuldade alguma, pois o povo, consentindo o “golpe”, aceitou a mudança de regime governamental. E, também, a coroa não lutou para manter-se no poder, entregou o poder sem confusão alguma.

O Brasil, assim, deixa de ser monarca e vira “coronelista”, com a ajuda dos marechais – e do povo, ao não defender a coroa. E o tempo de sobrevida da política do café com leite vai até haver o desgaste, em que as odes políticas só viam Minas Gerais e São Paulo fazendo a troca das cadeiras no poder, como se o resto do Brasil não existisse. Com ajuda dos integralistas no campo filosófico, o gaúcho Getúlio Vargas dá um golpe de estado, e de novo o povo dá as costas para a elite política em voga naquele momento. Vargas, então, faz o populismo que vai desde a constituição até a criação de “campeões nacionais”, empresas estatais “orgulho” da nação. Vargas mantem-se no poder até o flerte do comandante com o povo começar a azedar. E por uma incrível coincidência, justo no momento que o povo começa a querer insurgir contra o “ditador”, Getúlio Vargas comete suicídio, unindo o útil ao agradável.

Lembrando que ingovernabilidade é deixar o líder político “na mão”, texto que já fora escrito no blog Efeito Orloff. Por isso, até essa altura da história brasileira todo e qualquer chefe de estado entregou o poder para evitar convulsão, ou os golpes foram dados sem que a massa defendesse o comandante que estava no poder. A única convulsão social que fez com que o povo “defendesse” uma ideia foi no contragolpe militar de 1964. Nesse período, João Goulart estava no poder, queria implantar o comunismo no Brasil, mas o povo não deixou isso acontecer, indo às ruas protestar contra o presidente na época, em meio a uma guerra fria em voga, um exército dividido, com o poder nas mãos, mas sem as massas, que pediam intervenção dos militares, sendo atendidos pelos homens da bota de prontidão. Mais uma vez a elite resolveu recuar e entregar o poder ao novo regime político.

E, sendo assim, o militarismo vigorou até a chegada da “democratização”. O povo já protestava pelas “Diretas Já”, queria ter o direito de votar, em que tal reivindicação, com certeza, faria o militar deixar o poder, também, pela urna. Para evitar confronto e perdas maiores, os militares fizeram a “travessia”, entregando a política através de eleição. Com a “democracia” recém-nascida, a elite, no primeiro soar de insatisfação, atendeu ao povo, destituindo, através de impeachment, o primeiro Presidente eleito diretamente, Fernando Color de Melo. Mais uma vez, como sempre aconteceu no curso histórico, a elite acatou a reivindicação popular. A “democracia” foi restabelecida, as eleições determinaram os presidentes do Brasil, até chegar ao ápice à incompetência casada com a corrupção. Agora a massa quer impeachment da Dilma.

Porém, pela primeira vez na história, a elite política (fusão com a econômica) não atende a massa de prontidão. E será a primeira vez, também, que o Brasil saberá, enfim, o que acontecerá se a elite não “largar o osso”, fingindo que o problema não existe, e ainda forçando a barra, mantendo uma presidente totalmente sem condição no poder. Dilma só tem 5% de aprovação, o que mostra que só a elite segura a presidente no poder. A elite começa a provocar a massa popular. O PT diz que destituir a Dilma é golpe. Golpe seria se um grupo qualquer tentasse solapar o poder à força e o povo, indo às ruas, defendesse a Dilma de tal ameaça iminente. O que acontece é ao contrário, o povo que quer impeachment enche as vias das cidades, enquanto que o petralhismo não enche uma rua sem saída mesmo à base de muito pão com mortadela. O petralhismo jaz.

Portanto, pelo conhecimento histórico, a elite sempre concedeu ao povo aquilo que a massa desejou. Até Ulysses Guimarães disse, certa vez, que: "o que o povo quer, a casa vota". Enfim, verás que um filho teu foges à luta. Mas quem fugirá: A Elite, com medo do povo? Ou a massa com medo da opressão? E, diante tal situação, pela primeira vez desde o descobrimento do Brasil, a elite segura um chefe de estado que o povo não o quer, e tal comoção pede desde impeachment da Dilma até intervenção Militar, anseio ignorado pelos poderosos que, pelo jeito, querem, enfim, saber de fato se o povo é revoltado ou bovino. Mas o brasileiro, pelos números registrados, é um país “assassino”; e o povo com fome vira bicho. Desta forma, a elite dessa vez parece que quer pagar pra ver, pois não estão com medo do povo na rua, com suas guilhotinas revoltosas, e nem da reação originada pela falta de ação das hordas políticas e toda a sua repercussão.

  Que os jogos comecem.




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Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.

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