Por: Júlio César Anjos
Já dizia a minha avó: “Neto, cuidado, dia de muito, véspera de nada”. De fato, sempre que eu abusava do limite que o
meu bolso congregava, a conta explodia, a administração pessoal ia para o
espaço, o juro corroia, e a bola de neve levava um longo tempo a rolar até se
esfacelar.
Nunca fui um consumidor voraz, embora tenha ótimo crédito e seja honesto
nas finanças. Eu seria, precisamente, uma demanda reprimida e/ou um consumidor
do crédito real. A atratividade em consumir nunca foi o meu forte, deve ser
porque sempre fui educado a nunca ser guloso e sempre consumir até que ficasse
satisfeito.
Mas só obtém consumo quem possui poder de compra. Como diz o meu tio: “Cada
um sabe onde o calo aperta”. Para mim, o poder de compra se dá para ostentação
de um cidadão da classe C ou D. Não tenho vergonha de falar que sou classe média
baixa, até porque a maioria da população está escalonada nessa linha social. Já
vi amigos que proferem menos recursos que eu, e mesmo assim cria uma espécie de
Status, uma valoração artificial que não combina com o bolso dele e é extremamente
nocivo ao futuro da própria pessoa.
Quando algum órgão demanda muita moeda, crédito, e incentiva toda uma
leva de pessoas a consumir, isso se cristaliza em inflação. Infla o
mercado de dinheiro, de produtos e de pessoas que estão vorazes em consumir,
mesmo não tendo poder de compra, como já foi dito antes. Quando surge a dívida
no meio dessa alegria toda, a demanda torna-se artificial e, mesmo incentivando
a comprar, o povo não consegue adquirir produtos porque perdeu o crédito, seja
financeiro, seja moral.
“Tempo bom, não volta mais, saudade do tempo de paz”, era a música
cantada por um comediante na “Praça é nossa” do SBT. Com a volta da inflação
teríamos uma pequena mudança: “controle da inflação, não volta mais, saudade,
do topete do Itamar”. É, amigos, a inflação voltará e agora ancorada pela
desindustrialização, ou seja, consumo em cima de produtos importados. Já não
bastasse a isso, o Brasil trocou o segundo setor (indústria) pelo terceiro
setor (serviços), mas não consegue vender o serviço via exportação, ou seja,
para dar certo o sistema de consumo, só se a parte de crédito estiver
organizada nos mínimos detalhes, que pelos fatos não ocorre.
O setor de serviço vangloria estatisticamente até o flanelinha. É esse
trabalhador que comprará imóveis da bolha imobiliária do: “minha casa – minha vida”,
veículos do subprime Pacheco, e consumirá produtos sem ter crédito, já que não é
trabalhador com carteira assinada – varia muito o “salário” de trabalho – e certamente
possui custos cotidianos em que consome no dia-a-dia. E isso alguns desprovidos
de inteligência do meio econômico chamam de demanda reprimida.
A favelização aumentou e não precisa o IBGE olhar no Google para
realmente constatar isso, era só o cidadão brasileiro passar no meio de muitos
bairros brasileiros que constataria de fato tal crescimento. Como que um
presidente tira 26 milhões de pessoas da pobreza se os índices refutam tal
argumento? A resposta é simples: o pobre consome muito e mal.
Enquanto tiver cachaça na
geladeira, samba na vitrola e gente agrupada (mantendo tal festa), o povo ficará
anestesiado com tais desavenças que o governo faz ao próprio povo.
Nem vou entrar no mérito da saúde, da educação, do entretenimento de
qualidade, ferramentas para o bem estar social, pois o brasileiro médio vive
mal, come mal, e não se importa com nada. Desde que dê para comprar o “xaxixo”
(Salsicha), está valendo.
Mas, se o pobre está satisfeito na condição em que se encontra, quem sou
eu para contrariá-lo? Não adianta eu querer ser o bastião da moralidade, da
justiça, e da cobrança do bem estar social se o povo que sofre com tais
problemas nem se incomoda. Só deixo tal texto escrito para que no futuro observe
que teve muita gente de visão observando o caos, tentando mudar os paradigmas,
para o povo se beneficiar das melhoras sociais.
Enquanto isso fica nesta lengalenga da culpa entre o governo e o empresário,
sendo que o governo acaba com toda a nação e ainda se acha no direito de falar
alguma coisa com quem quer que seja.
Controle de inflação, maior poder de compra, e um Brasil melhor, há de
restabelecer-se, basta ajudar o PSDB a voltar ao tempo bom.
Ou então: “tempo bom, não volta mais, saudade, do topete do Itamar”.
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