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Quem tem Vaia a Boca Soma

Por: Júlio César Anjos

Quem tem vaia a boca soma. Se não tiver boca, não tem como vaiar. Por isso que uma pessoa para falar sobre má educação, chama outra de bocuda. E o bocudo não tem respeito por nada. Por isso que a falta de educação escancara em uma suposta reivindicação, um protesto oral e barulhento, chamada vaia.  O problema da inexistência de respeito denota que até autoridade majoritária pode ser vitima da macula do desrespeitoso de prontidão. Vaiar a Dilma não foi legal, apesar de que se entende o motivo do protesto, ocasionada na Copa do Mundo, por motivos diversos.

A terceira Lei de Newton (O Reaça) explica um pouco a atitude do povo na arquibancada dos estádios, na festa da FIFA. Toda ação gera reação. Quanto mais Dilma tentava atrelar a política com o futebol - assim como Hitler atrelou a olimpíada ao nazismo; e os militares tentaram criar identidade com a seleção -, mais o povo bradou um sonoro não, vaiando toda vez que a presidente vagueava pela comparação. Por isso que muita gente não concorda com as vaias, mas entende a atitude do povo nessa condição.

Até na Roma antiga, nas lutas entre gladiadores, o povo escolhia através de torcida se o combatente vencedor deveria ou não matar o oponente perdedor. Era muito difícil o imperador (despótico e tirano) ir contra a vontade do povo naquela época. Por isso que o governante sempre assentia àquilo que os espectadores queriam ver. Imagina hoje, com a Dilma conflitando toda a sociedade e indo ao estádio, sabendo que o povo iria vaiar de mesmo jeito. Nesse ponto, foi merecida a vaia para Dilma, pois desafiou o povo em geral.

O chefe de Estado é símbolo máximo de uma nação. É a materialização de algo intangível (representante de Estado) que faz o todo virar um só materializado. Quando o presidente vai para uma reunião internacional, querendo ou não é a representação de toda a população de um povoado, por isso que quem vence eleição tem que ser respeitado. O problema é quando a tribo escolhe mal o cacique, tal situação denota de uma falha grave de discernimento, em que pode ocasionar até mesmo a anomalia da pessoa errada estar no local errado e, por isso, fazer barbaridades.

A falta de pessoas certas nos lugares certos destoa problemas de fracassos e falências, seja no bolso do individuo ou em toda a sociedade, fazendo que o protesto tenha até sentido, em dado momento.  Mas quem colocou o presidente lá? O mesmo povo que vaiou o candidato eleito na ultima eleição. Nem todos que vaiaram votaram no presidente, mas, como a exceção não pode nunca virar a regra, entende-se que democracia é regra de maioria e muita gente dentro do estádio foi eleitor do candidato vencedor sim. Portanto, o povo que vaiou Dilma é o mesmo que votou nela, na eleição passada.

A vaia para o presidente mostrou que toda a população foi vaiada. Porém, todo esse povo não ficou com raiva e nem vergonha de si mesmo, olhando o protesto como algo banal, o que na verdade não é – e nem pode ser natural tal atitude. A população, então, cansada de devaneios acometidos no planalto, fez uma espécie de contrato social às vaias que o micro povo que estava no estádio proferiu perante o chefe de estado. 

O problema é que a vaia é falta de respeito, é uma espécie de pirraça de adulto. Uma criança, por exemplo, para conseguir o que quer, faz chantagem emocional com a mãe, criando até mesmo, às vezes, ataque neurótico em um local comercial, pois a mãe não comprou o que a criança queria naquele momento. A vaia é a mesma coisa, é chamar a atenção de forma chantagista para conseguir o que quer. Mas o que o povo quer? O fim da corrupção. O choro é válido, o que não é valoroso é errar no local de reivindicação. A urna é o local adequado para protestos de todos os aspectos, dentro de uma democracia estabelecida.

As vaias renderam mais vantagem do que desvantagem política, ao analisar o cenário pelo todo. No curto prazo a situação saiu perdendo, é óbvio, pois desgasta a imagem pública. Porém, no longo prazo há várias vantagens embutida em tal anomalia, pois o povo, ao vaiar, é livre para protestar, ou seja, cria o cenário de que o governo é tão democrático e a população é tão livre que as pessoas podem até mesmo vaiar chefe de estado (o que é uma mentira assombrosa). Além de que a ferramenta vaia, como arma contra adversários políticos e com o PT sendo oposição, é uma colaborativa muito boa para o PT utilizar a vaia de forma banal, contra todos os adversários que quiser, num futuro próximo.

Quem tem só a vaia como argumento, a boca é a única coisa que soma (que vale). Quem tem inteligência, a vaia somente conta. Quem tem inteligência sabe que a vaia é somente um artifício dentro de vários outros instrumentos para manifestar e ser contrário a seara qualquer. Quem pensa sabe que somente vaiar torna-se a pessoa uma marionete de grupos políticos de moral questionável e qualidade duvidosa. Utilizar a vaia auferida como a defesa de um povo contra um governante tirano e corrupto é uma coisa; utilizar a vaia para tirar governantes legítimos do poder é outra.

A vaia parece algo inofensivo, mas a verdade é que tem um efeito devastador em uma sociedade que elege seus representantes de forma legítima. Uma vaia pode gerar até mesmo a ascensão de autoridades repressivas, que podem inibir tal manifestação, além da volta dos corruptos, por ser utilizado como um títere da elite política.


Portanto, pense bem na próxima vez que vaiar.


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