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O Auto da Papuda

Por: Júlio César Anjos

Um “Auto” consiste em: Ator; Palco; Figurino; Fala (verbal ou não verbal); Diretor (e o Staff atrás da cortina); Equipamentos (luz, som, artefatos como tecidos, plásticos e etc); Figurantes; Platéia; E Duração (do Evento). Tudo isso para criar o ambiente para fazer o que se chama uma peça teatral. E a papuda é um local de reclusão. A prisão dos mensaleiros, por exemplo, é uma peça teatral, é O Auto da Papuda.

Primeiro: Atores. Os mensaleiros do PT vivem a dizer que são presos políticos, ao invés de falarem a verdade: que são políticos presos. Os profissionais das artes políticas vão acenar até pelo drama que o mensalão não existiu e que, por tanto, são inocentes de prontidão. Tudo baseado em sátira, tragédia e comédia. Começando pela ironia que a corrupção viraria “piada de salão” até despojar da tragédia de serem honestos e, por isso, injustiçados.  Os atores usam todos os artifícios para manter a peça em execução.

Segundo: Palco. Para manter o embuste, o local tem que ser uma prisão de verdade. Mas não precisa também ser ao pé da letra, dá para fazer concessões, afinal, ninguém é de ferro, por isso que tiveram mimos no pouco tempo que estiveram “presos”. Há trabalhador que possui muito menos regalia do que os inquilinos da papuda tiveram no tempo em que estavam hospedados no ambiente deste teatro social. Isso mostra o falsete da prisão de faz de conta que o conto prega.

Terceiro: Figurino. Roupa de proletário, óbvio. Toda a composição de roupagem de encarcerado coitado, que é vitima do “sistema” que prende político do povo, enquanto que magnata de colarinho branco está solto. Ou seja, colarinho branco, de verdade, não aparece nos ensaios fotográficos que a mídia perfaz. A roupagem engana pela astucia de uma plumagem da virtude; em que registra a seguinte visualização: “são honestos”. Vai que o povo acredita (?).

Quarto: Fala.  Aqui o duplipensar e a novilingua criam a fala verbal, como, por exemplo, se políticos presos fossem presos políticos, são vitimas ao invés de culpados, são honestos ao invés de corruptos. E nessa trama, o ator só reclama que é injustiçado perante o poder da classe media. E a fala não verbal se dá ao fingir estar com a cara pálida, sofrido por segurar essa “cruz tão penosa” para os coitadinhos “honestos” da nação. Amarrado pela narrativa do sentimento de pena enrustido em compaixão. “Tadinho dos mensaleiros”.

Quinto: Diretor (e Staff atrás da cortina).  Quem será que é o chefe do ensaio? Quem será? Realmente, o Diretor só trabalha com força nos ensaios, em que diz toda hora “corta” e “ação”. Durante a apresentação, o diretor fica atrás do palco, vendo a reação. Se a peça tiver bom desempenho, o Auto da Papuda terá um pai. Se for negativa, o diretor finge até mesmo que não dirigiu a peça.  E os Staffs são todos os petistas que fazem a configuração do espetáculo apresentado. Por ora, O pai do mensalão está escondido atrás da cortina do salão. Parece, por ora, que o trabalho está ruim.

Sexto: Equipamentos: A Luz é a mídia que dá composição, dando mais ou menos luz sobre a trama, informação sobre o escândalo de corrupção. Além de que outros colaboradores criam distrações, além de defender o objetivo principal da peça, que é entreter ao fato que o mensalão não existiu, ou que os políticos foram presos “por engano”. São pessoas que ajudam na apresentação, fazem o mote para essa estória vingar.

Sétimo: Figurantes. São os profissionais que trabalham para distrair ou até mesmo fazer somente plano de fundo da peça. Estão ali mais como marionetes a contento do que agentes importantes no trabalho como um todo.  Os figurantes são os ditos “idiotas úteis” que fazem a defesa no Auto da Papuda, em que nada recebem para apoiar o conto, nem mesmo congratulações no final da peça, simplesmente por não existirem no contexto final. São descartáveis, pois o fim justifica o meio.

Oitavo: Platéia. Se não tiver platéia, não há porque representar. Tudo é feito para que a platéia defenda a narrativa do Auto da Papuda, com performances das mais variadas, além de várias falas e interpretações para criar o ponto alto, que é a defesa do PT perante a história. O aplauso seria o fim, em que os atores tiveram boa sorte em passar a mensagem que o “mensalão não existiu”. Concluído o feito, todo mundo sairá feliz de antemão; caso contrário, o povo até poderá vaiar a apresentação.

Nono: Duração (do evento). A duração do trabalho se dará ao longo prazo, a saber, a mais de 20 ou 30 anos, sendo que o fim destinará em aplausos e mais aplausos, com a catarse do drama em ponto épico, com os petistas se regozijando de tanto esplendor. Ou será ridicularizado, com os componentes sendo hostilizados, com vaias ou arremesso de lixo na peça e nos atores ruins de labuta, porque a história não colou para os espectadores, o povo não engoliu a artimanha incorrida no palco, que demorou tanto tempo para acabar, cansando as pessoas com tanta martelada narrativa.

Aí, a pessoa se pergunta: Por que se deram ao trabalho de fazer tudo isso? Porque daqui a 20 ou 30 anos mais ou menos, ao ver a peça ser narrada, a narrativa será que o PT prendeu políticos, que eram honestos, por tanto injustiçados, que lutaram pela liberdade, tornando-se, no fim, presos políticos heróis de “fato”. Até lá, ninguém vai se lembrar da história, tudo ficará por isso mesmo, com os narradores contando que o PT era/é o partido da ética, da decência, da virtude. É tudo pano de fundo para contar estória bonitinha no futuro, para que a biografia dos petistas não seja esquartejada e que não ocorra até mesmo possível fim do partidão.

O Auto da papuda é coreografia para defender os políticos presos e o partidão (o PT). Vai depender do publico aceitar o que será apresentado nesse palco armado na sociedade, em que os atores são corruptos e as narrativas quem faz são os marotos.  O tempo será ajudante da peça, que de tão longa e desgastante, ficará esquecida de antemão o que foi o mensalão. Auto da Papuda, teatro ao ar livre, em longo prazo, do mensalão. Compre ingresso e assista de camarote o trabalho em andamento, em execução. Ao espectador: Boa sorte.

Licença Creative Commons
O Auto da Papuda de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.

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