Por: Júlio César Anjos
O
rito de passagem está contemplado na sociedade desde os primórdios das
civilizações. O momento que o menino vira guerreiro, ou o tempo necessário para
ser considerado um ancião, e até mesmo o momento pós-menstruação que mostra, de
forma física, o período que a menina deixou de ser criança para poder gerar
filhos. Às vezes o aspecto é físico, mas a maioria do método de ritual de
passagem é feito por simbolismo, como Jung já explicara em seu livro - o homem e
seus símbolos. Diante disso, uma coisa é intrigante hoje em dia: O ritual de passagem
moderno, que se dá através do mundo do entretenimento.
Às
vezes o momento de passagem é algo que parece ser espontâneo, sem uma razão
aparente, faz todo o sentido se for analisado de uma forma mais ampla, como
acontece com muitas coincidências no universo da idolatria. Mas a verdade é que
o rito pode ser uma coisa estudada e planejada, porém com uma cortina de fumaça
que faça parecer algo incalculado e imprevisto, como se tal ritual se
contemplasse por coincidência. Existem então ritos naturais e artificiais – o
qual o homem cria alguns e a sociedade em geral cria outros.
As
quebras naturais são aquelas provocadas pelo próprio passar do tempo, como uma
menstruação para as meninas e a barba para os meninos. Porém todos quebram a
síndrome de Peter Pan, chega uma hora que deixam de ser crianças para serem
jovens. E após serem jovens, passam a ser adultos. E de adultos viram idosos
até chegar o fim. Se pega, como exemplo, a mulher e os ritos de passagens naturais:
menstrua, ápice sexual, filho, ovário murcho e menopausa. Do bebê até o idoso,
essa é a ordem natural de ritos da mulher.
O
que interessa mesmo é o ritual artificial, criado pelo homem. Agora aparece bar
Mitzvah, baile de debutante, registro militar, período para se aposentar e etc.
São ritos criados pelo civilidade, para mostrar materialmente que existem diferenças
entre períodos de vida. Uma coisa não é igual a outra e ponto final. Idade para
votar, para ser presidente de país, condições para fazer concurso público ou
até mesmo idade para ser preso ou somente ir para o reformatório. Uma
regra temporal para saber se individuo qualquer está ou não apto a gozar de
direitos e deveres em determinada situação.
Contudo,
os ritos mais expressivos hoje são os construídos a partir de eventos criados
pelos símbolos forçosos produzidos pela mídia. O que pode ser chamado de ritual de
passagem contemporâneo. São simbologias que determinam e definem um astro do
rock ou um ator de cinema, pessoas que labutam na esfera do entretenimento. Um
evento que parece ser espontâneo dá a sensação que acometeu em um problema
extraordinário, como se não houvesse planejamento prévio sobre os rituais no
mundo da mídia. As analogias darão vida
ao aspecto do que consta nessa assertiva. Somente com exemplos para mostrar, e
clarear, algumas situações excêntricas feitas de propósito, para quebra de
paradigma, um ritual de passagem que faz mudar tudo.
Para
critério de exemplo, os EUA são o paraíso na terra. O que tem a ver Miley Cyrus,
Justin Bieber, Tom Cruise e Madona a ver com ritos e símbolos? Lógico que eles
são símbolos populares, possuem o próprio naco de idolatria, mas o que se quer
compreender aqui é sobre outros aspectos não visualizados, ou diga-se assim, despercebidos
pelas pessoas, desatenção que parece bobo, mas que faz todo o sentido.
Justin
Bieber era um menino que cantava para menininhas que acabaram de sair do berço.
Tudo era bonitinho, o cantarolar uma gracinha. O problema é que esse nicho de
mercado clama pelo cantor ser da mesma idade que as crianças/adolescentes.
Bieber cresceu e começou a buscar o naco somente dos adolescentes. O problema,
mais uma vez, é que esse segmento também é de curto prazo e Bieber resolveu quebrar
o paradigma de vez. Para o Bieber ser considerado um jovem, ele teria que
esperar até o alistamento militar. O problema é que ele não tem esse tempo todo
para esperar. Então, Bieber e produção, criaram um “fato novo”, botaram o
moleque para fazer arruaça (tudo bem controlado) para ser preso. Veja que a
simbologia não o mostrou como um menor infrator, mas um jovem delinqüente. E
isso faz toda a diferença para aquilo que ele almeja. Agora Bieber é um jovem,
mesmo sendo adolescente, que consegue até mesmo o mercado adulto, sendo um Pop Star criado por uma produção, pelos simples fato de ter sido encarcerado de forma controlada, como se fosse um estudo de laboratório.
