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Felicidade


Por: Júlio César Anjos

Com certeza eu acredito em uma receita para a felicidade. A receita possui ingredientes que já são conhecidos por todos: família, amigos, paciência, lágrimas, sorrisos, paz, perdão, esperança, coração, amor e carinho. A mistura, o modo de preparo e o rendimento todos já sabem que resulta no que se espera, na felicidade.

 Só que há um problema sério: Eu sou muito ruim na cozinha sentimental. Se há receita para a felicidade, então o mínimo que se espera é habilidade e um pouco de experiência para saber manipular os ingredientes para que nada dê errado. Eu não tenho essa habilidade, e, por ser inapto para tal atividade, deveria ser penalizado com a falta de felicidade?  O castigo seria o mesmo que a pessoa não poder comer um bolo porque não sabe confeccioná-lo. Trágico.

Algumas pessoas dizem que dinheiro não traz felicidade. Então a situação ficou caótica para mim, pois eu não consigo manipular os ingredientes, não consigo aflorar a felicidade plena - por ser medíocre na cozinha sentimental -, e ainda decretam que felicidade é algo que não se compra em uma esquina qualquer.

Ser feliz artificialmente também não me agrada, já que nunca usei drogas e não pretendo usá-las nunca. Então não me encanta sustentar uma felicidade artificial, escondendo os verdadeiros sentimentos pela dependência química.

Eu já até pesquisei, felicidade agora é lei, foi até aprovada no congresso um projeto de lei chamado de PEC da felicidade, de autoria de Cristovam Buarque. Espero ansioso por uma bolsa felicidade, e, pela minha carência, serei o primeiro a receber tal agraciamento estatal.

Felicidade, segundo um dicionário qualquer: 1 Estado de quem é feliz; 2 Ventura; 3 Bem-estar, contentamento; 4 Bom resultado, bom êxito. Então, segundo a pirâmide de Maslow, a felicidade não se encontra nas necessidades fisiológicas, mas sim na autorealização. E segundo a minha professora de filosofia, felicidade é algo intrínseco, intangível e flexível. Ninguém consegue explicar o que é felicidade.

Uma pessoa motivada está feliz? E uma pessoa sorridente é feliz? Uma pessoa apaixonada é feliz? Felicidade é sinônimo de alegria, motivação e amor. Mas é utopia encontrar uma pessoa 100% (cem por cento) feliz. Se alguma pessoa falar a você que é 100% (cem por cento) feliz ela está mentindo. Porque o antídoto da felicidade é o aborrecimento, a raiva e a tristeza. E querendo ou não a vida oferta muitos aborrecimentos, tristezas e raiva.

Há também algumas pessoas que nascem sem o opcional de fábrica felicidade. Pessoas portadoras da síndrome de Asperger não conseguem obter os ingredientes da felicidade, em muitos momentos o Aspie não sabe o que são os condimentos para confeccionar o bolo da felicidade.

Dizem por aí que a felicidade pode ser doada à outra pessoa em algum lugar fechado, estabelecimento que tem por objetivo recauchutar o espírito, fazer uma manutenção na alma e glorificar a vida. Os estabelecimentos religiosos citam livros sagrados e explicam que a felicidade pode ser alcançada desde que viva em paz com a vida mundana. Eu não sei se é verdade, eu não vou com freqüência para igreja. Na verdade, eu já não vou à igreja faz tempo, mas tentarei esse sistema, vai que consigo descolar uma felicidade semi-nova e bem utilizável, por que não?

As pessoas dão receitas como se fosse um bolo, os filósofos tentam explicar, o capital não compra, o produto artificial (drogas) é ruim, o estado já inseriu na sociedade em forma de lei, a religião promete eclodir e o Asperger, assim como eu, não sabe o que é a felicidade neste momento. Embora haja vários entes envolvidos neste sentimento, uns querendo ajudar, outros querendo explicar, o fato é que mesmo com essa quantidade de instrumentos que trabalham com a felicidade, ainda é pouca ferramenta para tornar-me 100 feliz.

Mas, espera aí, de alguma forma eu sou feliz!

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O trabalho Felicidade de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em efeitoorloff.blogspot.com.


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