Por: Júlio César Anjos
O
que se discute hoje em dia é a percepção do crescimento da dita “geração
nem-nem”. Geração nem-nem, para quem não sabe, é o conceito que se dá para jovem
da atualidade que nem estuda e nem trabalha. E “pseudo” significa algo que finge
ser o que não é. Porém, a tautologia se dá mais por uma fatia da sociedade que
se enquadra nos termos (o nem-nem), com os jovens sendo maioria, enquanto que
há no Brasil uma totalidade problemática de pseudo nem-nem, que não estudam e
não trabalham de forma ampliada.
Um
engravatado vai à TV e diz: “Falta mão de obra qualificada no Brasil”. E o
assistente responde de prontidão: “Mas o Brasil está cheio de Universitário
desempregado”. O problema, que ninguém
enxerga, é que a expressão “falta mão de obra qualificada” é um eufemismo para
críticas severas, que, se proferidas, fariam o especialista, que foi na mídia,
virar alvo das pessoas que não suportam escutar a verdade: que brasileiro é
improdutivo, não gosta de estudar e acha que tem só direito e não existem
deveres.
O
nem-nem, em sua maioria, é aquele ser que queima patrimônio patriarcal, é
mimado a não estudar e nem trabalhar, ou seja, é indivíduo que está sendo
nocivo somente em um micro ponto chamado família. Todavia, a olhar
holisticamente, o problema maior é do pseudo nem-nem na sociedade. O pseudo
nem-nem é aquele cidadão que finge que trabalha e/ou finge que estuda. Ele
perfaz às 8 horas trabalhadas e/ou 4 horas de estudo por dia, mas tal
colaborador não está se desenvolvendo, seja impulsionando a indústria, e/ou
trazendo avanços estudantis, para melhorar o arranjo social.
Tal
anomalia se vê através de funcionalismo público (o concursado até estudou para
passar no concurso, mas a estabilidade, geralmente, faz tornar o laborioso medíocre
no longo prazo) e até mesmo profissionais da iniciativa privada (por causa da
anomalia do desenvolvimentismo que gera trabalho artificial, só para manter a
matriz de emprego em andamento). Enquanto todo mundo critica a “geração nem-nem”,
o problema maior conjuntural é a “sociedade pseudo nem-nem”.
O
nem-nem que está trabalhando com carteira assinada, mas é improdutivo e não
gosta de trabalhar, além de estar presente em uma sala de aula, sem que ao
menos goste de estudar, tal cidadão é um pseudo nem-nem. Até faz hora em uma empresa
e/ou Universidade, mas não agrega nada, pra ninguém. Já se viu, muitas vezes,
aluno demitir professor que queria mudar o conceito, porque o nem-nem não
queria estudar. E também já se viu aberração do empresário ser chantageado por
entidade de classe, porque o nem-nem não quer trabalhar. Portanto, antes de
criticar o nem-nem, faça uma analise interna e veja se não é um pseudo nem-nem.
No contexto de sabotagem ou incomodar terceiros, para a sociedade o pseudo
nem-nem é mais nocivo que o nem-nem.
E
na sociedade pseudo nem-nem, os mimos estão em toda parte, desde a
constituição, leis trabalhistas e afins, até o posicionamento político que cria
o artifício de que o Estado tem que ser paternalista. Se no caso do nem-nem o
tutor sofre com a situação, na sociedade pseudo nem-nem todo mundo é tutor e
por isso todo mundo paga a conta desse tratamento artificial.
O
nem-nem de ontem é o pseudo nem-nem de hoje. E o nem-nem de hoje será o pseudo
nem-nem de amanhã. Não é somente a família que agrada a geração atual, a
política paternalista também faz agrados que formatam esse arranjo social
condensado no país. Para fazer o quebranto dessa assombração, só a sociedade
compreendendo que há responsabilidades que devem ser tomadas, seja individual
ou coletiva.
.
Assim como o nem-nem só acorda para a vida quando a água bate na bunda (já
gastou todo o dinheiro da família, por exemplo), o mesmo acontece com o pseudo
nem-nem, que só acorda após o país entrar em uma profunda recessão, uma crise.
Nessa situação, o funcionário público nem-nem não entenderá porque o arrocho
salarial (só se paga funcionário publico quando tem dinheiro para tributar)
institucionalizado, o trabalhador normal não compreenderá porque estará desempregado,
e a sociedade perderá muito tempo para saber qual é o verdadeiro problema: os
mimos da sociedade pseudo nem-nem não remetem a realidade do país.
A
geração nem-nem é um problema grave que tem que ser debatido. Mas a sociedade
pseudo nem-nem também tem que fazer reflexão existencial, pois, do jeito que se
encontra o país, a tendência é caos.
O
nem-nem e o pseudo nem-nem (principalmente) é a materialização do eufemismo: “falta
mão de obra qualificada”.
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P.S.: Diz-se que o Brasil está em “pleno
emprego”, mas as notícias vão contramão da realidade, em que a sociedade
discute sobre o nem-nem e até mesmo sobre “indústria do seguro desemprego”. Em país
com a matriz laboral saudável, essas discussões são mais proativas do que
preocupantes, já que o país estaria bem e não haveria o que se preocupar sobre
tais proposições.
É
fato que o Brasil nunca teve pleno emprego. Desalentando é desempregado e ponto
final.
Pseudo nem-nem de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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