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Autocontrole


Por: Júlio César Anjos

Um monge do alto da montanha movimenta as entranhas do plexo solar, faz esforço para criar o grunhido: “huuuuuummmmmm”, agita o diafragma, e o pomo de adão se remexe como se fosse um sino de mordomo. O líder espiritual está zen, em transe, transa com o "além", nada o perfura, o abala, ou o atinge. Está em autocontrole.

O autocontrole não é ir buscar o além, é relaxar e esperar que o outro mundo chegue à propriedade material do corpo. Se o espírito tiver que transitar os intramuros dos “mundos”, então isso não é autocontrole, é impulso de viagem. Ficar em transe é acalmar os cachorros, desligar a sirene de monitoramento e dar folga para o segurança do espírito; não é relaxar o corpo até o ponto da alma, do nada, começar a fazer uma viagem espiritual, como se fosse o Delorean (carro do de volta para o futuro) do desconhecido.

Um viciado, por exemplo, ao buscar droga pelo vício desencadeia o estímulo que a afobação proporciona, por isso que se chama impulso e não autocontrole. Auto controlar-se significa ter a droga ao lado e mesmo assim não atacá-la, como se fosse um selvagem faminto pela presa. É privar-se de necessidades momentâneas, é negar o “agora do curto prazo”, pois, ao fazer, os eventos da repulsa objetivam um melhoramento espiritual e material a longo prazo.

A preocupação é o preenchimento do vazio da alma, a ocupação se faz pelo empilhamento de más bugigangas, porém o que acalenta os ânimos chama-se calma. A inquietude sentimental cria a ferramenta chamada desespero, que é o sinal físico e material da preocupação. E o sair do controle nada mais é que a ação do desespero. Um exemplo simples: Um homem vê uma criança, perto do chafariz, batendo com um pedaço de pau em um cachorro. O homem fica preocupado com o cachorro, se desespera, perde o controle, e joga a criança na água do chafariz. O homem criou a ação maligna simplesmente por não ter controle, só por não ter alertado a criança que tal atitude era errada, pelo simples fato do descontrole.

A cobra se movimenta sorrateira, pois, apareceu uma presa inocente, próximo ao território do animal. A cobra dá o bote e acaba com o corpo estranho de repente. A serpente foi no impulso, agiu instintivamente, não pensou e nem pesou perdas e ganhos na situação, apenas se alimentou.  O autocontrole possui valor, e a moeda de troca é o que melhor convir após pensar sobre ocorrências. Uma baleia, por exemplo, deixa a rêmora limpá-la ao invés de comê-la, pois a rêmora poderia ser um bom aperitivo. A baleia não o faz pelo simples motivo: Pesou entre os benefícios ou não de tal atitude da rêmora e resolveu, via autocontrole, não atacar as presas indefesas. O autocontrole é valoroso.

Portanto, o autocontrole é segurar os ânimos, acalentar a alma, deixar entrar os espíritos, negar os vícios, controlar-se pelo simples motivo de estar no comando. É estar despreocupado, calmo, relaxado, sem a pressão de ter que fazer algo pelo impulso, noção certa de se conter nos momentos difíceis e se libertar nos períodos de bonança. É saber escolher, pesar as conseqüências, ver os acontecimentos e, num primeiro momento, ficar estático, pois nada pode fazer, e só depois agir com conhecimento. O autocontrole é a sabedoria do vazio.

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O trabalho Autocontrole de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.

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