Por: Júlio César Anjos
Todo
dia ao ligar a televisão, na hora de pico, é transmitido na TV, seja em rede
regional ou nacional, o programa de noticiário criminal. Por que se coloca no
ar tal segmentação? Simples: Porque dá audiência. Mas mesmo se não desse
nenhuma audiência, certamente seria, mesmo assim, exibida tal programação. O
noticiário criminal serve tanto para o mercado quanto para o governo, pois
serve como ferramenta social. O crime faz parte da realidade humana, por isso
tal condição deve ser divulgada. Porém, há de se ater somente na pura e simples
informação, o que, certamente, não acontece nos dias atuais. São vários itens
que explicam o porquê do mercador do crime, mas dez critérios satisfazem a
análise em questão.
1)
As pessoas gostam de violência. É só ver no mercado que os jogos violentos são
os mais vendidos – os filmes também possuem boa audiência -, além do “esporte
UFC” ser bem sucedido em vendagem de pacote estilo “première”, o certo é que
violência VENDE. Portanto, é notório saber que o crime será visto pela população.
Além do fato de ser uma realidade, em que deve ser divulgada pela TV. Nem todo crime é violento e nem toda violência é crime. Mas todo crime violento possui repercussão geral - é o que mais dá audiência.
2)
Análise Comparativa. Sempre que alguém olha uma notícia com uma pessoa com
doença rara e/ou terminal, um assistente qualquer vira para terceiros e faz pergunta
retórica: “Que sorte que a gente tem saúde, né?”, faz exatamente análise
comparativa através do noticiário em questão. É a mesma coisa com a violência,
em que a pessoa se sente aliviada de ter sorte em não precisar ir para o crime,
além de não ser vítima de agressão. Mas assistir noticiário criminal gera outros tipos de sensações, que serão explanados a seguir.
3)
GPS do Crime. Imagine que uma pessoa não conhece um lugar em que esteja
perdido, começa a perambular com o carro em um bairro desconhecido e, lá pelas
tantas, consegue chegar ao destino com o atraso devido à desorientação. Ao
conversar com um amigo, no outro dia, o sujeito fala que passou em tal lugar e
o colega passa a bola, dizendo: “Como você é maluco, lá é um lugar da pesada!”. O cidadão andou em um lugar que não sabia ser violento. Se soubesse que tal lugar
era violento, com certeza ele não passaria lá. O noticiário criminal cria o
GPS do crime, para formar um feudo da violência. Gera o tal lugar barra pesada –
exemplo: Linha vermelha, Rio de Janeiro.
4)
Cultura do Pânico. Essa síndrome gera duas situações: 1) A pessoa se revolta e
exige mais Estado; 2) A pessoa fica chocada e, ao invés de se armar, pede para
o Estado o desarmamento. O condicionamento pelo medo dá lastro estatal, em que
no primeiro caso clama-se por um herói; e na outra situação a projeção dos
problemas é atrelada às armas. São alegorias que as pessoas criam no
imaginário, a fim de resolver de forma mágica tal situação, pois, na verdade, estão
em pânico e não caem em epifania sobre o noticiário do crime.
5)
O Crime Cotidiano. Como não se resolve o problema da violência, o crime vira
algo habitual, em que faz parte da rotina do cidadão. Após passar o pânico, e a
vida tem que seguir em frente, as pessoas absorvem tal anomalia e derivam suas
vidas com o problema social a reboque. Assistir
noticiário criminal dia-a-dia faz as pessoas absorverem a violência como algo
banal.
6)
Duvidam de Deus. Uma pessoa assiste à barbárie na TV e diz: “Olha só para isso,
Deus não existe mesmo!”, como se uma coisa tivesse a ver com a outra, o que é
uma premissa falsa, óbvio. Mas para um governo “niilista”, o crime ajuda
sepultar a religião, tirando a força dos pequenos empoderados padres e
pastores, pois afugenta fieis que param de crer. Em casos raros pode acontecer
o inverso. Mas a lógica é o povo cair em resignação mesmo, perder fé e
esperança.
