Por: Júlio César Anjos
Havia em uma vila dois amigos que, ao disputarem a mesma pretendente,
certa vez, ficaram inimigos por motivo torpe.
Nenhum dos dois fraternos ficou com a garota, mas as mazelas persistiram
há bom tempo.
Os resquícios de um ressentimento entre as partes permaneceram vividas
após 10 anos e nada fazia mudar a situação entre eles, uma amizade bonita
tornou-se inimizade odiosa.
Mas apesar da situação ser atípica, um dos amigos já tinha calejado, não
estava mais tão odioso ao ponto de acabar com um relacionamento fraterno que os
dois tinham, esse se chama o Sem magoa. Porém, o outro amigo não aceitava
perdão de forma alguma, mesmo todos sabendo que os dois lados estão errados na
história, o que é chamado de Receoso.
Um dia, um dos amigos, o que já sumira com o rancor, foi até a residência
do outro para fazer uma proposta: Trocarem os imóveis e o amigo que não possui
mágoa ainda daria um valor considerável de volta. O motivo nem era o negócio em
si, mas uma tentativa de fazer reconciliação entre as partes.
O amigo receoso pensa um pouco, vê os benefícios, sente que pode levar
vantagem na situação, e aceita fazer o negócio. Após a conclusão do negócio, o
amigo receoso observa bem o outro amigo e enxerga que na face a tristeza
sumira. O receoso fica encafifado, como pode sair de um mau negócio feliz? O
receoso não entende...
Após alguns dias, de tanto martelar na cabeça o que acontecera naquele
negócio, o receoso conjectura que deva ser algum golpe especulativo
imobiliário, ou que talvez exista algo de valor no imóvel que era dele antes,
pois os dois imóveis eram da COHAB e ainda sim o outro amigo ofertara um valor
muito acima do imaginável.
O receoso volta atrás no negócio, processa o amigo sem mágoa, faz uma
contraproposta, em que reverteria o negócio, com compensação do amigo receoso
ao amigo sem mágoa um adicional de 10% além de toda a devolução, por motivo de
garantia. O amigo sem mágoa concorda com o negócio e sai cabisbaixo após fazer
a reversão do negócio.
Ao ver o semblante nebuloso do amigo sem mágoa, o receoso confabula a si
mesmo e pensa que, se o sem magoa saiu do negócio cabisbaixo, é porque alguma
coisa tinha. O Receoso esboça sorriso.
A única coisa que mudou após toda a ocorrência foi que o receoso foi
falar pela primeira vez desde a fatídica situação que os separou, sobre a
negociação e a desfeita, sobre tudo o que ocorrera até ali.
O receoso pergunta ao sem mágoa o que tinha visto de to valoroso na casa
para comprar bem acima do valor de mercado, já que a negociação fora feita fora
do comum e em situação inusitada.
O sem mágoa responde que não havia nada de valoroso a não ser o
restabelecimento de uma conciliação entre os dois. O sem magoa diz que ficara
feliz à aceitação da negociação acima do valor em um primeiro momento, pois
abrira um canal de comunicação, e o valor monetário ofertado acima do mercado
era uma forma de presente como prova de carinho e compreensão da situação que o
receoso passara até então... Porém, O sem mágoa explica também que ficou triste
após o receoso desfazer do negócio e ainda pagar a mais para obter a própria
casa, já que descobrirá que o receoso continua com pensamento negativo e
transtornado com o passado que o assombra até o momento.
O sem mágoa explica que o sorriso na primeira negociação nada tinha a ver
com malandragem, mas com a gratificação em saber que um presente dado, mesmo
que subliminarmente, foi recebido ao amigo receoso, e, talvez, teria acabo os
sentimentos negativos que transtornavam o receoso. E a tristeza após a desfeita
do negócio se deu pelo motivo que o receoso nunca mudará, pois nem mesmo provas
de generosidades fazem as coisas saírem do campo do desafeto e desagregação.
O receoso, após escutar tudo o que o sem magoa disse, olhou com pesar,
ficou triste e, com uma tristeza profunda, disse: Eu queria te perdoar, mas não
consigo.
O sem receio saiu com 10% a mais no bolso, mas não conseguiu o que queria
e o receoso perdeu 10% e ficou com ainda mais ódio do ocorrido.
E os dois ficaram inimigos para sempre.
O trabalho Baseado em fatos tristes de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em efeitoorloff.blogspot.com.
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