Por: Júlio César Anjos
O governo de um país emergente resolve fazer um teste para analisar o
comportamento da sociedade inserida na nação. O teste não será divulgado aos
cidadãos comuns, somente algumas pessoas da “inteligência” saberão o que está
ocorrendo, sigilo absoluto sobre uma experiência ilegal e imoral aos padrões
das organizações humanas.
O governo utiliza um homem adulto de classe média para fazer parte do
estudo audacioso, porém criminoso, que será analisado futuramente. O trabalho
está localizado na área comportamental dos indivíduos, a alegação do trabalho é
fazer uma coleta de conhecimento para aprimorar os serviços do governo, que até
então estão devendo e muito para a sociedade. O homem a ser escolhido nunca
infringiu a lei, é uma forma de analisar a cobaia também.
O homem adulto, chamado Alex, poderá cometer todos os delitos que quiser,
que, mesmo assim, não será preso de forma alguma. Não importa o grau do crime,
no final o Alex não será preso de jeito algum. Só há duas exigências para exercer
tal serviço remunerado para cometer delitos e não ser preso: Não constituir
família e o tempo de duração será vitalício.
“Os estudiosos da ‘inteligência” criam duas vertentes para os resultados,
fazendo uma preleção sobre o que acontecerá nesse trabalho, às divisões ficam
entre os que acreditam que a sociedade verá a impunidade e ficará resignada e àqueles que inspirarão os
transgressores, sendo chamados de motivados.
Então os dois pólos dos especialistas ficam entre os motivados, que incentivam
a transgressão do homem ao “sistema” e os resignados, que sabem que nada
acontecerá com o infrator, mas mesmo assim educarão seus filhos à maneira
tradicional, na base da educação e bom costume.
Outro ponto importante é que o governo só intervirá no começo do processo,
ajudando a cobaia ser conhecida pela sociedade. O Estado fará alguns esforços
para manipular a imprensa, para que a mídia seja o comburente para o trabalho a
ser efetuado. Até porque criminosos que cometem delitos – àqueles que são
presos – e que voltam à sociedade é muito comum, mas vendo um homem que até
então era honesto e de uma hora para outra comete crimes com freqüência, e mesmo
assim anão vai preso, o povo reagirá de alguma forma. É o que se espera.
O homem começa a cometer os delitos. Chega a um restaurante, rouba,
prende os clientes do estabelecimento no estoque e sai do restaurante preso
pela polícia, a armação forçada. Minutos depois sai da cadeia, com um advogado
fazendo o serviço, com o infrator dando entrevista para a TV, ameaçando o
“sistema”, e os governantes.
E assim começa o grande insurgente que nunca vai preso, sempre fazendo
delitos, roubos, seqüestros, tráficos, e sempre ficando solto. Porém sempre
aparece na TV insultando os governantes, dizendo que: “eles é que são os
verdadeiros bandidos”. Dinheiro do governo entrando, fazendo tudo o que quer,
não sendo punido, faz a felicidade reinar no mundo da cobaia, que estoura
motivação para continuar sagaz essa vida-loka provocada pelo próprio sistema.
Os resultados começam aparecer, os delinqüentes que até então estavam
escondidos, ao ver a queda da moral e da ética, se manifestam positivamente ao
rapaz que infringe a lei, que não vai preso, mesmo sem querer saber como o
homem faz esse milagre de manter-se livre sempre. Já outros setores conservadores
esboçam uma reação, mas tudo muito tímido, fraco, sem muito barulho.
Mas a rotina começa a deixar esse cidadão - "vida-loka" - maçante. É uma vida que ele
nunca vivenciara antes e agora começa a ficar chato, perde o brilho do fato
novo e mostra que a rotina será isso até a morte. Os fatos começam a aflorar
após o toque de paixão contaminar a vida desregrada da cobaia do governo. Alex,
ao fazer mais uma vez o serviço, sente uma quedinha por uma cliente que estava
em uma farmácia. A troca de olhares torna amor a primeira vista? Talvez não,
mas ao ver uma moça linda tentando defender a filhinha fez com que o sujeito
refletisse sobre o que estava realmente fazendo com as pessoas.
