Por: Júlio César Anjos
Assim começa o texto, com uma música martelando na cabeça dos indecisos:
“Marcha soldado, cabeça de papel, quem não marchar direito, vai preso pro
quartel”. O que são os uniformes se não a unidade do vestir? Pois bem, Ratinho
Junior quer vestir crianças do colégio com “uniforme de graça”, a intenção é
muito boa (de boa intenção o inferno está cheio, diz o pensador), mas o que
fica é a sensação de uma base estrutural oca, como se ao invés de fazer uma
parede de concreto, utiliza-se de gesso para maquiar a moradia. Muitas
indagações divagam em conceitos, perguntas dos sujeitos, pois o eleitor quer
saber mesmo a verdade.
Primeiro que “uniforme grátis”, assim como o almoço grátis, não existe.
Alguém pagará pelos uniformes, lastreados pelos impostos (tudo que é imposto
não é democrático), que: ou serão aumentadas as contribuições (aumento de IPTU
e ISS); ou tal recurso tenderá a uma transposição, tirando imposto de uma área
para colocar em outra; ou o recurso em uma mesma pasta - como a educação -
sofrerá ajustes (lindo eufemismo), para conseguir fornecer “uniforme grátis” para os alunos.
No cerne da questão, a primeira dúvida elusiva se destaca em saber se tal
idéia foi oriunda da criatividade do candidato, ou tal prática (uniforme
grátis) já foi implantada em alguma cidade? Se já foi implantada em alguma
cidade, nasce outra pergunta: Deu certo? Se "deu certo", qual foi o
ganho social com tal medida? Caso seja
criação do Ratinho Junior, não haverá nenhuma resposta à pergunta, já que será
conceito novo, descartando as indagações. Agora, se alguém implantou e deu
certo, então que seja copiada para cá, pois tudo que é bom para a cidade, é bom
para todos. Já a última pergunta é SUBJETIVA, então fica tácita a questão de
que pode haver ou não efeito multiplicador, muito embora pensador libertário
seja da tese de não haver nem “uniforme grátis” e muito menos impostos como
algo a melhorar um país, quem trabalha nesta teoria, quem gosta de Estado
Grande, tem que se explicar e mostrar que tal situação é a melhor para todos.
Superada as dúvidas primárias, o que estabelece são outras questões
acessórias, levando em consideração, por exemplo, que Ratinho Junior vencerá a
eleição, e, sendo assim, implantará o “uniforme grátis” no orçamento. Pois bem,
o uniforme grátis atenderá somente a classe mais pobre, segregando a cidade em
classes, ou atenderá a todos os cidadãos da sociedade, sendo universal? Sendo
atendida somente a população pobre, o que o futuro prefeito fará para equiparar
às outras classes sociais? Parece que só fazer demagogia com uniforme grátis
impactará, em um primeiro momento, que muita gente indiferente, com a situação,
pagará o uniforme grátis.
O que fica também martelando na cabeça é a qualidade de material, quantas
peças serão destinadas aos alunos e quantas vezes, ao mês ou ao ano, poderão
retirar o uniforme? Após indagar isso, as questões ficam sobre a gerência. Quem
fará a gestão desses materiais, o diretor da escola ou será formado um grupo
que se encarregará de passar nas escolas e fornecer o material? Como será feita
a licitação, será unitária, com uma empresa somente fornecendo material, ou
será descentralizado, em que as escolas terão um fundo para comprar o material
para as crianças? As escolas poderão
escolher as cores dos materiais ou serão todos padronizados, no estilo
exército?
Agora refletem aos olhos vertiginosos dos contribuintes a maior de todas
as questões, as de ordem financeira. Duas verdades são conclusivas: Dinheiro
não nasce em árvore e o orçamento da cidade é finito. Há pouco foi mostrada a
campanha do PSTU, em que fala sobre a arrecadação da cidade que beira 5 bilhões
de dinheiros. Pois bem, levando a informação como fato, o retrato que é
fotografado é que o dinheiro tem um fim, não é eterno nem infinito. O prefeito
terá que subir a alíquota de IPTU, ISS e ITBI ou aumentar as taxas, terá que
começar a taxar o povo por irregularidades, o que faria a qualidade da cidade
melhorar, mas implicaria em tornar o prefeito impopular. Aí sim a cidade aumentaria a arrecadação e
teria dinheiro, sem precisar deslocar verba do erário público ou fazer ajustes.
Mas há uma segunda via, o deslocamento de dinheiro, erário que é
escalonado em uma pasta, pode ser mexido para atender outra pasta. Isso
significa dizer que o prefeito pode, por exemplo, retirar verba pública do
marketing pessoal para atender o pagamento dos uniformes grátis. A pasta dos
uniformes refere-se à educação ou serviço social? Que seja do serviço social,
algum dinheiro tem que entrar para pagar tal despesa que teve início após a
idéia [não tão] genial do candidato a prefeito Ratinho Junior.
E há também uma terceira via - estrada perigosa -, em que a despesa do
“uniforme grátis” teria que ser ajustado à verba da pasta. Se, por exemplo, o
uniforme for despesa corrente da pasta de ação social, então o montante
destinado para tal local terá que tirar verba das despesas que até então eram
portadas pela pasta. Isso significa dizer que para pagar o uniforme grátis, a
longo prazo o servidor poderia, por exemplo, defasar o salário para adequar o
uniforme grátis, o que seria choque de gestão, ou então o setor teria que
economizar em despesas pontuais (por exemplo: copinho plástico) para atender a
demanda da caridade do prefeito.
O fato é que assim como na ciência, o corpo estranho ou o fato novo, tanto
faz, a verdade é que a medida pontual afetará alguma dessas ramificações
apontadas no texto. Alguém terá que pagar pelo uniforme grátis, não há duvida.
Resta saber se o tutor de tal ação será o contribuinte de classe média, que
paga muito tributo e recebe pouco serviço, o qual votará também e elegerá - por
que não? – o futuro prefeito. O uniforme grátis não existe de fato, será algo
novo que terá por objetivo a adequar ao orçamento atual, o que perfaz condições
que geram dúvidas.
Portanto, infelizmente, o uniforme grátis caminha para a demagogia, o
prefeito dará um ou outro uniforme, quando convir, para não ficar tão claro o
embuste praticado por campanha eleitoral. E se não for engodo eleitoreiro, a
engenharia orçamentária mostra que não existe uniforme grátis, o contribuinte
vai pagar caro para satisfazer o que se acreditar ser melhor para a cidade (?).
Só o futuro dirá.
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