Por: Júlio César Anjos
No oceano das possibilidades joga-se a tarrafa da oportunidade, com a fieirinha da realidade na mão. Traz a reboque poucas decepções, algumas frustrações, mas a maioria do recolhido é, na verdade, as soluções que se exibem na rede como soluços, repetidos e retrospectivos ao arfar.
Deve-se somente manter a manutenção da rede intacta, para que não a fure e, com isso, não perca os mantimentos da vastidão. Às vezes pode haver abundancia no mar, mas nada adiantará se a ferramenta estiver danificada, perder-se-ia toda a ocasião favorável por não haver função. A aptidão do pescador de oportunidades é o entusiasmo, trabalho árduo, contínuo, sem fim. Vão-se os pescadores e ficam as conveniências, caem como prova as idades milenares da vida que não deixa mentir.
O tempo precipita, uma chuva causou cancelamento de viagens, tarrafas dobradas e guardadas no fundo do baú. Sem ação, a impossibilidade amarra o positivismo, pois não se pode ser otimista ao meio de um cenário turvo, que impede a constatação do trabalho. Em tempos de tormenta, o pescador somente se contenta em filosofar ou trocar comunicação com os colegas, nada mais.
A natureza também prega peças, às vezes alguma coisa acontece no oceano ou no riacho, por causa de descuido no período de defeso, o pescador fica indefeso ao meio da vulnerabilidade em não poder sustentar-se pelo mar. Outro problema comum é o cardume de conceitos estarem localizados em outras áreas, pois alguém fez engodo em outra região, levando toda a riqueza real para bem longe do pescador de ilusões.
O arpoador do homem solitário fisga uma oportunidade de cada vez, necessitando de habilidades maiores do que os pescadores que usam redes. Mas o gosto em pegar uma especiaria em cada levante, cria um valor retumbante, o arpoador é para especialista. É da habilidade da pontaria, além do conhecimento de manejo, que o instrumento individual sobressai à rede coletivista. Todavia, por grandes quantidades de tentativas e erro, o arpoador pode desmotivar o pescador ruim de profissão. Já para o executor que saiba exercer a lida, tal desafio soa mais como uma conquista tardia, porém cooptada, sadia.
A vida do pescador é a solidão da cama de casa vazia, contrastante à embarcação lotada, recheada de buscadores de ambição. A frieza do pescador é compatível com o frio que faz em alto mar, e o aquecimento do coração acende calor do corpo da senhoria, em terra firme, esquentando o sangue, tão ardente que provoca sudorese por quentura nos edredons. Frio e calor, terra e mar, tão antagônicos, tão essenciais.
Pequenas oportunidades escapam pelas fendas das linhas cruzadas da tarrafa, além de serem alvos ínfimos ao arpoador. Então as oportunidades pequenas não são cativadas, pois ninguém dá valor. Para fazer viagem cansativa e de longa duração deve valer a pena, ninguém se atreveria pescar oportunidade vazia, quanto mais difícil a conquista mais valorosa a ação. As oportunidades são fisgadas com iscas de fina ludibriação, tão surreais que enganam entre o verdadeiro e o falso, réplica perfeita que causa confusão. E os diferentes tipos de ferramentas servem para determinados estilos, cada um a seu contento, em determinado momento, uso compatível à habilidade e ocasião.
O trabalho Possibilidades de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br/.
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