Por: Júlio César Anjos
O povo reagiu, foi às ruas, protestou, levantou bandeiras, desopilou a
raiva, soltou o grito na garganta, conquistou o alívio por poder ser livre e
defenestrar “tudo isso que está aí”. O problema é que ninguém identificou no desespero um
alvo específico, ficou parecendo mais um remelexo coletivo, o manifesto que não
teve objetivo definido algum. A aclamação popular ficou mais parecida com uma
“rave” sem som, e sem sal. Mas a pergunta que fica é: Resolveu alguma coisa? A
resposta pode não ser agradável.
Se o objetivo era dar uma agulhada de acupuntura, ou seja, emitir uma
resposta rápida dos governantes diante da reação, a constatação é positiva.
Agora, se foco era melhorar o Brasil, situação a longo prazo, a solução da
questão talvez seja um não.
Os protestos de imediato causaram o efeito das questões paliativas da
política, como os deputados trabalharem do jeito que sempre deveriam labutar, ao aprovarem
demandas que o povo estava há tempos esperando, e suar para não ser pego na urna, pois a lembrança incomoda do local que nenhum político quer levar protesto é exatamente na máquina de votação.
Já na questão do fim da causa, a balada ao relento ficou desprovida de referencia,
a Alice (do país das Maravilhas) perguntou para o mestre gato e o felino
salientou pela filosofia. Parafraseando o inanimado: Se indivíduo qualquer não
sabe para onde quer chegar, qualquer caminho serve a trilhar. Pessoas perdidas
se encontram em um determinado local público para protestar sobre o vácuo.
Interessante. Mas sem saber a doença, é impossível curar o enfermo, o paciente
vai sofrer até chegar o fim, não tem jeito.
Há também de concordar que se a rua resolvesse, mendigo seria o oráculo.
O que muda a situação não é dar mais do mesmo veneno ao enfermo infectado,
deve-se criar o antídoto para sarar o doente. Depredar patrimônio público, forçar
o povo a pensar igual ao “líder” de movimentos, ou entrar em confronto com a
polícia não vai resolver a questão econômica do país. A onda de paralisações em todo Brasil só pioram
as condições conjunturais, e cria mais desgastes de um povo que já está cansado
faz tempo. Ir às ruas é somente mais uma ferramenta de consumo das comoções
nacionais, embora muito importante para a sociedade, não é a água benta para
criar milagres que farão o Brasil uma nova nação. Se alguém acredita nisso,
então é melhor rever conceitos.
A raiva não governa, desgoverna. E política é conversa. Para reformular a
nação, há a necessidade de fazer as coisas com calma, harmonia, e paz, além de
saber dialogar com todos os envolvidos de uma sociedade organizada. Às vezes o
rancor latente provoca furor e as palavras viram armas daqueles que estão
desgostosos com a condução do país. Afinal, tudo está ruim e nada parece
melhorar, as demandas do bem-estar social são céleres, o que faz o povoado
gritar contra até mesmo os irmãos companheiros. O que resolve mesmo é caderno,
caneta, lápis e borracha. Só com a educação que o povo entenderá a situação do
país e poderá, portanto, mudar o rumo ou pelo menos saber aonde quer chegar e
se conseguirá chegar. Até lá só constam nos autos as animosidades por situações
plurais.
Alusão do trecho do país das maravilhas aos protestos:
População: Oi, Júlio, você sabe aonde este protesto de rua levará?
Júlio: Protesta
sobre o que?
População: Não
sei.
Júlio: Então
qualquer protesto de rua valerá.
Ir às Ruas de Júlio César Anjos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Baseado no trabalho em http://efeitoorloff.blogspot.com.br/.
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