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Arquitetura


Por: Júlio César Anjos

A arquitetura moderna que mais me chama a atenção não são os grandes arranha céus que rasgam o cenário longínquo, e tão pouco fico atraído pela exuberância dos vários formatos das edificações elitizadas de qualquer natureza, mas o que realmente me fascina são as calçadas, estacionamentos e grandes pátios, o vazio que preenche o gosto pelo belo.

Na arquitetura menos é mais. Uma grande obra arquitetônica deve estar longe das construções próximas uma das outras para que a obra seja admirada, até porque a poluição visual das construções modernas camufla os monumentos que outrora foram vangloriados e passam despercebidos nos dias atuais, nas grandes cidades.

Ao avistar um monumento, o que mais me intriga é o espaço no entorno, mas, se tal local não possui um amplo espaço, o resultado é catastrófico, pois um local com ampla área de pátio deve condizer com a magnitude do monumento.

A rua XV, o primeiro calçadão do Brasil, é muito bonita e por si só se destaca pelo belo sistema arquitetônico, mesmo sendo uma simples calçada. A rua XV seria bela mesmo que as construções no entorno dela fossem casas ou construções de uma pavimentação só. Na verdade os prédios na rua XV asfixiam o grande tapete de concreto, embora tenha um glamour especial como se fosse uma pinguela de luxo, mesmo não tendo nenhum rio embaixo dela.

Os monumentos como parques, praças e grandes jardins possuem uma mesma sintonia: os grandes espaços com mínimas intervenções entre o concreto e a natureza. E a beleza destes monumentos não está diretamente ligada a beleza em si, mas ao fato que a harmonia do grande horizonte, sem poluição visual, faz relaxar os olhos cansados que sempre vêem paredes em todas as partes. Paredes que vão desde o lar (a residência) até o escritório do trabalho.

As férias dada aos olhos faz lembrar-me de mais dois outros locais que são saboreados pelos homens através dos grandes espaços: a praia e os campos verdejantes. E você, leitor, vai se pegar olhando bem longe em uma praia ou em grandes campos verdejantes, viajando entre os pensamentos porque não há uma parede impedindo olhar além da curta distância que lhe permite nas grandes cidades. As belas paisagens são àquelas sem uma única intervenção do homem.

O único lugar com amplo horizonte que não é amplamente cultuado pelo homem é o deserto. Mas há uma explicação: o ambiente hostil (calor, falta de água, perigos de animais peçonhentos na areia) obriga o cidadão ficar consciente a tudo que está a sua volta e inibe de obter prazer em um lindo local que a natureza proporciona.

Portanto, digo que não gosto dos prédios e as construções próximas uma das outras nas grades cidades. Deve ser por isso que a cidade dos sonhos na maioria dos filmes holywoodianos são as cidades medianas e progressistas que possuem várias casas e nenhum prédio sequer nas moradias, além dos muros de meio metro feitos de madeira. Prédio não combina em lugar nenhum, nem na praia escondendo o sol, nem nas cidades cansando a vista e muito menos próximos aos grandes monumentos.

A arquitetura perfeita, para mim, é um estacionamento vazio de um supermercado qualquer.

Licença Creative Commons
A obra Arquitetura de Júlio César Anjos foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em efeitoorloff.blogspot.com.


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