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A Conjuntura dos Protestos

Por: Júlio César Anjos

O povo foi às ruas protestar pelas mais variadas searas, apelo justo e concreto, o desabafo ao ar livre mostrou que as pessoas querem alguma coisa diferente. Os indivíduos buscam melhorias, embora em uma situação conjuntural econômica em que tudo está ruim, briga-se por múltiplas situações, criando uma bagunça conceitual de aclamação.

Mas, mesmo na disfunção geral de apelos, há algumas coincidências, situações que mostram convergências, atitudes padronizadas que configuram o anseio do povo, mesmo sem a materialização e o fato concretizado em um alvo específico. As aparências dos protestos indicam um norte a seguir, que, mesmo ao bradar contra “tudo o que está aí”,  toda a população está asfixiada pelo modelo de gestão atual.

Ao analisar as comparações, algo que está muito clarividente é a questão da movimentação ocorrer no país inteiro, de fora a fora, superando até mesmo a limítrofe do mapa político brasileiro. Então a encrenca não recai a um prefeito ou a um governador, cai no descontentamento geral de todos, o que atribui até mesmo o executivo nacional.   O apelo substancia-se na condição de melhorias na qualidade dos serviços prestados pelos agentes de governabilidade qualquer, não apontando um alvo claro e materializado.

Diz-se que pessoa feliz não enche o saco, então a verdade é que o descontentamento no Brasil é total. A primeira lição que fica é sobre a insatisfação, seja econômica ou social, da condução do país. Nada funciona na parte de baixo da linha do equador, o que escancara que a população quer mais. Ninguém sairia de casa para protestar se estivesse com muito dinheiro no bolso e saúde para dar e vender. O individuo de bem com tudo agradece até mesmo a Deus pela vida ofertada, com fartura e felicidade. A falta de tudo faz as pessoas terem que se sujeitar a reivindicar na rua, deixando outras atividades a executar, fazer uma pausa em tudo, para protestar.

Neste contexto, as pessoas resolvem agir para acabar com o desconforto, como diz Misses, pois, se tudo estivesse bem, não haveria o porquê de sair da zona de conforto. E isso deriva à mudança. Mas aí aparece outra coincidência de apelo geral, a maioria absoluta clama pelo fim da corrupção. O maior manifesto se dá à má conduta dos governantes, esse é o maior problema deflagrado na comoção popular.

Ao analisar o passado do Brasil, o povo foi às ruas manifestar várias e várias vezes pelo fim do sistema, “Abaixo à ditadura” era o lema, de uma sociedade que queria mudar de forma geral o país. Agora, o povo reclama contra a corrupção, mostrando, mesmo que subliminarmente, que o povo não está contra o atual regime político (socialismo), mas contra as pessoas que sobem pelo voto e se corrompem por variados motivos. Isso deriva que não será fácil acabar com até mesmo uma implantação de comunismo, pois, para as pessoas, o problema não está, pela metáfora, no carro comunista avariado e sim no motorista corrupto ruim de condução. 

Tal situação mostra de forma escancarada a ditadura de pensamento, e a verdade é que subirá ao poder outro partido de esquerda, bem menos radical, mas que terá que continuar com o mesmo regime político, mudando somente a compostura, ao ser honesto e íntegro (probo). Para muitos, a crise é causada pela desonestidade, sendo que a honestidade faria o Brasil florescer e virar uma potência. Complicado.

O único saldo positivo é que partidos vermelhos tenderão a cair em degeneração, muitos sumirão e os maiores serão encolhidos pela urna, a ferramenta que sentencia quem merece e quem não merece o poder.

Ou seja, essa é a conjuntura dos protestos:

Gente feliz não enche o saco;
Há desconforto geral;
Lugar que não tem pão todo mundo briga e ninguém tem razão;
Substituição das atividades rotineiras pelo protesto;
Não há alvo político específico;
Convergência pelo fim da corrupção;
Nenhum apelo pela troca do sistema político;
Comunismo (infelizmente) vingará por mais alguns anos – “Socialismo light”;
Partidos vermelhos tendem a encolher;
Partidos que foram desonestos em um passado muito recente encolherão na urna.


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