A
mesma coisa acontece com Miley Cyrus. A menina dos olhos da Disney fazia muito
sucesso com o público infantil, com o trejeito angelical e astral doce, como se
eternizasse a calmaria do semblante de criança, a atriz gozava da magia do mundo
de conto de fadas da emissora hollywoodiana. A menina cresce, mesmo que a idade
não apareça perante o trabalho de radicais livres, fazendo com que Cyrus
continuasse a labutar em tal nicho de mercado. O problema é que uma hora a
pessoa cresce e transparece a idade verdadeira. Já com 19 anos, Miley resolve
quebrar o paradigma de moça indefesa da Disney e resolve crescer. O problema é
que Miley já tinha passado da idade de debutante e até mesmo de adulta em RG na
carteira, tendo que achar algo diferente para fazer o rompante entre o velho e
o novo, fazer uma magia artificial. Dito isso, Miley vai a um show da MTV e
estoura em sensualidade, mostrando que a menina cresceu, não é mais aquela
criança de outrora, é uma adulta com grande beleza e formosura. “Olhe os meus
peitos”, diz o gestual dela, assim como diz: “olha como eu sou sensual”,
fazendo uma coreografia mais picante e atraente ao público adulto. Nesse
momento Miley deixa de ser, artificialmente, uma criança para virar uma adulta
bela e esbelta como ela se apresenta hoje.
E
por fim, mas não menos importante, o congelamento do período de vida também
pode ser criado, sem necessitar fazer percurso de ritual de passagem. Tom
Cruise e Madonna perfazem tal modalidade de ser eterno enquanto dure o POP. A
Madonna foi projetada com aquele estilo de beleza de meia idade de Merlin
Monroe, mas com maturidade física de uma menina saída da adolescência. Essa
situação forçada fez com que Madonna parecesse, ao estrear na carreira de
sucesso, mais velha do que era e, dando a entender ao fã da menina moça, que a
mulher era mais velha do que parecia, criando o fenômeno de “eternidade”. A
mesma coisa aconteceu com o Tom Cruise. O ator, ao estourar em sucesso a fazer
o filme TOP GUN, tornou-se na personagem como um comandante da aeronáutica,
patente laboral, diga-se, de homens de idade bem madura. Tom Cruise era um menino
fazendo o papel de um adulto, o que faz até hoje Tom parecer um homem de meia
idade e todo mundo, sublinarmente, se indagar: “Mas parece que não envelhece
nunca”. Ele foi envelhecido lá atrás para justamente criar esse fenômeno de poção
da juventude, para tornar Tom Cruise a cara de Hollywood, sendo usado e
reutilizado por décadas no mundo do entretenimento.
No
Brasil, o ramo do entretenimento nunca utilizou dessa ferramenta chamada rito
de passagem contemporâneo, ou a simbologia artificial de quebra de paradigma.
Por isso que a Xuxa se eternizou como a rainha dos baixinhos, pois não quebrou a
síndrome de Peter Pan e manteve o público cativo infantil. A mesma coisa
aconteceu com a Sandy, com um público mais comportadinho e bem jovem. Quando a moça tentou desgarrar desse nicho não conseguiu sair das amarras, porque estava enraizada nos ritos e
símbolos de uma menina recatada e polida. Sandy não cresceu artificialmente, buscando
outros nichos de mercado. E quando o fez, ficou estranha a tentativa de mudança
forçada, pois o tempo limite para fazer esse tipo de coisa tinha extrapolado e
a marca registrada ficou embutida na menina bem comportada.
Portanto,
pela simbologia do rito de passagem contemporâneo, os ídolos são criados. Tanto
na questão de ser produto de uma criação quanto de terem que servir os que os
idolatram.
E
você aí achando que tudo é coincidência e nada é pensado. Bata os calcanhares e
volte para o Kansas, Dorothy.
Rito de Passagem Contemporâneo de Júlio César Anjos está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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