Por: Júlio César Anjos
Eu tive um sonho. A ilusão mostrava-me de bruços, com uma tigela de água
em cima do meu rosto – em que não me permitia ficar com o nariz apontado ao
chão a todo instante -, com as mãos amarradas com uma corda firme, e as minhas
pernas não obedecendo aos meus pensamentos, pernas desconexas que me agrediam a
todo instante.
A platéia era composta pelas pessoas mais perversas que se possa
imaginar, estava lotada de inimigos meus. A todo instante que eu mexia o corpo,
a platéia caia na gargalhada, saboreando todo castigo que sofrera no palco
do teatro.
Cada vez que as minhas pernas desobedeciam e desferiam golpes contra mim,
a platéia caia no deleite da satisfação pessoal. O pé dava golpes de calcanhar
que poderiam acertar a “fonte”, então, em alguns momentos, eu colocava o rosto
na tigela com água e, por alguns momentos, escolhia entre o afogamento e a
sorte em não levar um golpe fatal, ofertado pelo próprio pé.
Mas cada vez que a perna fazia o movimento de bate estaca, como se fosse
um agressor sagaz que odeia a presa, eu ficava com mais raiva da situação que
encontrara e achava no âmago de mim mesmo mais força para lutar. Os risos dos
inimigos era um comburente para que eu não desistisse tão facilmente. Dividia o
choro do possível fracasso e da risada de uma probabilidade de sair "por cima" daquela
situação.
Cada vez me agito mais e com mais rapidez e força, na mesma intensidade
que a platéia se regozija em
prazer. Com a motricidade que ninguém sabe de onde vem e com uma
perseverança encontrada somente em passagens bíblicas, consigo sair de situação
e desprendo-me da amarra. Levanto-me, coordeno as pernas que outrora me
agredia, e olho para a platéia....
Todo mundo sai correndo.
Eu demorei a entender o que significa o sonho, mas compreendi com a
clareza de uma água pura de um rio nunca antes desbravado, a perna que me
açoitava era a luta entre mim mesmo, os inimigos rindo satirizavam a derrota
que estava sofrendo por mim mesmo, a amarra significava que estava incapacitado
de mudar a situação, e a sola do pé fora do encontro ao chão significava que
não caminhava sozinho, patinava pelo meu próprio infortúnio, perdia para mim
mesmo.
Mas agora estou liberto, livre para praticar a autodefesa e o ataque
defensivo. A sola do pé está em contato ao chão, a mão está desamarrada, e com
a ginástica toda - a fim de libertar-me, fortaleceu-me de um jeito que me tornou um lutador aguerrido – calejei tentando lutar contra mim mesmo.
E por que os meus inimigos correram? São mais fracos do que eu e o meu maior inimigo sou eu mesmo.
O trabalho O inimigo de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em efeitoorloff.blogspot.com.br.
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