Por: Júlio César Anjos
Parodiando
a música Se essa rua fosse minha: “se essa rua, se essa rua fosse minha/ eu
mandava, eu mandava vermelhar/ com estrelinhas, estrelinhas do PT/ para o meu,
para o meu ideal passar”. Haddad acha
que é dono de via pública. E faz o que bem entender. É do feitio de todo
autoritário que almeja revolução, obrigar, através de coerção, aquilo que tal
ditador deseja modificar. A ciclofaixa é um exemplo de luta geral, embora
pareça algo inofensivo, atende a uma premissa de programa Internacional
(Situacionista).
Antes
de pintar a faixa no chão, o Partido dos trabalhadores (que não trabalham) deve
criar algo diferente do status quo, a fim de perturbar o ambiente e fazer a tal
modificação que o grupo político tende a oferecer. Portanto, o PT fez o parasitismo
socialista, em que dominou através do entrismo as “associações de ciclistas”,
para “defendê-los” da tirania motorizada em ascensão (inexistente e criada pelo
PT), em que se gera a dificuldade para trazer a facilidade. O PT, diante disso,
cria: o vilão – Os carros; A vítima – os ciclistas; E o herói - Haddad (PT).
Situação anômala para vestir o candidato do PT de “bom moço”, a moldar a
ilustração e a narrativa diante de uma determinada situação. Mas o objetivo,
por incrível que pareça, é pintar a ciclofaixa para obter controle e poder.
Todavia, que se responda a pergunta: O que é a ciclofaixa do Haddad? Nada mais
é do que tinta guaxe pintada na sarjeta. É pigmento que evoca a ideia de sangue
escorrendo pelo bueiro. É chorume colorido imputado ao chão. É obra de caráter
de mau gosto, démodé e insignificante, por não ser necessidade primária. Portanto,
não atende a população. Muito menos é algo bonito de se ver. Mas por que,
cargas d’agua, o Haddad continua com a sanha? Simples, porque o objetivo não é
estético, é de domínio comportamental. E, aí, alguém dirá: “falar mal da
ciclofaixa é violência verbal gratuita, através de insultos torpes”. Porém, há
de se aviltar um pouco a condição das bestas-feras da “sociedade mortadela”. A ciclovia, também, em Nova York é verde e em Copenhague é azul. Não é obrigatoriedade pintar de vermelho o chão. A obra do Haddad é uma modificação que com somente solvente pode-se desfazer tal construção. Enfim, é arquitetura blasé. Chega de delongas, que se explique o porquê da utilização de tal instrumentação a serviço do PT.
O
anseio maior se estabelece na busca pela meta incutida pelas três vertentes da
Internacional Situacionista: 1) Inibir a Sociedade do Espetáculo; 2) Imbuir a
Psicogeografia; 3) E Habituar a Deriva.
É questão de modificar ser humano por estereótipo e pelo arquétipo,
fazendo das pessoas cobaias dos experimentos empíricos socialistas. O que sair
desta experimentação poderá ser copiado a demais regiões dominadas por
comunistas ou poderá ser descartada a ação, por causa da rejeição popular.
Diante das circunstâncias – até o “Brahma” (vulgo Lula) já criticou a
ciclofaixa -, por isso é que a tendência é essa excrescência desaparecer.
A
Internacional Situacionista surgiu em 1957, sendo influenciada pelo dadaísmo,
surrealismo, fluxus e outras correntes utópicas da época. O termo
(internacional situacionista) se dá pela “confissão” de que o capitalismo é o
sistema dominante, porém, imperfeito, deve ser aparada algumas arestas e ligadas
algumas pontas soltas, que “a sociedade” (entenda-se comunistas reformadores)
deve “consertar”. Em suma: Domar o capitalismo que funciona, seja pela arte,
arquitetura, moda e etc. Tal profusão fez com que o movimento buscasse combater
três condições: 1) Fetiche; 2) Alienação; 3) Conformismo. Pela análise psíquica
da ciclofaixa, o carro (mesmo do trabalhador) atende a esses três itens? E a
bicicleta? Portanto, é compreensível, pelo aspecto ideológico, que haja essa
“guerra” de padrão.
