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MIB3 - A Alegoria Macarthista

Por: Júlio César Anjos

Caso o interlocutor não tenha assistido ao filme –MIB – Homens de Preto-3, e não queira saber sobre os “spoilers” remetidos ao texto, favor descartar a leitura do artigo. Mas se o leitor não se importar com as revelações ofertadas no conteúdo, pois está mais preocupado com o aspecto “inteligível” do contexto, é contumaz que aprecie a leitura de ocasião. Àqueles que compreendem a essência e também assistiram o entretenimento, a resenha será mais compreensível que nos dois casos citados anteriormente. Dada à informação, que se esclareçam as fundamentações da película de Alegoria Macarthista, MIB-3.

Primeiro, deve-se saber quem foi McCarthy. McCarthy foi senador americano, no qual era responsável pelo Comitê de Atividades Antiamericanas, departamento que fazia controle de inteligência dentro do país, diante da eclosão da guerra fria. Em 1947, teve uma designação para o governo americano sondar Hollywood. McCarthy ficou conhecido pela “paranoia” de ver comunistas até embaixo da cama, o que é, na verdade, uma defesa de comunista sobre a questão praxeológica da época. Não era neurose afirmar que existia grande monta de comunistas naquela época, assim como não é delírio afirmar que há excedentes de comunistas hoje, no ocidente, por um simples motivo: A santíssima trindade comunista. Assim como no catolicismo um Deus pode ser ao mesmo tempo três, no comunismo não é muito diferente, pois o socialista pode ser somente: 1) regime governamental; 2) um simples partido político; 3) uma crença ideológica. Ou os 3 de uma vez, como acontece com as ditaduras comunistas. McCarthy dizia que existiam muitos espiões, infiltrados e simpatizantes da causa comunista, o que é um fato, sendo abafado, sempre de prontidão, pela ironia de que ele via comunista em toda parte (até embaixo da cama), dando a entender que seria delírio dele em ver “espião” em todo lugar. O que não é verdade, óbvio.      

Em 1947, no verão desse ano, jornais informaram que destroços não identificados foram encontrados no Novo México, dando origem à primeira onda de paranoia referente a óvnis, em que foi chamado de “Caso Roswell”. Nesse mesmo ano, também, há um filme chamado Monstro do Ártico, que mostra alienígenas bebedores de sangue levados para o centro de pesquisa. A fala final deste filme é instrutiva: “observem os céus, estão em todos os lugares!”, o que podia ser interpretado como uma advertência (de invasão comunista) no país. Outro filme, a Ameaça Veio do Espaço, de 1953, é mais ambíguo; os alienígenas são relativamente bonzinhos, mas habitam temporariamente corpos humanos - o comunista pode ser o vizinho. E no filme Vampiro de Almas, 1956, com seus bandos de alienígenas imitando seus hospedeiros humanos, pode ser visto como uma metáfora da ameaça comunista da assustadora conformidade americana sob o macarthismo. Ou seja, há fortes indícios de que o caso Roswell seja somente uma criação pitoresca para criar uma simbologia na cabeça das pessoas, através de Hollywood, a gerar alegoria que, assim como alienígenas são bonzinhos e se parecem com pessoas normais, os comunistas podem estar infiltrados na sociedade. Tal "arma" de articulação "inserida" em Hollywood, ao comparar comunista com alienígena, gerou, portanto, uma espécie de defesa social de vigilância policial,arma invisível nos EUA, perante a guerra fria.

Depois de usar dois parágrafos para embasar alienígenas e o McCarthy, que referenda a psique do americano nesta determinada época, que se explique, então, o fato do filme MIB3 – Homens de Preto Três -, ser uma alegoria do macarthismo, ou uma metáfora contra o comunismo.  Tanto no MIB1 quanto no filme MIB2 não há fortes indícios das películas serem alguma representação ao aspecto comunista, o que dá para encarar como uma narração de ficção científica tão somente. Já o MIB3, as informações eclodidas no vídeo resplandecem sob a perspectiva de que o filme do Will Smith é uma metáfora da guerra fria.

No MIB3, os agentes secretos, denominados como Agente K e Agente J, se vestem de forma um tanto quanto elegante – do mesmo modo que se vestia James Bond. Tal situação perfaz a indumentária retrô dos agentes secretos americanos na época da guerra fria (terno preto, principalmente). Isso significa que tais agentes do Comitê para Assuntos Antiamericanos – que visava interceptar ações de comunistas - não precisavam de uma insígnia, muito menos de qualquer tipo de identificação, pois agiam ocultamente, assim como os agentes da ficção MIB. A tecnologia que apaga a memória de curto prazo, para que ninguém se lembre do que aconteceu, pode ser caracterizada como ferramenta de censura e/ou de desinformação da mídia. Aquilo que você viu; você não viu. Ponto final. Porque a narrativa e a ilustração quem faz é o governo. Na guerra fria, desinformar era ferramenta de café da manhã, era rotineira. Os agentes, também, trabalham com o segredo, pois, se as pessoas soubessem o que realmente se passa, o mundo entraria em pânico. Enfim, isso é notório tanto no comitê contra o comunismo quanto na questão UFO.

