Pular para o conteúdo principal

Paraná Clube - O Curioso caso de Benjamin Button do futebol


Por: Júlio César Anjos

O Paraná Clube é uma instituição perfeita para explicar cases nas faculdades por aí, porque é o exemplo do fracasso administrativo consecutivo que torna um clube gigante em um anão, “O Curioso Caso de Benjamin Button” da vida real.

O Paraná Clube nasceu gigante, mas está a cada dia em processo de nanismo no futebol nacional. O clube Paranaense tinha muito dinheiro no seu nascimento, um novo rico que emergia através das fusões de dois clubes médios no cenário regional e que desempenharam a alavanca de um clube montado em recursos financeiros, com facilidades em contratar profissionais qualificados que buscavam sempre a vitória. Mas o tempo foi mudando e o Paraná Clube foi perdendo as receitas lentamente, na mesma letargia que nada fazia para sair do cenário de "Status Quo" fracassado que surgia.

A primeira perda significativa de verba foi através da canetada proibindo bingos e jogos de azar. O Paraná Clube, na Kennedy, tinha um salão de jogos de causar inveja a muitas casas de bingo no Brasil e não era binguinho de igreja não, era um bingo que saia semanalmente carros zeros e barras de ouro. Após a canetada, ao invés de abrir outra empresa vaca leiteira (adm. estratégica), para substituir o negócio anterior falido forçosamente por questões legais, aceitou a redução de recurso financeiro, pois tinha outras fontes de receita ou outras vacas leiteiras.

O segundo golpe foi causado pelos fatores “ameaça de novos entrantes” e “concorrentes indiretos”, já que novas empresas de piscina começaram a pipocar, como, por exemplo, o Clube Cultural e afins. Os condomínios também resolveram aglutinar piscinas dentro dos conjuntos habitacionais. Reduziu mais um pouco a receita na fonte que o tricolor tinha pela associação olímpica e, ao invés de diversificar o portfólio, preferiu vender patrimônio para fechar as contas, a solução mais cômoda no momento. Hoje o terreno vendido pelo BIG está somente na linha verde e possui um valor financeiro muito alto, valor esse que amortizaria boa parte das dívidas do clube hoje.

A terceira paulada foi a recusa da entrada no C13 quando a união estava ainda no sistema embrionário. O C13 cresceu, os clubes começaram a receber valores astronômicos e o Paraná Clube ficou para trás dos concorrentes, pois não fazia parte do clubinho. Uma variável econômica que o Paraná não acompanhou.

Teve mais uma porrada também (essa foi de leve), a lei Pelé na época arrebentou o Paraná Clube, que era um clube formador de atletas. A vazão de jogadores da base fez o Paraná chegar a ter que fazer a troca de direito federativo por comida aos jovens atletas.

Em resumo: o Paraná Clube, na época do nascimento, possuía recursos oriundos de quadro olímpico de 40.000 (quarenta mil) sócios, bingo (e jogatinas), e também levava vantagem porque na época não tinha C13 e as cotas milionárias como acontecem hoje.

Por fim, a torcida abandonou o clube, embora o Paraná nunca tenha de fato mostrado uma força gigantesca de torcida, mas a verdade é que receita de bilheteria é o último ativo de qualquer clube, perdendo até mesmo para patrocínios de camisa.

Some tudo isso que já foi citado, adicione pessoas sugando o clube, em erros jurídicos causados de propósito para rever um valor alto por motivos escusos, e chegaremos à situação em que o Paraná vive hoje. Nada é por acaso e a morte foi anunciada.
  
Atual conjuntura
  
A autofagia que ocorreu nas décadas anteriores corroeu o sistema ativo do clube, tornando mais um time zumbi por aí, trilhando caminhos sem muitas pretensões aonde quer chegar. E oxidar a parte vívida financeira do clube é tão nocivo quanto uma indústria deixar de produzir, por exemplo, para viver dos lucros dos anos anteriores. Não é sustentável.

Hoje, com a inflação no mercado futebolístico, os players do futebol estão conduzindo uma seleção natural através do canibalismo entre os clubes ligados a séries A. B, C e etc. Não há dúvida que alguns clubes ditos tradicionais do certame nacional serão apenas contos folclóricos nos anos vindouros, sumindo como um fantasma que apareceu brevemente para assombrar alguns times maiores em um determinado período de tempo.

O irônico de tudo isso é que os players do futebol possuem a nostalgia dos anos 60, em que era vitória um clube médio ou pequeno empatar ou perder de pouco. Sob o clima saudosista da dificuldade em conseguir desvencilhar do sistema selvagem e bruto do capitalismo futebolístico, clubes menores hoje serão meros sparring dos esquadrões da mídia, da massa popular e da tradição social/financeira.

Licença Creative Commons
Paraná Clube - O Curioso caso de Benjamin Button do futebol de Júlio César Anjos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
Based on a work at efeitoorloff.blogspot.com.


Comentários