Na
publicação do livro Sociedade do Espetáculo, de Guy Debord, observou-se que
muito do que fora escrito naquela época se materializou nos dias atuais. Por
exemplo: A questão de a tecnologia reduzir a interação interpessoal física na
sociedade. Isso foi profeticamente previsto pelo pensador
comunista. Mas ele não conseguiu visualizar os ganhos que a sociedade teria (e
hoje tem) com as melhoras da tecnologia, pelo dia-a-dia das pessoas, como a
comunicação em tempo real, por exemplo. Mas divaga-se sobre isso, pois ninguém
é perfeito e o pensador seria bruxo se acertasse tudo. Na sociedade do
espetáculo, há o fetiche, a alienação e o conformismo. As pessoas necessitam (se alienam) e compram o
carro que melhor se adequa aos desejos
(fetiche); vivem em função do carro; e ficam satisfeitas (conformadas) pelo produto consumido. Portanto, o
leitor já ouviu o conceito de marketing: Satisfazer
necessidades e desejos? Pois então. Isso que o Haddad quer combater,
através da guerra ideológica, em que usa o proletário com a bicicletinha
surrada como balão de ensaio, a combater o perverso “magnata” preso no
congestionamento.
Mas
o combate da sociedade do espetáculo não precisa ser diretamente lutado, pode
ser desarticulada através de ações indiretas, como é o caso de tributos e
barreiras não tarifárias. É o caso da indústria da multa nos carros e da
taxação de produtos de “luxo”, o que jocosamente (desculpe invadir o texto em
primeira pessoa) eu chamo de “Imposto Instagram” e/ou “taxa ostentação” [Cobrar
impostos de smartphones, vinhos e direito de imagem (tal situação pega em cheio
a figura pública que ostenta na internet, publicando fotinho bebendo vinho, no
espelho, para mostrar o Iphone novo, sendo que é uma pessoa influenciadora e tem
contrato de imagem por trás)]. Voltando ao caso veicular, há de fazer, então,
uma luta hercúlea contra os carros, pois são artefatos que tornam desigual uma
região. Tendo desigualdade o mundo fica feio, por isso que Haddad asfixia as
vias e está quase impedindo do paulistano médio utilizar motorização.
Quanto a questão da Psicogeografia, a
ferramenta é utilizada mais para longo prazo, a fim de reformar o ser humano
através de semiótica da revolução. Pela definição arquitetônica, Psicogeografia
é a construção de situações. Alguma coisa está lá inerte, sem perturbação do
meio, então há de fazer algum distúrbio em tal região para inspirar alguma
mudança. Um exemplo notório de Psicogeografia se deu na construção, por
exemplo, da rua XV de Novembro, em Curitiba. E essa questão precisa de um
parágrafo inteiro (precisaria de um artigo inteiro, mas um paragrafo resume)
para explicação. Segue:
Em
1972, Jaime Lerner era prefeito de Curitiba e queria fechar a rua XV para
carros, pois acreditava que a via teria melhor resultado somente com pedestres.
Mas a população era totalmente contra, além dos comerciantes desconfiados, pois
poderiam perder receita (a lógica era: se não passa carro, acabou o comércio, o
que é uma falácia – a prova concreta é o shopping). Diante disso, Jaime Lerner,
enquanto democrático, e tendo que articular pela conversa, viu que se fosse
pelo caminho da vontade popular, o calçadão não sairia. Jaime Lerner, então,
forçou a situação e, usando crianças para impedir o trafego na via, fechou o
calçadão, com obra concluída em dois dias. Após a coerção de Jaime Lerner
perante o povo, eis que a sociedade se habituou à mudança, mostrando que a
Deriva funciona pelo comportamento humano. Jaime Lerner também teve outros
projetos de Psicogeografia bem sucedidos, como a Ponte do Guaira (ponte que, na
época, ligava o nada a lugar algum) e a conectora quatro (Hoje a principal via
do bairro Campo Comprido), ações que podem ser vistas no livro Acupuntura Urbana, de Jaime Lerner. Mas poderia dar errado o projeto de Jaime Lerner,
assim como não está dando certo a ciclofaixa de Haddad.
