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Vencer Eleição ou Ganhar Conceito?

Por: Júlio César Anjos 

Todo mundo acha que ganhar votação é a coisa mais importante, ideologicamente, no contexto político, ignorando o fato que a eleição é somente formalidade. O bom mesmo é ganhar conceito, em que o povo exige certos tipos de normas que em muitas vezes são incompatíveis ao ideário do político vencedor na apuração da urna. Portanto, um político de “direita” às vezes vence eleição ao utilizar propostas da “esquerda” (e vice versa), sujeitando-se a figura pública a escolher posição por causa de conflito de interesses entre governante e governado.

A eleição ocorre a cada quatro anos, a saber, com o intuito apenas de compor equipe de trabalho, ou seja, formalizar a personagem que fará articulações, execuções, em cima de uma diretriz. O que importa mesmo é o como fazer, em que terá que decidir e margear em cima daquilo prometido em campanha, com o político sendo “honesto” com o povo que o elegeu em uma tribuna qualquer. Ou seja, o conceito é precípuo em relação à formalização da urna.

Em política, não dá também para governar a ferro e fogo. Mesmo havendo doutrinas específicas em agenda de campanha, é notório saber que algumas exceções serão feitas, pois minorias vencidas na urna também fazem parte de representação, ao ter “expertise” em uma área específica, tendo o governante que fazer acordos para governabilidade sadia. Por isso que política é conversa.

As premissas de campanha são mais substanciais do que o ideário do político, pois, se a execução administrativa de governo for relativizada, tal problema gera a anomalia de ter que governar em regime de exceção. Ou seja, o rabo abanará o cachorro. O povo quer uma coisa e o governante quer outra, gerando um impasse governamental, criando rejeição desse povo pelo político que outrora foi aclamado na eleição. Tal governo fica maçante, com desgaste elevado, pois o governante enganou o povo, para conquistar o poder, a fim de tentar reformar a vontade da população, criando ilação sobre crença ideológica. E, cada dia fazendo coisas a contragosto do povo, tal político perderá legitimidade por ignorar o eleitorado.

Mas nem sempre a voz do povo é a voz de Deus. Às vezes o político tem que fazer o que é certo perante aquilo que é popular. Isso gera austeridade e boa administração em cima de preceitos balizados pela norma do bem administrar. O problema recai quando o político ideário conflitante à vontade da população utiliza das artimanhas de exceção para envasar ideologia a contragosto do povo. Tal mecanismo mostra quem é o político de fato, podendo gerar até mesmo destituição.

Ganhar eleição é a coisa mais fácil que existe em embate político, por incrível que pareça. Basta que o político tenha estomago suficiente para introjetar de forma continua doses cavalares de hipocrisia, além de cunhar uma marca de defensor de alguma causa de maioria, como trabalhador (todo mundo tem que trabalhar - em teoria), religião (a maioria do povo é religioso), pai dos pobres (quando a comunidade de votação é pobre), de “raça” (quando a maioria é caucasiana ou afrodescendente) e etc. O problema é que tal apelo às massas especifica pode gerar tirania de maioria, como o exemplo nazista. Mas divaga-se por pormenores.

O duro mesmo é vencer pelo conceito. Ganhar eleição sem demagogia, através da crença pura do político, em que gerou plataformas em cima da crença específica do postulante ao executivo, sem ter que mentir ou remendar ideologia para satisfazer o contraditório e manter governabilidade. Com o eleitor acontece a mesma coisa. Às vezes o eleitor não faz o seu representante administrador, pois perdeu eleição, mas o governante rival tem bases políticas próximas das crenças as quais acredita. Isso gera, portanto, que o eleitor não ganhou eleição, mas venceu conceito.

Na eleição de 2014 no Brasil, as oposições, embora de esquerda, estão flertando com liberdade econômica, um braço de viés da direita neoliberal, em que apesar da direita não estar sendo representada de fato, ao menos pelo conceito a representatividade se sujeita. Perde eleição (por não ter ninguém da direita disputando eleição), mas ganha conceito porque a esquerda tem que confessar que a ideologia, na parte econômica (ainda mais com viés de Marx), não funciona.

Tanto o político quanto o eleitor vencer eleição pelo conceito é perfeito, é honesto e facilita governabilidade. Vencer somente eleição, sem conceito, pela demagogia, faz o gerir do governo ser arrastado por conflitos na base política pela falta de apoio do povo (no longo prazo). Perder eleição e perder o conceito é o caos, pois mostra ao político que a crença política é irreal e o povo que perde na votação se sente subjugado por uma maioria que tem razão.

Vencer eleição ou ganhar conceito? Lógico que o principal é vencer conceito. Ao “estar certo”, o político tem que se reformar ao ponto de ter que “governar para mim”, ao ter que sobrepor o próprio interesse utópico ao “meu conceito” funcional. Ou seja, não foi o político que “eu queria”, mas é o governante que faz aquilo que “eu quero”. E se “eu estiver errado”, o melhoramento que o político que “eu rejeito” fará um melhoramento que me beneficiará também. Duro mesmo é quando um governo está administrando errado, sendo que o oponente tem um conceito certo, mas tal político errante mantem-se no poder por causa de anomalia política. Aí sim é o caos.


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Marina Silva, economicamente, governará “para mim”. Caso não seja hipocrisia somente para subir ao poder, aquilo que se promete em campanha é retilíneo aos preceitos que eu defendo. Ou seja, não voto na Mariana, mas ela governará para mim. Perco eleição, mas venço conceito.

Marina Silva poderá ganhar eleição através dos religiosos, mas já dá sinais de recuo e apoio ao multiculturalismo (movimento gay). Ou seja, a corrente homo afetivo não fará político da mesma linha ideológica do governador, mas terá representação no governo, perdendo eleição, mas vencendo conceito.

Marina Silva, em campanha (se não for hipócrita), está liberalizando a economia, mas restringindo o social (com maior força da bancada religiosa, trazendo o conservadorismo a reboque). Ou seja, fará uma política amplamente de direita, com liberação econômica e restrição social.

Uma coisa é certa: Marina Silva, com esse governo arco-íris (eu chamo de Frankenstein), está mentindo para alguém. Quem? Eu não sei.

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