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A Luta Escrava


Por: Júlio César Anjos

Nassau viu a capoeira e logo pensou: “É o UFC da Senzala!”. Mas o capataz logo interveio e disse que não se passava de um Telequete dos palmares. Sim, não se enganem achando que os senhorios não sabiam da existência da capoeira como diversão, pois nada se passava do grande sistema de monitoramento – o primeiro Google da sociedade -, os olhos dos capatazes pagos para serem espiões, mais o suborno de alguns escravos para falar o que acontecia de fato na senzala.

É muito bom regozijar-se pelo lírico da estória que o escravo dançava em fingimento de uma luta, que foi libertado pela benevolência dos homens e que tudo é lindo e perfeito. A graça de ver o mundo todo bonitinho, e com as mudanças progressistas, torna a ignorância algo intrínseco no subconsciente das pessoas.

O escravo nada mais era que um produto, a máquina que tudo fazia no sistema arcaico da época. Como um produto, tinha desgaste, custo de manutenção (comida, roupa, abrigo), avarias ocasionadas por logística (doenças e machucados), perdas em transporte (morte no navio negreiro), e baixa eficiência de produção (desmotivação), além de ter que comprar via mercado a posse (como se fosse a lei do passe do futebol) de tais escravos. Doravante a tudo isso, os processos de produção começam a mudar e os consumistas anseiam por mais produção e os senhorios sonham com mais lucros e poder.

Nassau descobriu o processo de motivação e ofertou aos colaboradores mais tabaco, cachaça e diversão, mesmo que a diversão fosse algo “escondido”, como o caso da dança da capoeira. Nassau, ao motivar os labutadores conseguiu fazer um downsizing no sistema produtivo escravo, obtendo menos mão de obra para cortar certas quantidades de cana que precisariam de mais mão de obra por causa da motivação. Escravo que ri é escravo produtivo.

Mas mesmo tais mudanças pontuais não deram um ar competitivo de produção. Então, os iluministas, os grandes pensadores da época, e benevolentes que pensam puramente no bem das pessoas (ironia), concluíram que o sistema escravo deveria ser extinto. A mudança praticava que não mais os senhores de engenho compraria escravos, nem mais os vestiam, nem mesmo os alimentariam e muito menos teria lugar para morar. Agora, o escravo é livre para conseguir alimento, roupa, moradia e etc.

O senhor de engenho se livra de um fardo, não se livrando dos lucros. Socializaram-se as despesas e monopolizou os lucros, por isso que Karl Marx ficou raivoso com o sistema capitalista. Sim, Marx via pontos positivos no sistema escravo e feudal que eram superiores ao sistema capitalista.

A luta escrava não existiu nem no molde de diversão em que era confundido com dança (ou vice versa) e também não houve luta para libertar os escravos sem um interesse maior, que era lucrar mais e explorar o trabalhador ainda mais.

O sistema acabou e hoje estamos vivendo a democracia, a liberdade da labuta, leis regulamentares, o sonho de todas as pessoas do mundo.

Hoje o governo regulamenta o salário mínimo, faz o trabalhador perder o poder de compra, cria a tirania do empresário ao assalariado, e uma das ferramentas motivacionais do capitalista é aumentar os provimentos do trabalhador, para o labutador comprar adivinhão que? Mais tabaco e cachaça. Deve ser por isso que os escravos de hoje clamam pela liberação da maconha.

 Se o fim da escravatura não fosse atrativo para os poderosos, certamente até hoje o sistema seria o mesmo molde arcaico do sistema escravo. Se houve a mudança, é porque houve interesses justamente dos poderosos em mudar tal situação e não ao contrário. 

Licença Creative Commons
O trabalho A Luta Escrava de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em efeitoorloff.blogspot.com.


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