Por: Júlio César Anjos
Esse vídeo que vocês irão assistir agora é um documento histórico sobre o
processo de nascimento de um novo partido no Brasil, o PSDB. Trata dos
acontecimentos que precederam e que levaram o surgimento da legenda da
esperança, e do próprio momento em que se resolveu batizá-la de Partido da
Social Democracia Brasileira. É um vídeo que interessa não só os membros e
militantes do PSDB, mas a todos que se preocupam com o momento histórico com que se passa o país.
Foi durante a assembléia nacional constituinte que deputados e senadores
formaram uma dissidência do PMDB e, com apoio de constituintes de outras
legendas, surgia o embrião de um novo partido. Aos poucos a nova proposta
cresceu, o então vice-líder do PMDB na constituinte deputado Euclides Scalco,
do Paraná, foi um dos primeiros a anunciar a saída do partido e ficar à disposição de
formar uma nova legenda:
- Nós entendemos que era hora, já que o PMDB, através da falta de decisão
e falta de discussão interna para solucionar seus conflitos.... Nós vamos tomar o
rumo e a opção é de um novo partido. Disse Scalco.
No senado, o líder do PMDB, o senador paulista Fernando Henrique Cardoso fez
o mesmo:
- O PMDB está se transformando num grande partido republicano da
República Velha, com a cara diferente em cada Estado , conforme o rosto de seus
governadores. Disse Fernando Henrique Cardoso.
Já o Senador José Richa falava aos jornalistas sobre um novo partido:
- Vai ser um partido que vai praticar realmente a democracia interna, que
pretende ser coerente com os seus documentos, seus discursos e a sua prática,
pratica daqueles que forem eleitos, aqueles que detiverem mandato popular.
Então é isso que praticamente vai nos diferenciar, sabemos que a nossa luta é
dura, não é fácil formar um partido, sabemos que a descrença popular nos
partidos, nos políticos, e até quase que nas próprias instituições, é muito
grande, o que também é outro obstáculo que vamos vencer. Mas eu espero que com a
nossa coerência, nós demonstremos a nossa seriedade com que nós vamos praticar
a política daqui pra frente. Disse José Richa.
Mas a movimentação não era só entre os constituintes, o ex-governador de
São Paulo, Franco Montouro, formalizou ao deputado Ulisses Guimarães o seu
afastamento do PMDB:
- O grande compromisso do PMDB foi com as eleições das diretas já, a
grande e memorável campanha das diretas já, e a consagração popular de Tancredo
Neves. Quando a maioria do partido vota contra esse compromisso, e a fisiologia
domina setores muito amplos do partido, torna-se impossível a convivência, é
preciso optar. A ruptura é dolorosa, mas é necessária. Disse Franco Montouro.
A constituinte prosseguia já em ritmo de conclusão dos trabalhos e depois
de um ano e dois meses liderando o PMDB, o senador Mario Covas deixava a
liderança:
- A liderança é um cargo de natureza política, que pertence a bancada, e
que, portanto, cabe a ela, em cada instante, decidir como conduzir. Quero
convocar a bancada pra quarta feira pra que ela decida, se ela não o fizer
antecipadamente, que ela decida nessa reunião como escolher um novo líder, que
certamente conduzirá a bancada com muito mais qualificações do que eu. Disse
Mario Covas.
A decisão levou o presidente da constituinte do PMDB, o deputado Ulisses
Guimarães, a lamentar:
- Que se dependesse de mim, ele (Covas) não sairia do meu partido. Se
dependesse de mim como presidente da constituinte, ele continuaria líder da
constituinte. Disse Ulisses Guimarães.
- É o que eu digo aqui, até quarta-feira deverá ser eleito um novo líder
e a partir daí, muito provavelmente, na medida em que isso ocorra, com tempo
hábil pra ser fundador de outro partido. E como é muito provável que o ato de
criação se dê no dia 24 e no dia 25, eu provavelmente sairei em tempo para
ingressar em outro partido. Disse Mario Covas.
A partir daí um novo partido era uma realidade com senadores, deputados,
prefeitos, e ex-governadores nas primeiras reuniões públicas, era o início do
vôo do tucano.
Dá-lhe tucano, dá-lhe tucano, olê, olê, olá!
Dá-lhe tucano, dá-lhe tucano, olê, olê, olá!
Dá-lhe tucano, dá-lhe tucano, olê, olê, olá!
“Esse será o partido da esperança”.
Sob o símbolo da esperança, nos dias 24 e 25, no histórico junho de 1988,
nascia o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. Nesta verdadeira
festa em Brasília, que lotou o auditório Nereu Ramos e o plenário da câmara,
surgiu um partido forte, a terceira bancada no congresso nacional, com 50
deputados e senadores. Naquele dia, o deputado Pimenta da Veiga, de Minas Gerais, lembrou dos sonhos das mudanças e afirmou que o PSDB veio para realizar
as reformas:
- E é por isso que eu quero dar as boas-vindas a todos os brasileiros que
aqui estão, para dizer a todos que é o nosso dever resgatar as mudanças
interrompidas, que é o nosso dever concretizá-las e nós viremos de fazer, nós
levaremos as mudanças sociais, nós levaremos adiante as reformas econômicas,
porque esse é o nosso sonho, e porque esse é o nosso compromisso. Disse pimenta
da Veiga.
