Por: Júlio César Anjos
Diz que chegou um determinado momento no equilíbrio de valoração de
atividade laboral, que todo mundo começou a receber o mesmo valor salarial,
praticamente, em uma editora qualquer.
Um escritor, inconformado, não se dava por satisfeito ter que elaborar a
história, escrever e entregar o produto todo digitado, para - no final das
contas - receber o mesmo salário conferido ao rapaz da guilhotina da editora.
Curioso, o escritor ficou um Mês após o expediente aprendendo o serviço
do guilhotineiro, já que o serviço pagava a mesma quantia que a labuta
conferida pelo suor do escritor. O escritor descobriu que o serviço de
guilhotina é fácil, pouco cansativa, exigia pouca habilidade, atenção, não
tinha obrigações e exigências de tomada de decisão, e se o serviço fosse mal
feito dava para corrigir. O serviço exigia somente de apertar o botão e colocar
algumas folhas de papel quando houvesse necessidade, só isso.
O escritor, frustrado pela falta de meritocracia, começa a fazer artigos
ruins, tão medíocres que o chefe o chamou para conversar sobre o ocorrido. O
escritor dá uma desculpa que é o stress e o chefe dá crédito ao escritor. Mas
na verdade o problema é a falta de motivação.
Quis, por ironia do destino, o guilhotineiro tirar sarro de um artigo
confeccionado pelo escritor, falando que fazia uma redação melhor. O escritor
não ficou aborrecido com a observação pertinente do guilhotineiro, ao
contrário, ficou tão feliz que pediu para o guilhotineiro passar por um teste,
escrevendo um artigo qualquer. Apesar dos erros de ortografia, o rapaz escreve
alguma coisa que serve para o editorial. Talvez tenha levado sorte...
O escritor leva o texto para o chefe e pergunta se gosta do trabalho. O
chefe responde que sim, e o escritor diz que é do guilhotineiro o texto e que
seria tranqüila a substituição do escritor pelo guilhotineiro e vice e versa.
O chefe da editora faz a troca, como se a troca não tivesse efeito algum,
coloca o guilhotineiro para ser um medíocre escritor, enquanto o escritor até
então vira guilhotineiro da repartição.
Hoje o ex-escritor é guilhotineiro, está feliz em trabalhar sem ter
stress, enquanto o ex-guilhotineiro, que é escritor agora, se lamenta todo
santo dia por ter trocado de serviço. O ex-escritor planejou toda a mudança,
desde o início, e hoje é feliz.
Ah, o trabalho dos dois está uma porcaria, mas o trabalho mal feito do
ex-escritor - na guilhotina - pode ser corrigido, já o ex-guilhotineiro que
virou escritor leva esporro todo santo dia do chefe.
Falta meritocracia para a sociedade medíocre.
A obra Valoração Laborial de Júlio César Anjos foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em efeitoorloff.blogspot.com.
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