Por: Júlio César Anjos
Um monge fornece apenas um lápis e uma folha em branco para o seguidor escrever
uma sintaxe qualquer. Diz-se ser uma atividade de reflexão, pois manuscrever é
pairar o tempo, dominar a mente e materializar a alma. A tarefa é árdua para o
menino de pouca experiência, só traz na consciência as insuficiências de jovem
de pouca idade, por isso redigir é temeridade.
O Seguidor, ao antecipar a trama, com a malandragem de iniciante, pede
uma borracha, por que, ao escrever, poderá cometer erros; ao passo de que com
todos os materiais em mãos, o jovem passaria a trabalhar tranqüilo. Todavia, o
monge não confere ao bom moço uma borracha. E vai além à negação, explica que o
aprendiz deve transcorrer lentamente, sem solavancos e nem percalços, a escritura
que deverá ser devagar e contínua, a fim do escritor jovial concentrar-se ao
sabor da criação de um bom texto, confeccionará, por fim, uma obra-prima.
Após a afobação da proatividade, o mestre explica que as pessoas estão
acostumadas a usarem rascunhos, muito mais bitoladas na causa da tentativa e
erro, do que atender às necessidades do prazer em escrever. Denotar
um texto é conquistar cada linha, toda letra é uma vitória, avanços
progressivos até a trincheira do ponto final. Por isso o fornecimento somente
de uma folha em
branco. Continuando a explicação, Apagar com a borracha é
desfazer a linha de raciocínio, justamente por haver uma pausa para destruir o
que acabara de erguer com pressa, torna o texto descontínuo, por isso a recusa do apagador.
Com mais um solavanco de “insight!”, o pequeno aprendiz se antecipa ao
raciocínio e pergunta, para o mestre, por que não escrever de caneta? Afinal,
já que é para ir devagar e sempre, nada melhor do que o tinteiro para forçar o
acerto. O sábio senhor explica que o que se faz em vida não se pode ser
construído por pilares irremovíveis, uma boa construção pode ser modificada,
manipulada, e só poderá ser destruída por completo se a obra surgir malfeita
desde a raiz. Por isso que o texto deve
ser redigido a lápis, para que outra pessoa possa apagar e até destruir o
escrito. Ao seguidor só confere a execução, pois cabe ao receptor a tarefa de
zelo ou destruição do texto composto com amor.
O lecionando, de novo, fica em dúvida em um ponto que ficou solto ao meio
da explicação, se o texto pode ser apagado pelo receptor, como saber se a
pessoa vai apagar ou não? O professor explica que o gosto é uma qualidade de
parâmetro seletivo, o que uma pessoa gosta pode não ser gostosa para outra e
vice-versa. Por isso que o texto deve ser bem redigido, a lápis, e para uma pessoa
que o goste, pois, mesmo escrevendo com grafite, não há o que temer, com
certeza não há o que destruir e nem apagar.
Por fim, o seguidor se acalenta e começa a escrever o texto
meticulosamente, com suavidade, pensando a todo o momento, concentrado em
acertar a todo instante. Saboreia cada letra, com estratégia triunfante,
disserta o que sabe em vida, para o mestre pensador, o texto bem tratado e
consoante.
O trabalho Ensinamento de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br/.
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