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Na democracia, o sol poente é o sino do toque de recolher.

Por: Júlio César Anjos

Nas grandes cidades do Brasil as pessoas, aquelas que ficam em suas redomas enclausuradas atrás da sensação de segurança, já não sabem mais diferenciar um cano de escape furado de moto para um disparo de arma de fogo na rua, que, em muitas vezes, é mal iluminada.

A esperança venceu o medo e o medo venceu a segurança, mostrando que o sistema democrático já não cabe mais como poder do povo - a não ser que o povo goste da tragédia, do crime, da violência – e os mecanismos de salvaguarda da vida já não resolvem mais.

O estado busca somente medidas paliativas para manter a “sensação de segurança” ao invés de tornar verdadeira a segurança. Hoje há estados dentro de estados, instituições informais que nascem por causa da incapacidade do Estado formal criar e manter uma estrutura para o bem do povo. Muda para pior ou permanece igual, mas melhoria não se vê em lugar algum.

No Brasil uma das bandeiras da democracia é o direito de votar obrigatório e não um dever cívico constituído como direito, ou seja, faz a democracia através de exigência, cobrança e não dá a liberdade para o povo decidir votar ou não (caso do voto facultativo). Já que o estado é democrático de direito, então que permita o povo ter a liberdade de escolha entre querer votar ou não.

A liberdade no Brasil é amputada por direitos e deveres que em sua maioria não funcionam e os poucos que são implantados funcionam mal. Um boletim de ocorrência demora a ser protocolado, as cadeias estão com a capacidade esgotada, a criminalidade só aumenta e a sociedade vai perdendo a ética, a moral e os bons costumes, que antes possuíam, por causa da tal democracia.

Quando o sol se põe parece que há um sino de toque de recolher, criando outro mundo em que quase tudo pode acontecer. A sensação que eu tenho é que existem dois sistemas, o sistema comercial que – mesmo com violência durante o dia – está estável em relação à criminalidade e o cair da noite, um outro sistema que parece terra sem lei. Na noite aumenta a taxa de homicídios, furto, seqüestro e por aí vai...

O receio de que posso ser assaltado ou que outra situação ruim pode vir a acontecer comigo faz com que eu entre na bolha da minha casa, achando que estou seguro em um artefato feito de concreto, tijolo, areia e um pouco de ferro que se chama parede. Um simples martelo derruba o meu “forte”. Mas na minha cabeça, a minha casa me defende.

As estatísticas comprovam que se você não foi assaltado, então muito provavelmente você será o próximo a ser roubado, pois a violência só aumenta e você é um sortudo em não ter vivenciado este problema ainda. Só espero que quando aconteça o assalto o bandido não seja rude com você, porque aumenta a tensão de quem está sendo assaltado. Já tive casos que conversei com o assaltante e parecia mais um “serviço” do que um roubo.

Acredito que não haverá uma mudança no Brasil sobre a violência em curto prazo e já estou desanimando de ter esperança no longo prazo. As pessoas não entendem que esse cenário quase de guerra civil que se encontra, em alguns lugares do Brasil, é conseqüência de um conjunto de fatores que passam desde a falta de cobrança de um serviço digno no bairro em que mora até o erro grave de não saber votar direito. A falta de movimentação e a inércia do povo criam dentro da democracia um monstro que depois o próprio povo não conseguirá domá-lo.

O sol está se pondo e é melhor eu ir para a casa.

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Na democracia, o sol poente é o sino do toque de recolher. de Júlio César Anjos é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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