Por: Júlio César Anjos
No mercado em que eu compro, seja guloseimas ou o “rancho”, há algo um
tanto quanto cômico, o sistema é anormal, os clientes são poucos consumistas e
os trabalhadores são letrados. O local é muito frequentado pelas mesmas pessoas,
criando um hábito regional, o que fica reluzente é que todos se conhecem, e as
vidas são de conhecimento de todos. O grande retângulo da fofoca, a arquitetura
da loucura.
A maioria dos clientes são os observadores dos produtos, investigadores
da falta de dinheiro, ficam somente rodando a gôndola, sem falar a todos que não
compram produtos por estarem sem “um cruzeiro”. Mas há certo grupo que compra
mercadoria, apesar de gastar tempo com pesquisa, enche o cesto de mão e vai
triunfante até o caixa, a fim de registrar a compra do que lhe deseja. Porém,
há algo raríssimo, espécimes ameaçados de extinção, os poucos que fazem a
compra do mês, colocam tudo no carrinho de supermercado sem dar satisfação, não
importa o valor, o que vale é a sensação de poder comprar o que queira. De
todos os usuários a única coisa que os atraem é acharem que supermercado é
feira.
E na fofoca do dia-a-dia o que fica é a observação do ambiente. A
gorduchinha achou que ninguém a observara, mas muitos viram que a moça
destrinchou o cacho de uva, ficou com cara de tacho, e disse que estava só
experimentando a fruta. Já no outro corredor do mercado, O moleque estava
escolhendo uma bebida e, com afobação de jovem com pressa, o menino derrubou
vários refrigerantes, o mais engraçado foi ver a cara assustada, parecia
criança sendo pega fazendo arte. E já na caixa do mercado, um pequeno
desconforto gerou comoção, o atendente passou produto em promoção, e o valor
foi registrado sem desconto... Deu confusão. O caixa era letrado, tinha ensino
superior, mas não conseguia resolver o problema, algo que envolvia operações
básicas de matemática, o moço resolveu não brigar com a máquina, discutindo com
o cliente que estava com razão. Os funcionários são mais estranhos que os
clientes.
No supermercado todo mundo tem ensino superior, os funcionários eram para
ser qualificados, tudo indica isso, mas não consta tal causa o efeito de
resultado. Diante disso, o que o supermercado tem: O repositor formado em psicologia
que vive irritado; O atendente geral é formado em pedagogia, mas quase sempre
falha na língua vernácula; O Gerente é formado em Serviço Social , mas
sempre dá “patada” nos funcionários; O locutor é formado em fonoaudiologia e
possui o problema de ser completamente fanho; E o caixa do mercado é formado em
exatas, mas não sabe fazer as quatro operações matemáticas, justifica-se
dizendo que a máquina faz tudo e já tinha se acostumado com o sistema.
O supermercado tem uma vastidão de mercadorias, é grande, e satisfaz o
básico da região, pois não há concorrentes diretos e também obtém ajuda de
prefeitos e autoridades locais. Os funcionários são contratados via Prouni ou
por medida do governo que incentiva cota racial. Os clientes possuem dinheiro
porque o governo libera crédito com facilidade para todos da população. E o
show de horrores que é o mercado funciona desde sempre, pois o sistema
determina a abertura e o fechamento do grande estabelecimento. É tanta
futilidade que a roupa da missa virou vestimenta para ir ao supermercado, é a
balada do momento.
O trabalho O mercado em que tudo compro de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://efeitoorloff.blogspot.com.br.
Comentários
Postar um comentário
Comente aqui: