Por: Júlio César Anjos
“Não quero, não devo, não posso”, essa foi a frase dita constantemente pelo senhor José Dirceu no programa roda Viva, exibido no dia 1º de novembro de 2010.
O programa Roda Viva é uma sabatina que os jornalistas de outras mídias fazem ao convidado, que fica no meio do palco do programa, sendo perguntando sobre assuntos de conhecimento do entrevistado. É um programa bem elaborado, para um público seleto e essa ferramenta pode influenciar o telespectador, pois há muitas cabeças pensantes neste conteúdo.
O José Dirceu foi sabatinado pela Marília Gabriela, Guilherme Fiúza (revista Época), Paulo Moreira Leite e Augusto Nunes. Pois bem, os profissionais convidados são bons, mas deveriam ser ótimos pela complexidade do sabatinado. O Sabatinado – José Dirceu – é um lobbysta (embora não aceite o termo pelo motivo de ser pejorativo no Brasil) conceituado e com certeza o entrevistado da noite foi para o programa de TV muito bem preparado.
A primeira preparação favorável a Dirceu foi do terreno. Os entrevistadores não eram críticos ferrenhos, que fazem uma devassa na vida pública dos políticos, como a Folha e a Veja, por exemplo, mostrando que os verdadeiros entendedores do assunto não estavam representados naquele debate. O programa também trouxe trouxe jornalistas de esquerda, como o indicado da Carta capital. A segunda preparação favorável ao ao lobista do PT foi a data, pois ocorreu Há um dia após a vitória da Dilma na eleição presidencial. A terceira preparação foi a sobre o conteúdo da puta e, infelizmente, a falta dela. O entrevistado estava muito bem preparado, enquanto os jornalistas nem sabiam o que faziam ali.
Dirceu foi ao programa mostrar que é um homem sério, correto, e que tudo que falaram até agora sobre mensalão e o seu envolvimento desvirtuado era mentira, porque, como sempre, o vencedor conta a história.
Já dizia o grande autor Sun Tzu sobre o Livro A arte da guerra:
Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você conhece a si mesmo, mas não o inimigo, para cada vitória conquistada, você também sofrerá uma derrota.
José Dirceu conhecia os “inimigos” e tanto é verdade que proferiu diversas vezes “está nos autos, é só ler” (quanto aos escândalos do mensalão), mostrando a incapacidade dos jornalistas por não terem o conhecido nos autos, ou seja, por não pesquisarem sobre o perfil escrito pelos autos. Os jornalista também não recorreram a nenhuma pergunta fora do script, fazendo as perguntas que qualquer pessoa comum faria, mostrando a fragilidade na hora de botar em xeque o entrevistado. Como bom advogado, se defendeu dizendo que há presunção de inocência e falta do transito em julgado, deixando a decisão para o STF. Como político preferiu defender-se ao ser questionado se exerceria algum cargo comissionado do Governo, repetindo inúmeras vezes: “Não quero, não devo, não posso”.
As pessoas comuns passariam batido nesta frase, mas os olhos clínicos de quem já viu muitas coisas sentenciará que essa simples frase significa mais do que a negativa de três verbos. Não quero, não devo e não posso faz parte das citações que o Cortella (filosofo reconhecido) profere para explicar o princípio da ética em uma forma mais lúdica.
Segundo Cortella, em respeito à ética:
A única coisa que garante a nossa capacidade de lidar com dilemas éticos, cuja resposta seja autêntica, é a nossa integridade. O que é o dilema? É a dificuldade de responder às três grandes questões da vida humana: “Quero?”, “Devo?”, “Posso?”. Há coisas que eu quero, mas não devo; há coisas que eu devo, mas não posso; há coisas que eu posso, mas não quero.
Portanto, Dirceu para defender-se de forma direta e indireta (por meio subliminar) se mostrou ético na conduta como político.
O vencedor conta a história que quiser. José Dirceu – O Ético!
José Dirceu – O Ético! de Júlio César Anjos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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