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Os escondidos


Por: Júlio César Anjos

Eu estou neste exato momento me escondendo das pessoas para não mostrar a minha verdadeira vida. Tento ainda resguardar um pouco da dignidade que restou.

Quieto! Não fale nada, não emita som, pois pode ser desmascarado, pego na mentira. Qualquer ruído neste momento e ruirá toda a estratégia de invisibilidade, do desaparecimento relâmpago. Ruídos ínfimos que não mostrem que uma pessoa se encontra em um determinado local. Abafe o som com um pano, estratégia perfeita!

O que fazer neste meio tempo? Que tortura! O relógio luta em não passar, o tempo relativo está mais demorado, agonia, aflição, não agüento tanta pressão, tenho que fazer alguma coisa, nem que essa coisa seja não fazer nada. Ficar parado, tão estático quanto o ponteiro do relógio parece estar.

Barulho lá fora, isso, barulho! Mais barulho abafa pequenos ruídos. Passarinho, vamos, cante mais alto; britadeira peça para o trabalhador utilizá-lo, brincar com você; crianças continuem destruindo tudo! Barulho bom é barulho ensurdecedor.

Neste momento só me resta rezar. O incomodo sentimental interno paralisa as minhas ações, depressão profunda... Preso em um quarto pequeno, sujo, fechado... O meu quarto.

Esse quarto não tem banheiro? Espere... Tenho que encontrar um recipiente, com certa rapidez, senão terei que evacuar naquele canto ali, o que seria o nível mais baixo de tudo o que aconteceu até hoje em minha vida. Achei o Pote! Preciso urinar... O Quarto está mais fedido.

Vou tentar dormir. Assim, o tempo passa ao seu modo e nada vejo além do esconderijo. Depressão, doença de merda! Não vivo e ainda tenho que passar por constrangimentos.

Não posso utilizar tecnologia, pois me empolgo e com isso emito uma risada ou qualquer onda sonora que seja recebida pelo interlocutor, mostrando que alguém está no quarto fechado. O mistério revelado, alguém está vindo aí, alguém bate na porta...

- Alguém está aí?

Eu fico em silencio....

O tempo não passa e silêncio na sala, será que eles já foram embora?

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