Por: Júlio César Anjos
Já citava Jaime Lerner - não nestas mesmas palavras - no livro Acupuntura Urbana sobre o shopping, que se vendarem os olhos de uma pessoa e colocá-la dentro de um shopping, em qualquer cidade do Brasil, o cidadão não saberia em que cidade estaria, pois todos os shoppings são iguais por dentro. A mais pura verdade.
O shopping tenta primar pelo conforto. Mas, apesar de toda a instrumentação que o shopping possui por dentro, mesmo assim um shopping não consegue ser confortável. Há poluição sonora, já que são muitas pessoas circulando em um mesmo ambiente e emitindo muito som, o que faz o local ser desapropriado para relaxar.
Outro problema é a poluição visual, já que, mesmo o local sendo espaçoso, as disposições das lojas tornam o estabelecimento um local apertado e tudo fica bem próximo aos olhos; sem falar nas luzes cênicas dentro das lojas para atrair os consumidores, na mesma maneira que uma lâmpada na rua atrai insetos. É de propósito.
As pessoas sofrem transformações no shopping na mesma maneira que uma indústria processa uma matéria prima. O indivíduo entra no estabelecimento (input), transforma o dinheiro em produto de consumo (processamento), e sai cheio de sacolas do shopping (output). Na minha visão simplista o cidadão entra com o bolso cheio (dinheiro) e a mão vazia (sacola na mão); e sai com o bolso vazio e a mão cheia.
Acabou o sabor da compra, em que o consumidor vai até o estabelecimento, escolhe tranquilamente um produto, fala com o vendedor – criando vínculo até de amizade -, criando fidelidade no estabelecimento próximo de casa. Hoje, o consumidor vai até o fim do mundo comprar no shopping um produto que previamente já pesquisou na internet (isso se não comprou pela internet), e compra sem ter um vínculo especial ao local de compra.
Se alguém me convidar para passear e falar que o local dedicado para descontrair é em um shopping, eu respeitosamente digo que não, sem dar maiores explicações. Mas o fato é que shopping não é passeio. Passeio, para mim, é ir ao parque, à praia, a uma festa de família, ou seja, não ficar enclausurado em uma máquina que pressiona somente o consumo.
E tenho dito!
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