Por: Júlio César Anjos
As fagulhas dos pingos de chuva arrebentam nos vidros da ventarola,
criando um pó molhado visível àqueles que por perto ficam da janela em um dia
de chuva, e faz cair na pele à umidade que transcende a natureza de fora para
dentro de casa. Assisto ao espetáculo da natureza com a minha sobrinha nos
braços, filha que não vem da minha prole, mas provem do mesmo sangue, com a
inquietude da brincadeira de criança sustento-a para assistir também a chuva
molhar a cidade.
As centelhas das gotas da chuva molham a minha pequena menininha,
sorridente, amável e afável a todo instante. Menina traquina que alegra a vida
dos adultos - carrancudos que só pensam em trabalho e dinheiro -, e faz arte
como toda criança sadia e feliz.
É inacreditável como um sorriso de criança lançado quebra qualquer
armadura rabugenta de adulto, é o antídoto da tristeza, e o combustível para
continuar a saga da vida, o propósito que todos procuram por causa da crise
existencial. Sim, uma criança preenche os vazios do coração com a doçura da
inocência da juventude, a massa substancial de afeto que tão pressionada
explode amor e outros sentimentos bondosos.
Mas todo bônus possui um ônus e o
ponto baixo da minha sobrinha é que ela é muito teimosa, defeito tão grande que
me supera em teimosia. A
princesinha da casa é também muito agitada, gosta de fazer bagunça e de
conversar com o amigo imaginário.
Ah, a minha menininha é parceira graciosa, inventamos até mesmo três
formas de contato: Pocotó, Pulão e Afaguinho. Pocoto consiste em colocá-la em
cima dos meus ombros, segurando-a pelos braços, andando e correndo pela casa ou
quintal. Pulão é uma brincadeira em que pego a minha sobrinha e a jogo bem alto
até ela ter o friozinha na barriga e começar a rir. Já o afaguinho é um abraço
em que a coloco no colo, posiciono o rosto dela para que se encoste ao meu
ombro e começo a movimentar-me de vagar para fazê-la relaxar. São as três ações
afáveis que faço a minha sobrinha, rotinas diárias que compactuamos nas nossas
peculiaridades.
Faz 1 (uma) semana que a minha sobrinha está internada no hospital por
causa da pneumonia e sinto muita falta dela, escrevo este texto para desabafar
o que estou sentindo neste momento. Minha sobrinha já está melhor.
Será que chove?
A obra Sobrinha de Júlio César Anjos foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em efeitoorloff.blogspot.com.
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