Por: Júlio César Anjos
Eu
era favorável ao impeachment até a segunda grande manifestação ocorrida neste
ano de 2015 – a primeira, em 15 de março e a segunda, em 12 de Abril. Na primeira
ocasião, tudo parecia convergir realmente na destituição da presidente. Mas,
infelizmente, houve uma blindagem geral para tartamudear o avanço do pedido
popular; em que no segundo protesto popular, um pouco mais esvaziado, tal
ambiguidade provocou desconfiança geral. Brasil, hoje, claudica triste, em meio a
dúvidas no ar. Mas a pá de cal para eu ter mudado de ideia foi algo até menos
expressivo, mas que gerou a resposta que estava esperando: desse jeito, o
Impeachment não sairá.
Uma
das coisas que me incomodaram, profundamente, foi a questão do Movimento Brasil
Livre (MBL) fazer peregrinação. Aquela estratégia jogou um banho de água fria aos
entusiastas, não só no sentido de fracassar no propósito, mas, após não obter
êxito, escolher a oposição a quem culpar. Isso gerou mal-estar e ruptura, pois,
a cobrança tornou-se inócua perante anseio que o grupo esperava alcançar naquele dado momento. O
grupo MBL saiu para a peregrinação, dizendo que eles seriam guiados pelo povo,
portanto, eram apartidários. No meio do caminho, fizeram duras críticas ao
PSDB - a oposição formal, de fato. Para, no fim, pedir penico para o Eduardo Cunha (PMDB), tirando até mesmo
aquela foto de “coalizão” (ver imagem abaixo) e “festa” da democracia. Pelos sinais, não era sério. E, vendo a articulação dissolver, até tirei um mês
de “férias” do meio político, para colocar a leitura em dia.
A
Dilma não será destituída porque o PMDB não quer fazer ruptura com o PT.
Simples assim. Mas, aí, alguém dirá: “Ah, mas eu vi na internet que o Eduardo Cunha
criticou o PT”; ou então: “O Renan Calheiros é contundente contra a gestão da
Dilma”. Deixe-me explicar o óbvio, essa sentença veio do Ulysses Guimarães, um
dos grandes políticos do “MDB de Guerra”:
Em política, até raiva é combinada. Uma coisa é falar asneira qualquer em
holofote, na TV, aprovar ou rejeitar alguma votação no congresso. Outra coisa é agir
contra o aliado político. Até agora, as ações do PMDB nem mesmo feriram o PT,
quanto mais criaram celeumas que tornassem o casamento entre os dois partidos
(PMDB e PT) insustentáveis.
O
mais triste de tudo é que, hoje, somente o PMDB tem poder de tirar o PT do
poder. Não só porque é o maior partido do congresso, mas também porque tem
ótimo portfólio nos Estados (seja como governador, vice, ou da base aliada de deputados estaduais); e detém
o maior número de prefeituras, além de grande quantidade de vereadores em
geral. O povo pode, através de pressão nos “currais eleitorais” (detesto o
termo, mas é inteligível), fazer com que o PMDB mude de ideia, ou seja, se o
povo denunciar que o PMDB está salvando o PT, e tal situação contamine o PMDB
nas próximas eleições, pode ser que, desta forma, o impeachment saia. O PSDB é o terceiro partido em cadeiras no
congresso, não possui um portfólio robusto nas “colônias” e, com o MBL
criticando a falta de força da oposição, ai que a coisa fica mais difícil
ainda. Se o PSDB fosse o maior partido do congresso e das “colônias”, o
impeachment já teria saído faz tempo.
Abre
parênteses: Para entender o congresso, é preciso interpretar os sinais que são
enviados lá de Brasília. Um exemplo contumaz que o PMDB afaga o PT, mesmo nesse
momento mais difícil, pode ser visto no episódio da Venezuela. A comitiva de
Senadores da oposição, com aval do congresso nacional e da aprovação do governo
de Maduro, foi para a Venezuela para visualizar as condições democráticas no
país vizinho. O governo Venezuelano sitiou os senadores brasileiros. O PMDB –
em conluio com o PT -, depois de ocorrido tal desconforto diplomático, ao invés
de banir a Venezuela do MERCOSUL, resolveu escarnecer a democracia, enviando
fanfarrões para a “província de Maduro”, pois acreditam que mandam em tudo.
Fecha parênteses. Se o PMDB não consegue
nem ao menos mostrar que é democrático perante ocorridos na Venezuela, vocês esperam
mesmo que o PMDB seja democrático aqui, no Brasil? E há ainda quem jure dizer
que o PMDB é oposição. Risos.
Mas
o povo tem o poder de tirar a Dilma, se quiser mesmo à destituição. Só que o povo deve saber, desde já, que não
contará com colaboração inicial de base aliada (PMDB), nem de oposição (poucas
cadeiras no congresso), muito menos de instituições – até mesmo as forças
armadas -, pois a sociedade está sozinha. Agora, se a manifestação for um
sucesso, conduzindo muita gente na rua, e colocando PMDB e PSDB no ”tronco” –
cobrando muito mais do PMDB por ser maior, é lógico -, mostrando que, quem
estiver com o PT tem muito a perder, aí sim, as coisas mudam da noite para o
dia. Caso contrário, é só perda de tempo. Não quero jogar água no chope, mas é o que é,
infelizmente.
Portanto,
a menos que o PMDB mude a postura daqui pra frente, dificilmente Dilma sairá do
poder. É crise até 2018. porque o PMDB se ensaboa demais diante das pressões
populares. E os movimentos que articulam a deposição da comandante, geralmente
erram o alvo, pulverizando a missão, em que, tal situação, gera ambiente de incertezas
e frustram àqueles que querem mudança no país, justamente por causa dos
fracassos sucessivos. É verdade que o
poder emana do povo. Mas dificilmente haverá massificação de gente na rua, como
aconteceu em 15 de março de 2015, sem que tal ação não tenha gerado o resultado esperado (impeachment da Dilma), mostrando que, na
república das bananas, o poder emana do PMDB.

Impeachment: Explicação sobre a Mudança de Opinião de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br/2015/07/impeachment-explicacao-sobre-mudanca-de..
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