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Comprar a idéia de alguém


Por: Júlio César Anjos

Na filosofia da vida não há um órgão regulador para defendê-lo do estelionato intelectual. Saiba que venderão idéias utópicas e fornecerão somente expectativas possíveis. Por isso, fique muito atento ao comprar a idéia de alguém, pois poderá custar muito caro, não terá volta, não existindo código de defesa para o abuso da fragilidade racional.

Na feira intelectual, os quiosques são as variedades de pensamentos, e os feirantes são os idealistas que tentam vender suas mercadorias com os mais diferentes estratagemas, técnicas e artimanhas. Os pensadores são os produtos colocados à mostra ao ar livre, leque de opções para satisfazer a necessidade conceitual, vontade degustada pelo gosto extravagante.

Mas alguns pensamentos são perecíveis ao tempo, estragam com facilidade, pois são pontuais, só possuem utilidade ao serem servidos em um determinado momento. Período crucial para matar a fome, o desespero da situação, o fruto do conhecimento que alimenta o povo e a alma, suculento sabor do experimento, o agora triunfal.

Já outros frutos são marrentos, amargos, mas essenciais. Possuem longa vida, saudáveis, proporcionam longo prazo nas ações, destilam as virtudes naturais, pois não conquistam a boca imediatista, mas o estomago universal. A atração é pouca desses frutos, pouca extravagância, muita eficiência, somente a sapiência do feirante deriva a qualidade do produto. Mas por não ser doce em um primeiro momento, embora útil pela vida toda, pode ser que perca na escolha pela fruta doce, que perece rápido e é de pior qualidade.

 O feirante imediatista empurrará, ao bom grado, a fruta doce idealista, perecível, desprovida de saúde, pois o cliente pouco intelectual voltará a comprar mais e mais vezes. Já o feirante longo-prazista tentará mostrar que o fruto racional é amargo, porém não é perecível e é muito saudável. Na boca marra dos clientes inteligentes fica a sensação de um sacrifício ao bom grado, já para os clientes desprovidos de sabedoria a satisfação finda, embora o estômago reclame a cada ida à feira dominical.

A mídia tentará convencê-lo que a fruta doce é barata, saudável, conjunto de qualidade total, não perecível e de bom grado ao estômago, união estável entre o supérfluo e o essencial. E oculta, por interesse, a fruta amarga, mas verdadeira, que não tem a defesa rotineira da mídia de nenhum canal.

Para defender a tese, a maioria da corrente cria o círculo das falácias, utilizam-se dos especialistas sem recursos e de executores teóricos, operários filosóficos, que ficam em casa e não vão a campo, descobrir que a replicação mentirosa não passa de um teleponto conceitual.

Para o cliente comprar bem, o sujeito direito tem que desbravar o varejo, conhecer o feirante e a feirinha, além de observância no produto a adquirir. Não é fácil acertar na compra da idéia, mas errar significa retrocesso, falta de saúde e desembolsos penosos intelectuais, longo período perdendo o tempo, tão prolixo como se o rabo abanasse o cachorro.

E nesse varejo não há PROCON, ou qualquer outro instituto de defesa, qualquer erro na compra do produto intelectual impactará no cotidiano da vida, não cabendo, com certeza, reclamação a ninguém e a lugar algum. O sistema de informação não perfaz a massa bruta, somente aparece para quem reluta com o único aliado, a verdade, de que o engodo não se sustenta com o tempo.

O governo tentará inibir, via barreira não tarifária, o produto de característica intelectual. Por ser problema para a vigilância sanitária, órgão do governo que só veta o que incomoda, pois preocupado com a saúde mental governo nenhum está, raciocínio incomoda os generais, poderosos sovinas roubam a ameaça para o medo não aparecer.

E é nesse contexto que às vezes o fruto espinhoso, feio, amargo, caro, proibido pelo governo, vetado pela mídia, não recomendado pelo feirante, embora ainda assim exposto na feirinha, não é comprado por ninguém.  E quando é comprado por alguém que continua a consumir tal produto rotineiramente, o próprio individuo muda perante o ponto de vista, encara o fruto do conhecimento como algo bom para todo mundo e, assim sendo, global, o que, por conflito de interesses, não vale a pena á aqueles tiranos que querem o poder só a eles.

Por isso que a fruta racional não é consumida com freqüência a cada esquina.  É antítese da droga, que tem quase o mesmo efeito, porém só alucina, não elucida.

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