Por: Júlio César Anjos
Um jovem com muito sonho e pouca bagagem de vida se lança ao mundo na
mesma forma que uma pena teima em viajar sob a garupa do vento, que conduz a
direção a chegar. O rapaz possui vários anseios e objetivos no cenário de visão
de mundo que somente a ele pertence, embora tal jovem queira compartilhar a
todos o mundo perfeito que condensa dentro do seu coração, ideais tão perfeitos
que chegam ser inocentes.
O Rapaz não teme a guerra, mas o repudia. A rejeição é tanta que nem
sequer se vê em um front de batalha e muito menos imagina segurando um fuzil em
nome de uma bandeira qualquer. A paz e o amor reinando ao redor das asas de
defesa da pacata vizinhança impedem enxergar o caos provocado àqueles que querem
de algum modo perturbar o ambiente que está minimamente em ordem e progresso,
no caso os próprios inimigos.
Passeando, como de costume, avista seu colega e, ao longo tempo de
conversa, explica tal posicionamento evolutivo, a tese da vida que branda aos
quatro ventos:
- Sabe, eu nunca iria para a guerra.
- E se você fosse obrigado?
- Faria de tudo para não ir.
- E se impusessem através de retaliações?
- Se eu tiver que ir, então destruirei o meu batalhão em forma de
protesto, matarei desde o cabo até o meu superior!
A exclamação é tamanha que o amigo logo para de forçar a conversa e os
dois se despedem sem muitas pretensões. A conversa de forma alguma abala a
amizade dos dois rapazes, mas garante que na teoria o jovem não irá para a
guerra e muito menos manuseará uma arma. E caso vá para a guerra, algo de ruim
poderá acontecer o convite.
Estoura mais uma guerra no oriente médio, tropas são convidadas para irem
apoiar os soldados de guerra. Eis que chega uma cartinha para o rapaz que odeia
confusão... O rapaz foi convocado para colaborar com o país. Recusa pela primeira vez.
O menino nunca lutou na vida para obter um prato de comida, sempre teve
as mordomias pomposas da classe média, sempre foi revoltado em questões bélicas,
porque acredita em alguns autores que escreveram teses que viraram fatos ao
jovem, que sempre lia os textos na confortável cama macia, dentro do quarto
aconchegante.
Mas o fato é que o cidadão iria para guerra se acreditasse na batalha,
mesmo deixando para traz o conforto que o momento da vida proporciona, embaixo
do escudo paternal. Não acredita e faz beicinho em qualquer conversa sobre o
assunto. No mesmo momento que reflete sobre a vida, Chega uma correspondência,
mas ele não vai para a guerra por vontade própria e faz do papel de convocação
um bom origami. Recusa pela segunda vez. O tempo passa...
A campainha toca na casa do indivíduo, dois homens do exército aguardam
alguém da casa atendê-los e quis o destino que o rapaz fosse o anfitrião nesta
oportunidade. Os dois fuzileiros perguntam se na residência morava um tal de
Douglas e o morador, prontamente, diz que seria ele mesmo. Os soldados pedem
para o rapaz o acompanhar, mas o jovem resiste, eis então que os homens pegam
Douglas e levam a força até o batalhão de exército. Douglas vai pra guerra nem
que seja na marra!
No batalhão a mesma rotina, aprende o básico sobre como se vestir e
arrumar o quarto em minutos e ensinam sobre respeito e hierarquia. Para o rapazote
tudo aquilo não passava de hipocrisia, arrumar a cama sendo que vai morrer na
batalha. Com a farda, a arma e a munição, o rapaz é designado para ir ao
Afeganistão.
Chegando lá, no Afeganistão, o jovem triste é hospedado em uma companhia
militar e, pelas informações, sabe que é de um pelotão pequeno, mas
estratégico. A equipe é de reconhecimento, não entra diretamente em conflito
contra os oponentes, mas possui o serviço de reconhecimento do terreno, que é
um pouco perigoso, mas menos hostil que as batalhas.
O dia começa, o grupo vai em busca de informações, há o levante e o grupo
avança ao terreno, procurando desenvolver banco de dados para uma melhor
eficiência e eficácia para ganhar as batalhas e vencer a guerra. O rapazinho
está fora do normal, não queria estar ali, tem nojo de pegar em um fuzil,
queria voltar para casa ler os livros que tanto gosta em seu confortável
quarto. Odeia o sol que queima a pele, o superior que o xinga a cada quinze
minutos e os companheiros que dão risada pelo bulling do exército.