No clima festivo de vivência democrática interna, os militantes
participaram também da escolha do nome do novo partido. No voto, a maioria
escolheu a sigla PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira. Os filiados do
PSDB manifestaram-se também favoráveis a candidatura do Senador Mario Covas, de
São Paulo, à presidência da República. Naquele momento, o PSDB dava o primeiro
passo a caminhada rumo ao palácio do Planalto.
1, 2, 3, 4, 5, mil, queremos Mario Covas presidente do Brasil.
Covas discursa (1988):
- Senhores: inicia-se hoje uma nova construção. A frase me foi emprestada
e eu vou usá-la porque ela nasceu de alguém que nunca fez parte de participação
política partidária. Com muita singeleza, ele me dizia e escrevia ontem o
seguinte:
“Se não for possível o sabor do
fruto, ao menos que nos sobre o aroma da flor; Se não pudermos contar com o
aroma da flor, que nos sobre pelo menos a beleza do orvalho sobre a folha; Mas
se nem isso for possível, que nos fique o vigor da multiplicação contida na
semente, assim como a esperança será o nome deste partido que nasce hoje”.
E esse é um partido que nasce alicerçado na esperança, não a esperança
estática, mas na certeza de um porvir, que há de chegar um dia sim! Mas não
apenas a um determinismo histórico, que há de nos levar em um determinado
destino, a esperança que é um fato dinâmico, uma luta constante, a luta que se
faz com amor, e o amor que se faz com luta, aquilo, que ao final, ao lado do
povo brasileiro, e por ele conduzido, esse partido representará, na historia
presente e futura deste país! Esse será o partido da esperança, mas por sê-lo,
ele há de cultivar todos os valores, que são os valores fundamentais do povo
brasileiro. Disse Covas.
O manifesto do PSDB destaca a luta pelo parlamentarismo, a supremacia do
poder civil, o pluralismo na organização da sociedade e vários outros
postulados. Os fundadores do partido foram unânimes em afirmar que o PSDB tem
espaço para diversas correntes políticas. O deputado Nelton Friedrich, do
Paraná, definiu assim o perfil ideológico do PSDB:
- O novo partido que tem que responder a duas grandes questões: Novo
partido para quê? E novo partido com quem? Felizmente temos já o perfil
ideológico claro, definido de liberais progressistas, de social democratas, e
de socialistas democráticos. Disse Nelton.
Durante o encontro o PSDB recebeu importantes filiações. O ex-governador
do Paraná, e atual senador, José Richa viu naquele momento o renascimento de
uma forma digna de fazer política:
- E eu sinto pela fisionomia de todos aqueles que para aqui vieram, para
este encontro histórico, a mesma sensação, a sensação dos que estavam morrendo
politicamente, morrendo de desgosto.... Nós estávamos morrendo de desgosto. Eu
confesso a vocês que eu já estava sentindo vergonha de ser político. Disse José
Richa.
Esta virada na opinião do Senador Fernando Henrique Cardoso, de São
Paulo, só foi possível graças ao trabalho dedicado de cada um dos militantes do
partido:
- Muita gente não acreditou que nós, hoje aqui nesta manhã, formássemos
um grande partido. Mas vocês acreditaram, na militância sincera do PMDB, dos
outros partidos, acreditou, e veio, e formamos juntos um novo partido. O Brasil
acreditou, e hoje... Disse Fernando Henrique.
Mais de mil pessoas de todas as regiões do país discutiram e aprovaram o
estatuto, o manifesto, o programa, e assinaram o livro de fundação do partido.
Coube ao ex-governador de São Paulo, Franco Montouro, anunciar as primeiras decisões
da comissão diretora nacional provisória:
- Primeira resolução: a comissão funcionará em regime de colegiado.
Haverá, assim, um secretariado de assuntos regionais; um co-responsável da
organização do partido em cada região:
Região Sul, responsável Mario Covas;
Região Sudeste, responsável Fraco Montouro;
Região centro-oeste, responsável senador José Richa;
Região Norte, responsável o deputado Pimenta da Veiga;
Região Nordeste, senador Fernando Henrique Cardoso;
Secretaria Geral, deputado Euclides Scalco;
Tesoureiro Geral, deputado Jaime Santana;
Secretario de assuntos sociais e sindicais, deputada Cristina Tavares;
Secretária de assuntos internacionais, deputada Noema Santiago;
Secretário de assuntos econômicos, Deputado Otavio Elísio;
Secretário de assuntos culturais, deputado Arthur da Távola.
A comissão decidiu também, que a exemplo do regime de colegiado, de
trabalho em conjunto, a ser desenvolvida pela comissão, a presidência será
exercida rotativamente, estabelecendo-se já, para o período de dois meses para
cada uma dessas presidências, a seguinte escalação:
Senador Mario Covas;
José Richa do Paraná;
Ex-governador Franco Montouro;
Deputado Pimenta da Veiga;
E senador Fernando Hernique Cardoso.
Três dias mais tarde, a comissão diretora nacional provisória entregava
ao Tribunal Superior Eleitoral o pedido de registro oficial do PSDB. Estava
formalizada ali, uma nova esperança para a política brasileira, esperança que
não vinha sozinha, veio com a certeza que o vôo do tucano, vai guiar o Brasil,
pelos caminhos da liberdade.
“terra adorada,
entre outras mil,
és tu, Brasil,
ó pátria amada!
dos filhos deste solo és mãe gentil,
pátria amada,
Brasil!”
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