Os bandidos começam agir, iniciam ondas de delitos pela cidade toda,
conturbando a paz que até então existia, apesar de que também havia
criminalidade antes da execução da experiência. Mas os criminosos vão presos e
não saem com facilidade, então esses presos e os familiares começam a se
revoltar contra o ídolo que até então aclamavam. Alex começa a deixar de ser
ídolo. Aumenta a rejeição ao cidadão que até então era o transgressor do
sistema, a sociedade conservadora ganha força e todos começam a fazer perguntas
do porquê o indivíduo continuar solto, já que extrapolou tudo que havia de normal
nas leis.
O cidadão cai em conflito de vida, está depressivo, com stress emocional
e combalido por ter deixado de ser a sensação, por ser considerado uma "pessoa não
grata" da cidade. Fez todas as barbaridades, menos matar uma pessoa. Matar uma
pessoa seria a degradação total dele como pessoa e não porque está impedido por
causa do acordo ao governo, pois o acordo do governo nada impede nem mesmo
assassinato como transgressão, ou seja, como não está explicito a proibição,
então matar alguém não seria infração e também não daria cadeia. Ao saber que
também nunca poderá constituir uma família tanto por não poder fazer isso pelo
acordo vitalício quanto por ser um ente rejeitado pela sociedade - pelas
mulheres regradas -, a cobaia (Alex) começa a ficar diferente.
Alex fica mais intransigente e começa a ser mais ríspido com as ações. Em
uma das ações, Alex é tomado por um cliente que estava nervoso e quis fazer
a justiça com as próprias mãos. O cliente desfere duas facadas em regiões que
não comprometem o estado de vida e ainda Alex leva uma surra que faz parar no
hospital. O hospital faz os curativos e ele, Alex, sai da enfermaria andando tão bem
que planeja fazer mais crimes.
Após Alex ser tratado pelo hospital, à imprensa inteira fica na frente do
hospital, pois querem exclusivas, entrevistas, direitos para escrever histórias
e fazer filmes sobre a vida dele. Alex não aceitou ser usado para outras
pessoas ganharem dinheiro
Alex fica com raiva do homem que desferiu golpes contra ele, procura o
cidadão que o bateu, acha, e atira no inimigo que tinha feito há pouco
instante. Alex chega ao nível mais baixo de tudo, mata uma pessoa. O
assassinato faz o governo ter que intervir, começa a caçada para prender Alex,
mesmo Alex fazendo o que o governo queria. Alex tenta fugir até chegar a uma
ponte que estava fechada.
A ponte fechada fez o Alex ser pego, mas mesmo assim Alex luta para não
ser preso. Aproveita que toda a imprensa está no local, e fala sobre o acordo
que fechara com o governo, sobre os direitos e deveres, falou que era uma
cobaia do governo, uma experiência para o Estado fazer novos mecanismos de
serviços ao povo, e que na verdade ele era uma vitima do “sistema” e não o transgressor.
Ninguém acredita nele. Alex se joga da ponte e comete suicídio.
O governo se defende dizendo que usou às leis e por causa dos direitos o
homem ficou tantas vezes solto. A imprensa divulga os acontecidos no mês inteiro
e sem parar um minuto, dando a entender que o homem era um louco que estava
livre por causa da organização da sociedade, organização do povo que precisa
rever conceitos. E as pessoas que acreditaram na tese do Alex são consideradas
loucas conspiratórias, mesmo alguns da inteligência do governo sabendo que a
conspiração é real, pois prevaleceu a mentira. A verdade maquiada é que Alex
era um louco que só ficou fazendo tudo o que podia porque a lei é flexível.
Quanto ao estudo, o governo chegou à conclusão que as pessoas são
diferentes e não existe um caminho a trilhar, a situação só ajudou as pessoas a
refletirem sobre conceitos, mas os conservadores continuaram conservadores
mesmo no caos e os desregrados se aproveitaram de um momento para fazer o que
mais gostam. Quanto à cobaia, infelizmente o sistema pode tornar uma pessoa boa
em uma pessoa má, basta adicionar situações que façam a pessoas desmoronar como
um indivíduo social.
Mas houve uma mudança, os delitos aumentaram porque os delinqüentes
passaram a não sentir medo da justiça. As prisões são tantas e recorrentes que
o governo achou por bem flexibilizar o sistema de prisões. Agora, só é preso
quem realmente é nocivo para a sociedade. A lei 12.403 de 2011 flexibiliza as
prisões no país.
Isso tudo que você leu é pura conspiração.
O trabalho A Experiência de Júlio César Anjos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em efeitoorloff.blogspot.com.
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