Mas, o que diferencia o MIB3 das sequencias anteriores, não é o terno preto, nem a tecnologia que apaga memória de curto prazo, e nem mesmo o serviço secreto em questão que envolve a composição dessa película de ficção. O que separa o joio do trigo, deste filme aos anteriores, se dá pela data em que o Agente J (Will Smith) terá que voltar ao tempo, em 1969, para salvar o companheiro, agente K, e o planeta. Para começar, o nome do vilão é Boris. Para quem não sabe, Boris é um nome comum na Rússia. Portanto, aquele estereótipo rudimentar de “pelo grosso” é uma caracterização do vilão alienígena, em que dá para associar ao arquétipo russo.  O vilão Boris foge de uma prisão extravagante, que fica na lua. Fica na lua para mostrar que os americanos foram os primeiros a conquistá-la e associa o sucesso dos americanos ao pisarem na lua com a remissão do Russo ao estar preso em algo que almeja conquistar. Até porque a corrida era para ver quem pisaria primeiro na lua, em que o americano ganhou tal “competição”. Ao voltar ao tempo, em 1969, duas situações históricas ocorrem nesse período:

1) A corrida espacial da guerra fria à lua. Ao observar o filme, Boris do futuro encontra o Boris do passado e os dois discutem quase de brigarem fisicamente. Lá pelas tantas, o Boris do futuro reclama que não tem braço, que foi preso e que, pela incompetência do Boris do passado, eles, os “humanos”, conseguiram ir à lua e ligar o dispositivo de proteção do planeta (contra qualquer tipo de ameaça “alienígena”), em que só daria para instalar tal proteção ao utilizar o lançamento espacial como veiculo de transposição. Boris do passado mata o agente K, que não consegue colocar o dispositivo e o mundo começa a acabar. Tal simbologia pode ser a tradução de que, se o americano tivesse perdido na corrida espacial, os EUA poderia não ser potência mundial e, que m sabe, haveria de ser um país “caído” e não poderoso como tal. Para os EUA, perder o hedonismo de bem-estar social pode ser o fim do mundo.  Então, o agente J (Will Smith) consegue voltar ao tempo e inibir a sanha do Boris, o russo, em que salva o mundo da vilania do alienígena - que pode ser traduzido como comunista. O que pode, também, no aspecto de explicação, o contexto girar no sentido de que se os EUA tivessem perdido a corrida espacial, os comunistas teriam vencido no conceito, ao passo que o mundo não seria tão belo quanto é hoje. neste quesito, porém, é pura suposição, ilação conceitual. Outro aspecto interessante é o qual o Griffin faz ao fornecer a arma Arcnet - de proteção global, pois o povo dele foi extinto pelos alienígenas (entenda: comunistas) e não queria que o terráqueo sofresse de forma igual. Sim, o comunismo não só come criancinhas como destrói nações (exemplo: Ucrania, holodomor);

2) A Fábrica, de Andy Warhol.  Em 1969, além da guerra fria, os EUA lutavam também contra a guerra cultural. Entre o conservadorismo e o “progressismo”, felizmente o conservadorismo ganhou um pouco de fôlego, apesar de perder no longo prazo – como hoje em dia, por exemplo -, em que tal vitória não só deu recompensa para conceber aos americanos todas as benesses de empoderamento, como também refreou a sanha dos comunistas, ao tentarem implodir os EUA através do relativismo cultural. E, no filme MIB3, Andy Warhol é o agente W, que está infiltrado na moda – as celebridades, nesse sentido, seriam “alienígenas” -, para controlar e ver se algum “alienígena” sai do prumo. Isso faz todo o sentido, pois Andy Warhol até 1969 era um ativista da contracultura e, após ser baleado por Valerie Solanas – extremista feminista-, Warhol sofreu consequências após o ferimento e nunca se recuperou completamente daquele martírio, perdendo o elo que tinha com a "era aquariana", que era uma ferramenta contra o capitalismo. Após essa situação, Warhol começou a pender mais para o lado do “capitalismo” (não se sabe se a mudança foi porque ele foi agredido por uma extremista de esquerda ou porque era mesmo da direita, só que “infiltrado”). Sempre lembrando que antes do acontecido, Warhol já tinha feito as latas de Campbells e as 20 Merilyns, que eram “ferramentas capitalistas”. Talvez Warhol seja o mais capitalista de todos os artistas que já existiram na história, sendo bem compreensível que fosse o agente "infiltrado" W do filme, por ser diferente dos demais “alienígenas” (comunistas).

Portanto, MIB3 é sim uma alegoria macarthista ou uma metáfora anticomunista atual. Se e mundo estivesse numa guerra fria, de forma declarada e não oculta – como acontece hoje -, as pessoas compreenderiam as simbologias do filme e denunciariam MIB3 como uma película Macarthista, que faz alusão dos alienígenas aos comunistas em ascensão.  Enfim, não é só a esquerda que faz películas com outras intenções, a fim de evocar as premissas através de uma ilustração e narrativa contextual. MIB3 é uma película de caráter "direitista", embora seja uma exceção no mercado de entretenimento mundial. 

Viva a diferença.    


  
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MIB3 - A Alegoria Macarthista de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.


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