Por: Júlio César Anjos
A carne leva pauladas até que a pele vira carapaça. De tanto resistir aos
golpes, objeto qualquer não mais ultrapassa a grossura do couro. A casca cria
resistência durante certo período a contento.
Dói, dói, dói.... Normal... Não dói mais. Cicatrizou! Agora aguenta a
batidas com facilidade, habitualidade do normal. Rígido, e escamoso, mudou até
mesmo a coloração, além da maleabilidade do que antes era epiderme. O tecido,
de pura textura, dá lugar à resistente paquiderme.
O tempo recobre a espessura. Densa camada de invólucro, que antes tinha a
suave fragilidade, agora se dedica a ser quitinoso, nada passa, nem mesmo a
agulha mais forte, com o metal mais penetrante. Furar o bloqueio da carcaça é
impossível, pois tal sujeito virou casca de cicatriz desde o pé até a cabeça.
Constitui-se somente de uma maciça uniforme, sem flexibilidade alguma, tão
inexorável quanto um diamante não lapidado.
E, diante a situação, o que não era carne também ficou rijo, pois
contaminou todo o ecossistema padrão. Os nervos perderam a ductilidade, ficando
somente uma estrutura linear robusta. Até os olhos ficaram empedrados, diante
da falta de fluidez do glóbulo.
O calendário avança, e enquanto o período passa, tal objeto fossiliza-se
no mesmo momento em que a vida contínua, até o movimento acabar ao mesmo
instante em que finda o tempo. Acabou, virou uma pedra ao relento, lápide do
alento.
O trabalho Petrifica de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
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