A adrenalina aumenta, o rapaz começa a perder o controle, se desespera,
lembra das conversas com o amigo e do que mais acredita... A sanidade mental
chega ao limite, o jovem, em um momento de tormento, atira em todo o pelotão e
um membro de cada vez vai caindo morto em sua volta. Porém, um soldado, ainda
vivo, consegue golpeá-lo, mas em um movimento rápido o jovem Douglas mata o agressor que o
atacou, dando o último tiro de misericórdia, embora o jovem tenha levado um
golpe muito forte, desmaiado, mas é o único soldado vivo neste episódio.
O jovem acorda, está sedado, deitado em um leito de hospital e com uma
enfermeira o tratando de forma bem tranqüila. O jovem conversa com a enfermeira:
- Onde estou?
-Você está no hospital do exército.
- Por que não estou mais no Afeganistão?
- Você foi o único sobrevivente, teve afundamento de crânio, mas
conseguimos salvá-lo.
- E os outros da minha companhia?
- Todos mortos. Relaxa, herói.
A enfermeira sai e o rapaz fica intrigado em ser chamado de herói, pois
se lembrara da situação que na verdade o colocava como vilão. O rapaz prefere
manter em segredo, ninguém sabe mesmo da verdade.
O tempo passou e, como um herói, conseguiu facilmente virar presidente da
republica do país, com a máscara de homem que lutou com bravura no Afeganistão.
O povo do país acredita que o batalhão do rapaz foi altamente atacado pelo inimigo e só
sobrou ele para contar a história. Douglas contou estórias e a versão foi repetida mais
de 1.000 vezes até que se tornou verdade.
Mas o jovem tinha a esperança de mudar o país e deixar de torná-lo um
país hostil de guerra para tentar propagar a paz mundial, sem demagogia, mas
com atos. Acredita agora que, sendo presidente de uma nação rica, pode mudar o
mundo. Deixou de ser uma ilusão de jovem para tornar-se desejo de adulto?
No primeiro dia como presidente empossado, tem pela frente um assunto
muito importante: a guerra contra a Líbia. O presidente imediatamente fala para
o assessor acenar pela paz. O assessor olha com ar de reprovação (já fora
assessor de todos os presidentes anteriores) e, botando em jogo o emprego, diz
que não fará tal medida.
O presidente fica furioso com tal insurgência e pergunta por que o
assessor não aceitará a ordem:
- Por que não vai fazer o que estou te pedindo?
- Por que não é a decisão certa.
- como não? A paz deve reinar...
- Veja bem, a ofensiva que nós fazemos aos países ditatoriais, com
petróleo e outra cultura é muito importante para a economia do nosso país. Se
não atacarmos, o país mostra fraqueza e os atentados serão rotineiros aqui
dentro do nosso país. Na verdade, nós atacamos para nos defender, é uma atitude
proativa para que a destruição ocorra em outras localidades e que tudo fique em
paz em todo o nosso território, até mesmo na sua cidade confortável, que você
podia ser radical e revoltado.
O assessor com uma só conversa mostrou toda a verdade ao jovem que virou
presidente por causa de um momento de insanidade. O presidente acena
negativamente com a cabeça, se encosta-se à cadeira e, com ar de frustração,
confessa ao assessor o ocorrido:
- Eu não posso ser presidente.
- Por que não? Você é um herói!
- Não sou herói. Eu matei todo o pelotão da minha equipe por causa de uma
crença cega, mal sabia dos bastidores e agora veio o choque de realidade (aqui
relata todo o episódio). Chame a imprensa que pedirei destituição.
Com tal informação, o assessor fica perplexo, pensa um pouco e aconselha
o presidente em crise de identidade:
- Eu estou arrasado, perplexo e até com raiva de você, mas entendo que
agora não é hora de destituição alguma, pois a nação precisava de um herói e
você apareceu em cena como uma espécie de profeta que salvará a terra perdida. Não
conte nada para imprensa, será nosso segredo, isso nunca existiu e daqui pra
frente você comandará a nação pela razão sobreposta à emoção.
O presidente bate o carimbo, assina o papel e diz:
- Pode atacar a líbia!
E a cidade continua pacata porque foram brincar de guerra em outras
terras, mantendo em segurança a cidade progressista e em ordem.
A obra Desilusão de Júlio César Anjos foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em efeitoorloff.blogspot.com.
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