Por: Júlio César Anjos
O capitalismo fundiu-se ao socialismo e o mundo se viu diante do
interesse geral, o bem estar social, emanada de cláusula pétrea na constituição
mundial. As regras foram estabelecidas no mesmo estilo de divisão que Cristo
sugeriu a um comerciante ao fazer um ultraje na igreja: Dai ao capitalismo o
que é do capital, dai ao socialismo o que é do social. Desse dia em diante, as
instituições de ensino, as igrejas, enfim, tudo que fosse organizado
socialmente seria tratado pelo socialismo, com os mortais financeiramente sendo
doutrinados pelo socialismo, e na outra ponta os poderosos, que nunca morrerão
financeiramente, os capitalistas com o poder nas mãos, mas não podendo mudar o
sistema social, apesar de usá-los para manter o capital.
Na sociedade há dois tipos de poderes incorpóreos que rondam os limiares
do sistema econômico. De um lado aparecem os poderosos que podem ser
convencidos – podem mudar de lado -, porém não morrem financeiramente. E do
outro lado há os comuns que não podem ser convencidos – não mudam de lado -,
porém morrem financeiramente. A única coisa que os dois lados concordam é sobre
a relação de que todos devem viver bem, com o bem estar social em primeiro
lugar.
Diante disso, no mundo do conflito entre classes, para equilíbrio do
sistema, deve haver uma harmonia, um acordo entre as partes para manter a paz
na sociedade. Conclui-se, portanto, que os imortais foram convencidos a
utilizarem a doutrina dos mortais, visando o bem comum. Mas a paz está em xeque
e, o sistema mortal mundano está caindo em decadência, em degradação, é preciso
mudar para até mesmo não dizimar os mortais pela insuficiência financeira.
Os tempos são difíceis, o pensamento coletivo dos mortais não está
funcionando, estão segregando-os, embora os imortais estejam em boa condição,
pesa a carranca das faces dos homens por sentir que o bem estar social está
perdendo o fôlego, criando assim um viés de tempos nebulosos, pois o social
chegou ao esgotamento total de filosofia e maturidade conceitual. A degradação começa
a contaminar os resultados dos poderosos e, com isso, os imortais financeiros
pensam em mudar os conceitos, já que tal pensamento prejudica a harmonia que
até então estava controlada. Sabendo do colapso, os imortais financeiros
anteciparam o apocalipse social salvaguardando um lugar especial, Marte é um
local de refúgio aos poderosos, caso o caos tome conta. Com toda a estrutura e
recurso natural garantido, a única coisa que impede os imortais a irem morar em
outro local é a tentativa ineficaz de tentar convencer os neo-bárbaros que não
são convencidos por serem doutrinados por todos os seguimentos sociais.
Mas os dias difíceis começam a aparecer e muitos mortais se dão conta que
alguma coisa deve mudar, seja o deslocamento dos imortais para outro lugar,
seja pela mudança de pensamentos dos mortais que não podem ser convencidos. O
limiar de tudo aponta para o abandono dos imortais aos mortais, mas essa quebra
de relacionamento deflagra uma perda sentimental e também material entre as
partes, por isso que os imortais financeiros querem manter o relacionamento,
mas em outra forma de pensamento: o liberalismo.
O socialista é igual a um passarinho que gosta da gaiola, por mais que
tentem soltá-lo com a liberdade sem demora, não ousará passar pela portinhola.
É cômodo e seguro ser servido sempre por alguém, sem estar próximo ao sistema
hostil do ambiente. O mortal desaprendeu a voar, a caçar, a viver livremente,
pois só sabe receber gratificações sem se importar de onde ou como veio tal
recurso. É nesse temor servil que os mortais não são convencidos a mudar o
sistema, pois o mecanismo social impugna outras formas de pensamentos, pois o
receio escraviza e a incerteza assusta.
O tilintar das taças ecoam, dia de reunião, decisão sobre causas
importantes, além do trivial, constante ao resultado que gerará mudanças
significativas ao futuro, pois a mudança materializa-se no mesmo instante em
que o rumo, a diretriz, some. Os diferentes poderosos imortais, como são
convencidos, podem mudar de idéias, conceitos, pois a plenitude do controle é
um amplexo à arrogância da prepotência, indulto que eles auferem aos inferiores
proletários que dedicam nas fábricas de suor o líquido sagrado do capitalismo,
os recursos. Após uma bela mesa abundante do supérfluo, o leque de fartura de
alimento assemelha-se à grande quantidade de pensamentos divergentes ao
socialismo, embora todos flertem ao liberalismo, que é como pão e água no
sistema imortal, pois é importante e nunca falta.
Os morosos satisfeitos comensais proclamam que a única saída é fazer os
mortais socialistas aceitarem o novo sistema, mesmo todo mundo sabendo que eles
não podem ser convencidos a adotarem outros regimes e comportamentos. A briga
agora está em um campo pouco desbravado: o filosófico. Os imortais financeiros acreditaram
que deixando o sistema a revelia, o próprio socialismo seria degradado, e os
indivíduos inseridos no sistema fariam a revolução. O engano mostrou o que
Darwin já tivera visto na natureza: Os seres se adaptam ao sistema que surge,
pois nem os mais fracos e fortes sobrevivem ao sistema. E os adaptáveis, ao
chegar ao topo da sobrevivência, não gostam da mudança do jogo, por isso a
resistência. Mudar a regra do jogo seria a mesma coisa que acabar com o
sistema, acabar com os adaptáveis.
Os mortais chegaram a um nível de caos que atingira a degradação total da
sociedade, sem condições mínimas de evolução, nem sustentação de harmonia,
somente a marginalização, o desatino e a dissolução social prevalecem no
ambiente interno e externo da sociedade.
Os imortais não conseguem convencer os mortais. Então a única solução é
acabar com os mortais, fazendo um reboot na humanidade, ou expulsar os
imortais, tornando o planeta gradativamente pior.
A escolha fica para o leitor.
O trabalho Temor Servil de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em efeitoorloff.blogspot.com.br.
Temor servil significa ter tanto medo que chega a ser escravo do próprio medo.
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