Pular para o conteúdo principal

Condomínio – Conforto ou Preguiça?



Por: Júlio César Anjos
  
O aumento desordenado das grandes cidades clama pelo exponencial das construções: horizontais como arranha-céus, prédios, edifícios; E verticais como área com triplex, sobrados, e afins. A casa com quintal sai de cena e entra a construção coletiva, com variantes de lazer aos serviços terceirizados do zelo. Os condomínios pregam o diferencial do conforto e requinte. Mas a verdade é que os condomínios fechados garantem a praticidade e a preguiça.

Toda a “qualidade” do condomínio confronta com os “defeitos” de uma residência qualquer. A falta de tempo é amiga do homem cansado aos afazeres domiciliares, rotina laboral exaustiva espanta possíveis bons residentes das moradias normais. A terceirização da zeladoria desafoga a responsabilidade em manter organizado o domicílio, poucos trocados de cada um fazem a área ficar limpinha, condomínio sobrevive na base do rateio coletivo. E a falta de segurança faz as pessoas unirem-se a grupos, criando, assim, a sensação de segurança, mesmo que o local, o condomínio, demonstre que não há um motivo sequer para ser considerado seguro.

 Mas a falta de individualidade escancara a realidade, o coletivo inibe a criação, a produção, os afazeres de tudo que possa acalentar o corpo e a alma, pois, ao contrário de um condomínio coletivo, em uma residência de quintal aparece de tudo, desde bandinhas que viram astros do rock até softwares de computador poderosos.  É nessa leva que a residência aparenta ser melhor que o condomínio blindado, ou fechado como preferir, de anseios, de esperança e de futuro a um melhor porvir. Silêncio. Movimente-se sem dar um pio, qualquer barulho incomoda os outros vizinhos, proprietários de residências que ficam em cima, embaixo, e aos lados do apartamento do trabalhador cansado. Então, o conforto é ficar parado, tão estático para não perturbar outrem.

 A residência perfeita para muitos possui quintal. É no espaçamento sem concreto, lá no fundo da morada, que os moradores do local fazem hortas, práticas laborais, trabalho na terra a fim de fazer produção de hortaliças. Muitas pessoas não sabem, mas uma horta conforta a alma. A calma, a paciência, o zelo, a beleza em cuidar de plantinhas miúdas transborda a felicidade sem cheque ou moedas, o sorriso confortável de quem gosta de lidar com a terra. A construção individual faz o proprietário aprender a fazer manutenções, além de construções como puxadinhos e elevação de mais um piso, a criar sobrados bonitos. De martelinho a martelinho, conforta o aspecto físico, a musculatura condiciona e trabalha para fazer um exercício.

E no aspecto de segurança, cada proprietário é sentinela do abrigo, o que, às vezes, é mais eficiente que o coletivo, pois o que é de todo mundo não é de ninguém, como o exemplo do cachorro com dois donos e vive morrendo de fome.

O requinte não existe, o que substancia é a praticidade de primeira linha, além de banalidades superficiais. Lareira elétrica, por exemplo, é um equipamento de praticidade sendo vendido como requinte, é concorrente o ar condicionado, pois, para ter lareira de verdade, há a necessidade de acontecer nevasca e obter lenha partida pelas próprias mãos. Aí sim há o requinte, junto ao vinho branco de uma década passada qualquer. Há também alguns equipamentos banais, como, por exemplo, piscinas abertas sendo construídas em regiões frias do sul. É dinheiro jogado fora por causa da sazonalidade da região. Há coisas absurdas como lareira elétrica dentro de banheiros no Rio de Janeiro - onde o sol é residente, e piscinas abertas em Curitiba - local em que o sol é turista.

   Portanto, o condomínio vende a praticidade (pseudo requinte e banalidade) e preguiça (como se fosse conforto). Porque o que conforta o corpo e a alma é o exercício físico e mental. Qualquer variante que condicione ao fim de alguma atividade ou movimento, nada mais é do que preguiça. Assim como requinte não se confunde com futilidade ou superficialidade. Talvez, se o ramo de venda de imóveis usasse da verdade, as vendas seriam maiores por mostrar os fatos: Muita gente gosta de praticidade e preguiça. Mas a verdade, nesse caso, não tem glamour, é a verdade que dói, então a mentira maquiada satisfaz o conforto do ego, nada mais.

Licença Creative Commons
O trabalho Condomínio – Conforto ou Preguiça? de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br/.

Comentários