Voltando
ao tema, a Psicogeografia visa mudar a arquitetura, através de estudos do meio
geográfico, especialmente espaços públicos, a chegar ao objetivo da mudança da
estrutura e também do comportamento dos indivíduos. A pintura de ciclofaixa é
uma alteração do meio, uma perturbação na estrutura urbana, a fim de modificar
a condição do ser humano inserido na sociedade, através de intervenções arquitetônicas
das regiões. Na cabeça dos comunistas, agir diante da revolução é algo
“popular”, mesmo que esse “advento popular” seja rejeitado de fato pela
população. É premissa comunista fazer o que é “melhor” para o povo, nem que a
execução seja forçada por coerção.
E
a Deriva é o ato de que as pessoas acompanham as mudanças sem reclamar. Para os
socialistas, se os projetos arquitetônicos são facilmente aceitos pelas
pessoas, então o problema não está na construção feiosa que o capitalismo
produz, mas na alienação que as pessoas sempre estão propensas a acometer. Até
porque uma construção de um prédio, na cabeça do socialista, por exemplo, não é
uma intervenção de um individuo na propriedade privada, mas uma célula no
ambiente coletivo. Por isso que na Deriva o sujeito aceita “tudo” que seja
modificado por indivíduos, por isso que há a necessidade de intervenção, para
modificar a sociedade, e criar a deriva sob o aspecto comunista.
Diante
de tudo isso, alguém dirá: Ah, é algo inocente, é só uma pintura no chão. Não é
não. Tudo tem uma semiótica por trás, com gama de estudos, a fim de obter a
única coisa que os homens buscam incessantemente desde os primórdios até os
dias atuais: Poder (não é nem dinheiro).
Assim como Jack Wilder (Dave Franco), no filme Truque de Mestre, ao
avistar a porta trancada (com tranca), e um dos personagens indagá-lo que a
porta estava fechada, a personagem diz: “A porta nunca está fechada” (o que é
um fato). Assim como dificilmente há coincidências, nada é sem querer e tudo
tem um propósito por trás.
A
esquerda (cita-se PT), por incrível que pareça, quer jogar no lixo a revolução
proletária, mas no lugar tem que colocar alternativas revolucionárias, sendo a
Internacional Situacionista uma opção. O problema da inserção da Internacional
Situacionista perante as demais “revoluções” mais viris é que tal profusão é
uma jogada de risco, em que se pode perder ou ganhar muito com tal execução.
Tanto é que as ações de Jaime Lerner como agente de mudança geográfico bem
sucedido deu ao prefeito de Curitiba popularidade e status de genialidade que
se conservam até hoje. Porém, Haddad, ao passar textura rubra no meio fio, o
que o prefeito de São Paulo fez foi somente ficar mais impopular do que
outrora, não conseguindo nem mesmo a reeleição (só se a urna estiver viciada
pra esse sujeito se reeleger).
O
Haddad apostou em ciclofaixa, ao invés de investir em Boulevares em alguns
pontos dispersos e parques na limítrofe da cidade. Foi querer enforcar o trânsito,
que já é caótico, de São Paulo, coagindo os proprietários de veículos através
de multas e falta de atratividade por, forçosamente, terem que se locomover de
forma pachorra. E teimou no erro. Agora é tarde para voltar atrás, o estrago
está feito, e terá que aceitar o fardo de ter errado na estratégia de
Psicogeografia. Se pintar ciclofaixa tivesse dado bom resultado, Haddad seria
não só reeleito prefeito, como também poderia ser até mesmo futuro governador
do Estado de São Paulo. Errou e será jogado no limbo político. Porque a
revolução não pode parar.
Obs: Um dos objetivos precípuos da Internacional Situacionista era dominar a UNESCO. Será que eles conseguiram dominar a Unesco? Pergunta retórica.
Obs2: O atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, embarcou na viagem de querer imitar São Paulo, sem saber do que se trata e qual o motivo real da condição, ensejou execução sob o verniz de "via calma". Ainda bem que o delírio de Fruet não decolou, pois senão já estaria no limbo político, assim como está Haddad. Foi salvo pela omissão.
Haddad e a Internacional Situacionista de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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