7)
Desvia Atenção. É só estourar um escândalo
de mensalão, petrolão e qualquer outro “ÃO” corruptivo que no mesmo instante
aparece algo em exclusividade para criar uma cortina de ferro contra o escândalo
do PT. E toda vez que o Pelé tem uma prisão de ventre, e vai para o hospital
fazer checagem, a imprensa corre afoita para tentar matar o “rei do futebol”. A
mesma coisa aconteceu com o caso Daslu e dos Nardoni, a fim de asfixiar a
corrupção que estava em voga, para desviar atenção sobre a corrupção petralha.
Portanto, o crime “chocante” desvia o foco, a atenção. Se bem que é tanta
corrupção que um crime escandaloso pode coincidentemente ser deflagrado no
mesmo espaço/tempo. Mas o fato é que o noticiário criminal é ferramenta de
desatenção.
8)
Justifica Cometer Crime. Muitas pessoas defendem programas sociais porque ficam
com medo do curso da vida delas virarem do avesso, em que a pessoa teria que
ser amparada pelo Estado. Por isso que muita gente, pelo medo do amanhã,
defende programas sociais no presente. A mesma coisa acontece com o crime. A pessoa evita
cometer crime, mas pode um dia ter que fazer algum ato violento (como crime
famélico, por exemplo), em que desde já passa mão na cabeça do bandido, dizendo
ser vitima da sociedade. Isso pode ser uma coisa que está no inconsciente. E
por isso tanta gente defende bandido por aí. As pessoas assistem a TV e ficam
com pena do bandido. É um escudo de proteção para um futuro que poderá ser
assustador: a pessoa pode virar o bandido e fabrica a "muleta" desde já..
9)
Condicionamento para a Morte. É como se fosse um treinamento para uma guerra,
em que mostra de forma linear o futuro que se sujeita, pois o homem é violento
por natureza. Isso dá guarida para revolta e revolução armada. Pois inflama, de
forma oculta, a violência popular. A pessoa assiste o noticiário criminal e
pode ficar mais violenta (como a questão dos games e o comportamento no
individuo). Maquina na cabeça que a violência pode não ser a solução, mas
acontece de forma rotineira. Voltaire não insuflou revolução pregando a paz e
fazendo o bem, mas sim manipulando o povo, através de amostras da perversidade
do meio, que uma guerra poderia “salvar tudo”. E quanto mais se vê, mais se gosta".
10)
Destruição da Cultura Vigente. E por fim, arrebenta os pilares da sociedade.
Uma sociedade em anomia, em desordem, que o colapso é a única certeza em
questão, faz com que o assistente tenha a cosmovisão que a paz é somente uma situação temporária de armistício, de curto prazo, e que a destruição é a evolução natural
do homem. Isso gera vácuo de poder por
capitulação. Ninguém consegue administrar um governo “caído”, com um povo sem
orientação e sem regras para se embasar. Pode abrir caminho até mesmo para
ditaduras.
Há
também o caso do noticiário ser arma de um grupo político contra um outro, adversário,
propagando ou omitindo informação sobre crime, mas isso é algo até menos ofensivo,
se for analisar a força que tal veículo de comunicação tem em mãos, para
manipular multidão.
E
você aí achando que o noticiário criminal é simplesmente um espaço que a rede
de TV destina para mostrar a realidade. Nada é inocente, nada é sem querer. Tudo
tem um propósito e é fornecido por algum motivo bem específico, a saber:
Manipular pessoas.
Sugestão
para entender o texto: fazer a leitura do Livro: Laranja Mecânica, de Burgess;
Assistir ao filme “O Ódio”, de Mathieu Kassovitz e estudar sobre o psicólogo
Robert Zajonc, que faz a seguinte linha de pensamento: “Quanto mais se vê, mais
se gosta”.
OBS: Existem mais itens, mas esses satisfazem a analise em questão.
Noticiário Criminal de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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